Tem um sorriso tímido e é reservado quando sente a câmara apontada para si, mas nada disso esconde o talento que salta à vista. Estudava Direito, com os “cadernos todos rabiscados de desenhos”, conta, quando, aos 19 anos, se apercebeu de que era na indústria da moda que queria investir, sempre com o apoio da família. Formou-se em Design de Moda na Academia de Moda do Porto, em 1997, e desde então as suas conquistas não têm parado de aumentar. “Toda a gente me pergunta se é nome de guerra ou nome artístico, mas Pedro Pedro é o meu nome de família. O meu irmão já não teve a mesma sorte, chama-se Bruno Pedro [risos]”, confidenciou o criador de moda, de 44 anos. Aproveitámos para pôr a conversa em dia no quarto desfile que fez na Milano Moda Donna, a convite do Portugal Fashion. Uma coleção que rompe com o que criou nas estações anteriores e representa uma nova atitude da mulher, mais interessante, intelectual e trabalhadora.
O que significa para si estar em Milão?
É ótimo. É uma experiência um pouco diferente dos desfiles em Portugal, em que há grupos de raparigas para cada desfile. Aqui é mais personalizado, temos mais intervenção sobre as manequins, os cabelos, entre outras coisas.
Diria que esta coleção é uma rutura com o que criou até aqui?
Não sei bem. Nas estações anteriores tinha apostado muito em sportswear e streetwear e acho que me fartei um bocadinho. Acho que a rapariga cresceu e agora é uma mulher diferente. Vai buscar muita inspiração ao universo do dia a dia, do trabalho e do que é possível fazer para tornar uma coisa institucional um pouco mais interessante. Esse foi o grande ponto de partida.
Foi difícil chegar ao tema?
Foi diferente do que fiz até aqui e isso é sempre complicado. Mas tenho de experimentar coisas novas, que me entusiasmem. Neste momento, é aquilo que acho certo e atual.
Acha que a coleção foi bem recebida?
Não sei, nunca sei, nunca soube. E já faço isto há 15 anos… Nem penso nisso. Costumo trabalhar para mim, sou muito duro e crítico comigo e faço sempre o melhor que sei e consigo. Quando começo a trabalhar numa coleção, tudo o resto à minha volta é bloqueado e passa a ser secundário.
Como começou o seu percurso nesta indústria?
Foi um bocadinho ao acaso. No liceu gostava muito de desenhar e pintar e passava as aulas a rabiscar o meu caderno. Entretanto, a minha família percebeu e inscreveu-me num curso de pintura. Desde os 11 ou 12 anos que estou ligado às artes. Quando cheguei ao 12.º ano, na área de Direito, com os livros todos rabiscados, os meus pais tiveram uma conversa comigo e perguntaram-me se era mesmo aquilo que eu queria seguir. Tinham-lhes falado num curso de Desenho e Moda. Acabei por concorrer e fui selecionado. Foi aí que comecei, um pouco ingenuamente, a estudar moda. Gostei muito e continuei.
Olhando para trás, imaginava chegar a este patamar?
Não. [Risos.] Não penso muito no futuro. A moda é uma área que absorve tanto tempo que o futuro é um bocadinho imediato. Vivo fechado no meu mundo.
Tem necessidade de estar sempre a trabalhar?
Tenho tempo para tudo, gosto de estar em casa sossegado, mas o trabalho absorve-me muito. Quando vou para casa, não consigo desligar totalmente. Além de que é uma área que vai buscar referências a todo o lado. Uma pessoa nunca consegue desligar-se das informações que lhe chegam.
Tem mais alguma paixão além da moda?
Não! [Risos.] É a minha amante única.
É a moda que o faz feliz?
Tem sido, mas com algum desgaste. Não é fácil, porque somos uma empresa muito pequena. Sou eu mais um punhado de amigos e de pessoas que gostam do que eu faço e que acreditam em mim. A equipa é incrível. Estou muito agradecido. O grande salto ainda não foi dado. As coisas vão acontecendo devagarinho com as feiras. Mas sim, é aquilo que me preenche.
Fotos: Luís Coelho