Ana Moura, de 40 anos, vive o seu dia a dia com a mesma intensidade com que sobe aos palcos, com que compõe uma música ou cria uma linha de joias. Nada é deixado ao acaso, e a coleção de joias que criou em seu nome é exemplo disso mesmo.
Dona de uma voz rouca e inconfundível, Ana assume que o seu trabalho é a sua prioridade e confessa que essa sua dedicação talvez já tenha sido prejudicial em algumas das suas relações. Ainda assim, garante que não mudará a forma como vive a sua carreira, até porque faz parte da sua “essência”.
Foi sobre o novo desafio que a Portugal Jewels lhe colocou, sobre o álbum em que está a trabalhar, mas, acima de tudo, sobre emoções e sentimentos, que conversámos com a fadista.
– Foi graças à paixão antiga que tem por joias que surgiu a oportunidade desta coleção…
Ana Moura – Sim, lembro-me de ver a minha mãe e a minha avó usarem joias todos os dias. Não dispensavam os seus brincos, anéis e pulseiras, e isso fez com que também eu ganhasse gosto pelas joias. Mais tarde comecei a frequentar as mesmas joalharias que a minha mãe e a assistir às alterações que ela fazia a algumas joias e que eu achava imensa graça, e, de certa forma, quis fazer o mesmo. Já tinha comentado com o meu manager que gostava de ter uma coleção de joias e a Portugal Jewels soube disso e contactou-me. Fiquei muito feliz com o convite, aceitei, mas na condição de ser eu a desenhar as joias. E assim foi.
– Parecem-me joias que demonstram mesmo um pouco de si, com uma mistura entre o clássico e o irreverente…
– É curioso, porque todas as pessoas que me conhecem dizem isso, que me identificam em cada peça. A Portugal Jewels, quando me chamou, pensou que eu iria fazer uma coisa completamente diferente… Nunca pensaram que fosse pegar na joalharia tradicional portuguesa… Era mesmo isso que eu queria, pegar na joalharia tradicional e desconstruí-la, quase um pouco como tenho feito com a minha música.
– E são peças com muita simbologia…
– Sim, fui buscar cores que são importantes para mim, assim como elementos como a cobra, o dragão… São peças com história e simbologia para mim. Tenho tendência para atribuir significado às coisas.
– Deu para conciliar o tempo em que esteve dedicada às joias, desde o início do ano, com a música?
– Deu, sim. Comecei a tratar das joias a partir de janeiro e a gravar o meu próximo disco no início deste verão. Deu para conciliar tudo isso e ainda os concertos. Mas eu adoro este ritmo de vida alucinante. Habituei-me a estar constantemente a trabalhar e é isso que me estimula. Até me custa empregar a palavra trabalhar, porque no meu caso é mesmo prazer.
Ana Moura: “Dou por mim a repetir padrões nas minhas relações”
Aos 40 anos, a fadista assume-se com todas as suas forças e fraquezas e garante não ter certezas absolutas.