Como é o seu processo criativo?
Todas as minhas séries começam por uma espécie de queda ou mergulho em direção a qualquer coisa que sinto e precisa de ser exteriorizada. É importante para mim saber porque é que vou pintar, mais do que saber o que vou pintar. Depois disso, procuro imagens e referências como quem procura aprender palavras na sua própria língua. Gosto de saber o que já foi feito e que vou trazer algo de novo. A pintura é um processo bastante demorado e que se torna difícil de balançar com o ritmo dos dias que correm. A pintura exige paciência e calma, pelo que se desenvolve num mundo paralelo ao dia a dia em que vivemos.
O que nasce primeiro: a ideia ou a pintura?
Até pintar a série “Flowers For my Grief” (2023-2024), diria que a ideia surgia primeiro. Ou, pelo menos, em grande parte das obras anteriores a esta série, tinha planeado várias etapas da pintura, como os diferentes layers e o lugar exato onde ficava cada elemento. Pintar flores trouxe-me outra liberdade em relação à pintura: a mão solta e livre de referências. Acredito que pintar a Natureza é algo que nos é intrínseco, de alguma forma. Explorar os limites da representação de uma flor abriu-me completamente um novo leque de métodos possíveis para a criação, seja dentro de que temática for.
Que mensagem e símbolos são recorrentes nos seus trabalhos?
Luzes, sombras, objetos e nuvens… Na última série, as flores. Independente da temática, existe uma ligação entre o abstrato e o figurativo, o real e o surreal. Em 2022, estava obcecada com nuvens e o seu simbolismo: o desapego, a independência, a impermanência. Antes disso, em 2021, as cadeiras: objeto que associo a um apelo à calma. 2023 foi um ano de luto emocional e, por isso, surgiram as flores.
Quais as cores que mais utilizada?
O azul, verde e roxo. São cores frias e criam a sensação de distância que procuro na pintura. Durante a inauguração de “Through the Forest Have I Gone” disseram-me que as minhas obras lembravam um sonho e quem as via não sabia bem onde é que estava. É precisamente essa ideia que quero para as minhas imagens.
De onde vem a inspiração?
Encontro ideias em quase tudo o que vejo. Acredito que, se procurar bem, encontro sempre algo novo: um enquadramento, reflexo, detalhe de um objeto… Para mim, a pintura começa precisamente no procurar do dia a dia: parte de uma inquietação que não nos permite aceitar só o primeiro plano que o nosso olhar nos oferece e, por isso, continuar sempre a procurar.
O que gostaria de ter feito e ainda não fez?
A nível profissional, viver em Nova Iorque é o meu próximo objetivo. Já sei, tem tudo de mau, mas a luz é maravilhosa e preciso de me mudar para lá, seja por um curto ou longo espaço de tempo. Veremos…
Próximos projetos…
Comecei recentemente a trabalhar com o estúdio-galeria Garcé & Dimofski e vai haver novidades no final deste ano.
FOTOS: Michelle Martin