Sandra Faleiro, de 39 anos, sempre
soube que seria artista. Apaixonada pelo bailado, pelo teatro e pela pintura,
foi a vida que acabou por levá-la até aos palcos, estreando-se como atriz em
1988, na peça A Rua. Mais de duas décadas depois, a atriz e encenadora
conquistou um lugar de destaque na representação e venceu este ano o Globo de
Ouro de Melhor Atriz de Teatro pelo desempenho na peça Quem Tem Medo de
Virgina Woolf?.
Se no campo profissional Sandra é uma mulher realizada, o mesmo acontece na sua
vida privada. Casada há sete anos com o ator e encenador Bruno Bravo, e
mãe de Beatriz, de 12 anos, que nasceu de uma anterior relação, e de
João, de quatro, a atriz garante que a sua casa é o palco que a faz mais
feliz.
– Como é que a representação entra na sua vida?
Sandra Faleiro – Sempre quis ser artista. Já em miúda gostava de
pintura, de bailado e de teatro. Com 19 anos, fui para o conservatório, e até
essa altura estive dividida entre o teatro e a pintura. Mas, como já trabalhava
na área da representação, a minha escolha acabou por ser natural. Agora
continuo a pintar em casa. Pinto, faço escultura, desenho…
– A sua personalidade acabou por ser muito influenciada por esta sua paixão
pelas artes?
– Foi. Em miúda era muito tímida, gaguejava um bocadinho e tinha dificuldades
de comunicação. E o teatro ajudou-me a desabrochar e a comunicar melhor. Fui
uma privilegiada, porque este contacto com as artes faz-nos pensar. Por isso é
que acho que todos deveriam ter aulas de representação. Crescer pode ser muito
violento e difícil e o teatro ajuda a catalisar emoções que de outra forma
ficam fechadas em nós. Desde o ano passado que trabalho com um grupo amador de
teatro e é maravilhoso ver as mudanças que se operam naquelas pessoas, que são
professores, psicólogos, advogados…
– Então, para si, o palco acaba por ser uma terapia…
– Sim, o palco e a vida. Eu estou sempre a aprender, a pôr as coisas em causa.
Crescer bem dá muito trabalho. Quando estamos a fazer uma peça, analisamos as
pessoas e a sociedade, e mesmo fora do palco faço isso. Faz parte da minha
personalidade.
– Acredito que essa atitude de permanente análise dê muito trabalho e traga
algumas desilusões. Como lida com as frustrações?
– Todos temos de viver com frustrações. A melhor educação que posso dar aos
meus filhos é ensiná-los a aprenderem a lidar com as frustrações. Às vezes é
difícil, mas nunca ponho a cabeça debaixo da almofada. Enfrento as coisas e
resolvo-as.
– Então esse ar de mulher angelical é só mesmo aparência…
– Sou muito lutadora, empreendedora e tenho muito mau feitio. Estou sempre
envolvida em novos projetos e não faz parte da minha natureza estar parada.
Estou constantemente à procura de me surpreender.
– Mas ainda há alguma coisa em si daquela menina tímida que gaguejava?
– De vez em quando ainda há. Não vou muito a festas, porque fico aflita com
muitas pessoas à minha volta. Não me é confortável sair da minha zona de
segurança. Não lido bem com muita confusão e dispersão. Fico um bocado aflita
com conversas de circunstância.
– As coisas ditas fúteis aborrecem-na?
– Não! Também sou superfútil e gosto de ter conversas fúteis. Também gosto de
ser muito parva! [Risos] Quando estou deprimida, vou comprar sapatos! É típico!
E divirto-me com esse lado. Não me levo muito a sério.
– É uma atriz muito requisitada. Tem sido fácil conciliar a profissão com o
facto de ser mãe?
– Muitas vezes trabalho com o meu marido e temos a sorte de ter um grande
apoio familiar, senão não poderia fazer tanto teatro como faço. Se tivesse de
optar, a segurança e o bem-estar dos meus filhos seriam sempre a prioridade.
Ser mãe foi uma porta que se abriu na minha vida. E é o meu maior desafio.
Ainda estou a ensaiar e a aprender a ser mãe todos os dias. E eles estão a
aprender a ser meus filhos.
– Acredito que o desafio seja maior quando já se tem uma adolescente em
casa…
– É, sem dúvida! Às vezes a minha casa é um campo de batalha, mas é normal,
porque ela quer confrontar-me. Mas estou a conseguir manter o diálogo, o que é
fundamental.
– Ganhou o Globo de Ouro para Melhor Atriz de Teatro. Dá importância aos
prémios?
– Os Globos de Ouro distinguem o percurso que fazemos. Fiquei contente por
ganhar, porque foi um reconhecimento do meu trabalho. A minha família, então,
ficou muito feliz! E gosto de os ver assim. Agora, o que isto me vai trazer?
Não sei… Em Portugal, este tipo de coisas não tem grandes consequências. Um
ator aprende a lidar com o presente e o que conta é o que estamos a fazer
agora, não é o passado nem o futuro. E cada vez mais é assim, até noutras
profissões.
Sandra Faleiro: “Estou sempre à procura de me surpreender”
A atriz, que recebeu o Globo de Ouro para Melhor Atriz de Teatro, revela quem é fora dos palcos.
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