Imaginou-se educadora de infância, de modo a passar os dias rodeada de crianças, mas acabou por estudar Marketing e Publicidade. Foi copywriter em várias agências e actualmente é supervisora criativa na Ogilvy&Mather. Em 2002 decide juntar três das coisas que mais gosta na vida: viagens, crianças e escrever. E assim nasceram os Saltinhos, uma colecção de livros infantis sobre cidades e regiões. Aos 43 anos tem já 13 livros publicados, alguns presentes no Plano Nacional de Leitura. Neste momento, tem nas livrarias Histórias Escritas na Cara – Cada Avó é um Livro de Contos.Isabel Zambujal é conhecida entre os amigos pelo sorriso pronto e pelas suas qualidades de anfitriã, características que a filha Maria, de 12 anos, lhe reconhece. A CARAS esteve na casa da publicitária e escritora e não podia estar mais de acordo: fomos muito bem recebidos numa casa grande, feita de criatividade, onde estava também o pai, o jornalista e escritor Mário Zambujal, com quem Isabel sente estar cada vez mais parecida. "O meu pai é muito despistado e eu vivo cada vez mais na lua", justifica. "Herdei do meu pai o sentido de humor e o prazer pela escrita. Acho que estou cada vez mais parecida com ele: é muito despistado e eu vivo cada vez mais na lua." – Quis ser educadora de infância, mas acabou por se tornar publicitária e escritora…Isabel Zambujal – Educadora de infância é uma profissão que junta duas coisas que me atraem: criatividade e crianças. Acabei por vir a ser criativa numa agência de publicidade e de ter contacto com as crianças através dos livros. Foi a melhor opção. – Mobilou esta casa de forma muito curiosa. De onde vieram as peças?- Das lojas de velharias, dos passeios das ruas de Lisboa e ainda de heranças de amigos e de familiares. Tenho uma casa grande, toda a tralha vem aqui parar. – Vejo que faz colecção de máquinas de escrever e de globos terrestres. Como começou?- Sempre disse que não gostava de colecções, que eram mais uma obrigação, mas os objectos começaram a vir ter comigo. Apaixonei-me pelos globos por causa da colecção Saltinhos e, quando comecei a ter livros publicados, começaram a oferecer-me máquinas de escrever de várias épocas. Tanto uns como outros eram objectos tão bonitos que acabei a coleccioná-los. E ainda há as canecas de louça antigas para bebés! "Sempre disse que não gostava de colecções, que eram mais uma obrigação, mas os objectos começaram a vir ter comigo." – Que características herdou dos seus pais?- Do meu pai, herdei o sentido de humor e o prazer pela escrita, da minha mãe, [Maria Gomes] a força e o sentido prático. Mas acho que estou cada vez mais parecida com o meu pai, para o bem e para o mal. O meu pai é muito despistado e eu vivo cada vez mais na lua. – Numa anterior entrevista à CARAS, explicava: "Não somos a família de almoço sempre ao domingo ou de termos de nos encontrar naquele dia. Se algum não está presente no dia de aniversário, ninguém fica ofendido, todos nos respeitamos." Mesmo assim, na família, quem é o mais tradicional?- Na minha família somos todos tradicionais em termos de valores, nos hábitos ou formas de estar é que fugimos às regras preestabelecidas. – Sei que gostam de se juntar num monte, perto de Alcoutim. O que encontram lá de especial?- O tempo anda mais devagar, as estrelas brilham mais, o pão chega numa carrinha a apitar, e ainda há o rio, as árvores e tantas outras coisas simples que são verdadeiros luxos para quem vive o stresse de uma agência de publicidade… "O amor é um nó difícil de desatar, mas onde as pessoas se sentem livres como se fosse um laço." – Continua a dar mais importância aos momentos do que às coisas?- Os momentos guardamos na nossa memória, as coisas acabamos por enfiá-las em sacos de plástico. – É também um "animal social" como o seu pai, que gosta do convívio e das pessoas?- Confesso que sim, mas cada vez mais preciso de conviver com a minha pessoa. – Por que escolheu escrever histórias para crianças e não para adultos?- Escrever para crianças pode ser uma forma adulta de escrever. Tenho algumas ideias, mas vamos ver para onde a caneta ou o teclado do computador me levam. – Qual é a maneira apropriada de nos dirigirmos em livro às crianças?- Da mesma forma que convivemos com elas: com ternura, humor e tentando abrir-lhes os olhos para os valores importantes. "Os momentos guardamos na nossa memória, as coisas acabamos por enfiá-las em sacos de plástico." – O seu último livro chama-se Histórias Escritas na Cara – Cada Avó é um Livro de Contos. Fale-me do subtítulo.- Cada avó tem muitas histórias para contar, o livro diz que estão escritas nos seus rostos por rugas, sinais e até cicatrizes. – Acha que já conseguiu fidelizar pequenos leitores?- O livro A Menina que Sorria a Dormir entrou no Plano Nacional de Leitura e teve uma grande aceitação nas escolas. Professores e alunos pediam, muitas vezes, para eu escrever outro conto. Espero que este tenha a mesma aceitação. – A Maria é uma leitora fiel dos seus livros?- A Maria tem fases em que vive agarrada aos livros e outras mais desinteressada. Em relação aos meus, é muito crítica e passa tudo a pente fino. Só depois elogia. "Em relação aos meus livros, a Maria é muito crítica e passa tudo a pente fino. Só depois elogia." – Como é a vossa relação de mãe e filha?- Muito próxima e verdadeira. Uma boa troca: ensinamos imenso uma à outra. – Pensa ter mais um filho ou fica por aqui?- Aprendi que as coisas raramente são como nós as pensamos. Com 43 anos, é provável que não venha a ter mais filhos, só aqueles em papel e com capa dura. Para quem escreve, os livros são verdadeiros filhos: também saem cá de dentro e às vezes até com partos bem difíceis. – Vê o amor como um nó ou descrevêlo-ia como um laço?- É como um nó difícil de desatar, mas onde as pessoas se sentem livres como se fosse um laço. – Concorda que já não se escrevem cartas de amor?- Claro que se escrevem. O correio é que é diferente, já não precisamos de selos.