Estreou-se no Parque Mayer com 16 anos, pela mão de
Vasco Morgado, e hoje, aos 65 anos,
Delfina Cruz é uma das atrizes mais conceituadas da televisão portuguesa. Habituada a ser reconhecida na rua desde muito cedo, Delfina garante que no início da sua carreira as manifestações dos fãs eram muito maiores e que tem algumas saudades desses tempos.
Terminadas as gravações da novela da TVI
Mar de Paixão, a atriz tem aproveitado todos os momentos para estar junto da filha,
Maria Custódia Amaral, fruto do seu casamento de 32 anos com
José Pinto Amaral, e do neto,
Bernardo, de 18 anos.
Foi sobre as décadas de carreira, a forma como encarou a morte do marido e como tem lidado com a solidão que a atriz conversou com a CARAS.
– Passados tantos anos, a sua profissão continua a ser a sua grande paixão?
Delfina Cruz – É a minha paixão desde os 11 anos e com 16 fui à luta. Vi um anúncio de figuração para cinema que me levou ao teatro e foi onde conheci o Vasco Morgado.
– Os seus pais aceitaram de imediato a sua escolha?
– Nem pensar, sou proveniente de uma família muito conservadora, em especial a minha mãe. Com o passar dos anos, e ao ver o meu sucesso, foi aceitando, mas a princípio chorou muito.
– Tem saudades dessa época?
– Tenho saudades das palmas, do meu público, que seguia bastante o meu trabalho e me acarinhava muito. Não tenho saudades da competição, nem das alturas em que fui prejudicada por outros colegas.
– Com uma vida profissional tão ativa, foi conseguindo ser uma mãe e avó presentes?
– Sou uma avó mais presente do que fui enquanto mãe, pois na altura em que a minha filha era pequena eu fazia muito teatro. Enquanto avó, gostaria de o ser ainda mais, pois o meu neto, apesar de muito carinhoso, é muito cioso do seu espaço. Mas sou uma mãe demasiado preocupada.
– Perdeu o seu marido há oito anos. Como é que se aprende a viver com a saudade?
– Fica sempre uma ferida, uma saudade muito grande, mas sou uma mulher solitária. O meu trabalho e a minha filha ajudaram-me a encarar a minha viuvez.
– E nunca pensou refazer a sua vida?
– Não, porque ainda não apareceu a pessoa por quem acho que me deveria apaixonar. Sou uma mulher de 65 anos e agora não posso apaixonar-me facilmente, até porque tenho muito medo do ridículo. Apetece-me viver a vida, divertir-me, rir e viajar… Quando tiver de aparecer alguém com os mesmos gostos que eu, que goste de teatro, cinema, museus, de ler e com quem haja uma grande cumplicidade… Se não for assim, prefiro estar sozinha. Gosto muito do meu espaço e adoro viver só.
– Como é que lida com a idade?
– Muito bem. Não tenho medo de envelhecer, embora tenha muitos cuidados. Lido habitualmente com imagens minhas em nova e com plumas… Adoro. Tinha imensos pretendentes. [risos]
– É uma pessoa disciplinada?
– Muito, até demais. A nível de trabalho e de quotidiano, sou muito disciplinada, embora ache que uma pontinha de loucura também faz bem. Mas também já tive algumas. [risos] Julgo que tenho sido bastante generosa na minha profissão, sou uma mulher tolerante, bondosa e um ser humano mais ou menos decente. Não gosto de viver o passado e nem sequer quero pensar no futuro. Agora só quero viver o presente.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.