Juntos há oito anos e casados desde Julho de 2002, Adelaide de Sousa, de 39 anos, e Tracy Richardson, de 47, preparam-se para iniciar uma nova fase de vida, para a qual até agora não se sentiam preparados. Nas entrevistas que deram ao longo dos últimos anos, a apresentadora e o fotógrafo norte-americano sempre afirmaram com convicção que não estava nos seus planos serem pais. O receio de perderem a sua liberdade, o seu espaço e os seus horários levaram-nos a adiar a decisão de terem um filho e ainda hoje confessam sentir-se um pouco assustados com o peso de tamanha responsabilidade.Numa entrevista sincera, a actriz e apresentadora do programa Mundo das Mulheres, da SIC Mulher, revela os motivos que a levaram a mudar de atitude, fala das primeiras emoções que viveu quando confirmou a gravidez e explica por que optaram por não fazer a amniocentese, mesmo tendo consciência de que se trata de uma gravidez de algum risco. Grávida de três meses, Adelaide soube há poucos dias que vai ser mãe de um menino. Só falta escolher o nome do bebé e, tendo em conta que as sugestões de ambos divergem, a decisão poderá só ser tomada após o nascimento… "Não fazia sentido fazer esse exame sabendo que tem um risco de aborto espontâneo considerável." – Sempre asseguraram que não estavam preparados para ser pais. O que é que mudou entretanto?Adelaide de Sousa – Acho que foi uma questão de tempo e também porque cheguei à conclusão de que essa minha postura poderia ter que ver com medos e inseguranças e que, se calhar, valeria a pena tentar olhar para a perspectiva da maternidade de outra maneira. Foi esse o exercício que fiz nos últimos seis meses, durante os quais me dispus a que pudesse acontecer uma gravidez. Não andei em consultas de fertilidade, mas, efectivamente, aconteceu muito mais cedo do que eu pensava. Foi uma grande surpresa e um choque para nós, mas como já se passaram três meses, estou mais reconciliada com a ideia de que a minha vida vai mudar completamente. – Era isso que a impedia de ter filhos, o receio da mudança?- Sim, porque sei que os pais têm de se adaptar de forma radical às grandes mudanças que as crianças trazem. Eu não estava disposta a trocar aquilo que tinha em termos de liberdade, de segurança e também de preocupações que não se me apresentavam por não ter filhos, e sentir-me muito mais autorizada a arriscar determinadas coisas que provavelmente não arriscaria se tivesse filhos. Foi por isso que evitei durante muito tempo ter filhos, porque tinha consciência de que emocionalmente não estava preparada, que ia ser um enorme desafio. "Quando vi o resultado [do teste de gravidez] chorei de desespero! Foi um grande choque." – E vai, de facto, ser um enorme desafio…- Vai ser, mas entretanto mudei a minha mentalidade. Nem sequer sei se este será o último, porque a minha postura nestas coisas é o que acontecer, aconteceu. Portanto, não mudou nada na minha vida em concreto: não tenho mais segurança em termos económicos ou profissionais do que tinha antes… Foi mesmo a minha atitude que mudou. – Chorou quando viu o resultado do teste?- Chorei de desespero! Como é que isto me aconteceu tão depressa, sem estar à espera? Foi um grande choque e foi um dia muito complicado para mim, mas, depois, conforme me ia capacitando do que estava a acontecer, de todas as modificações que estava a sentir no meu corpo e do que isso implicava, foi-se instalando muita felicidade em relação à perspectiva de um mundo novo que ainda desconheço e que tem muito que ver com altruísmo, com dar sem esperar nada em troca… – E o Tracy, como reagiu?- Ele reagiu muito melhor que eu. Ficou logo muito contente, o que também me ajudou a encarar de outra maneira o que tinha acontecido. – Optou por esperar pela ecografia das 12 semanas para confirmar a gravidez…- Sim, porque nos primeiros três meses a hipótese de aborto espontâneo é muito mais elevada, e seria irresponsabilidade da minha parte confirmar uma gravidez, porque se acontecesse alguma coisa, ia ter de falar publicamente da minha perda, e não ia sujeitar-me a uma coisas dessas. "A minha mãe tem 80 anos, seria complicado ela viajar. Vamos mandar fotos e falamos pela ‘webcam’." (Tracy) – Sendo considerada uma gravidez de risco, vai fazer a amniocentese?- Não. É um exame facultativo que só faz sentido fazer se as grávidas estiverem a pensar interromper a gravidez no caso de serem detectadas malformações. Quando discutimos esse assunto, chegámos à conclusão de que não iríamos fazer nenhuma interrupção da gravidez, independentemente de como o bebé esteja, seja ou venha a ser. Por isso, não fazia sentido fazer um exame que tem um risco de aborto espontâneo considerável. – A decisão também deve estar relacionada com a vossa fé…- Há coisas da nossa vida que estão fora do nosso controlo, e acredito que se me dispus a ser mãe, não faz sentido pôr condições. Além disso, já foram muitas mulheres ao meu programa que tiveram filhos com deficiências de vários graus e de várias naturezas com as quais aprendi que não há razão nenhuma para ter medo. Claro que todas as pessoas querem ter filhos que sejam felizes para sempre e que nunca tenham problemas na vida, que sejam livres de qualquer tipo de impedimento em serem quem querem ser, quando quiserem ser, e nós sabemos que a deficiência pode ser um grande obstáculo para esse tipo de concretizações. Por isso, não desejo que isso aconteça, mas encaro essa possibilidade com a noção de que não é a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa. Sendo assim, não faz sentido sermos nós a carregar nos nossos ombros, enquanto casal, a responsabilidade de terminar uma vida. Eu não conseguiria tomar essa decisão de vida ou de morte. Seria extremamente danoso para o meu bem-estar psicológico e emocional. "Ainda não consigo imaginar o que é ter uma criança comigo o tempo todo, que depende de nós para quase tudo." – E o sexo do bebé, é-lhe indiferente?- [risos] Posso dizer que é um menino! Soubemos no dia 29.Tracy – Para mim não fazia diferença nenhuma, mas estive sempre convencido de que era uma menina. Agora que sei que é um rapaz, estou feliz, porque todas as pessoas que conheço que têm filhas me dizem o mesmo: elas são doces e meigas com os pais até terem 12 anos. Nessa altura, começam a ficar doidas com os rapazes, e os pais acabam carecas ou com o cabelo grisalho por andarem sempre preocupados com os namorados delas… e eu não me apetece nada chegar aos 60 anos e ter de andar a perseguir uma filha. – Consegue imaginar a sua vida daqui a uns meses, quando o bebé já tiver nascido?Adelaide – Há um bloqueio qualquer em relação a isso, e não consigo ver o futuro para lá do nascimento. Não consigo imaginar o que é ter uma criança comigo o tempo todo, que depende de nós para quase tudo. Julgo que vou ter que ter muita calma comigo mesma, dar um passo de cada vez, de forma a que me permita adaptar à nova situação sem estar a projectar muito o futuro.