Isabelinha, de 30 anos, viveu sempre rodeada de música e embalada pelo fado através da voz da sua mãe. E aos 17 anos, depois de deixar a dança clássica, a que se dedicava de corpo e alma desde criança, percebeu que o fado estava no seu ADN. Desde então nunca mais parou, já cantou em diversos países e há um mês e meio realizou o sonho de pisar o palco do CCB.
Há um ano, a sua voz encantou Rodrigo Guedes de Carvalho, que a convidou para fazer parte do seu projeto, o álbum XAVE, que resultou de um sonho de adolescente do jornalista da SIC. A juntar a tudo isto, a fadista trabalha como diretora de marketing numa loja de puericultura e é mãe de Mercedes, de quatro anos, o seu amor maior.
– O fado é a banda sonora da sua vida desde sempre…
Isabelinha – Sim, em minha casa sempre ouvimos fado. Começou com a minha tia-avó, que agora tem 85 anos e é madrinha da minha mãe, que também canta lindamente. A minha mãe ia com essa minha tia-avó para casas de fados e começou a cantar com os melhores guitarristas que havia na altura. E eu, sem querer ou sem saber, fui aprendendo a cantar fado.
– Mas foi aos 17 anos, depois de ter sofrido um acidente que a levou a deixar o “ballet”, os cavalos e o “surf”, as suas paixões até então, que o fado surgiu como um caminho possível.
– Sim, foi quando comecei a namorar com o guitarrista Bernardo Romão, que me fez olhar para o mundo do fado de outra maneira. Hoje em dia não sei o que faria da minha vida se não tivesse o fado. Foi com ele que comecei a cantar e a perceber que o bichinho do fado já existia em mim há muitos anos. Depois disso fui convidada pelo Pedro Moutinho para o ir substituir a uma casa de fados e nunca mais parei. Em seguida fui para o Clube do Fado, onde estou já há 12 anos. A verdade é que nessa altura Deus tirou-me umas coisas e deu-me outras… O meu acidente aproximou-me da música, do fado. Mas hoje em dia já retomei imensas coisas de que gosto, como o desporto.
– Em criança sofria de uma dislexia em último grau. Curiosamente, hoje em dia ganha a vida a cantar…
– Em miúda era a cantar que eu estudava e foi assim que terminei o meu curso. Se a música não existisse, eu não podia trabalhar, nem ganhar dinheiro, nem sustentar uma família da maneira como o faço hoje. E é curioso como não falho uma letra. Por exemplo, no projeto que fiz com o Rodrigo, como ele escreve de uma forma muito peculiar e as palavras são ou muito parecidas ou muito diferentes, para mim foi um grande desafio, e isso obrigou-me a cantar com as letras à frente. São muitas esquinas dentro de uma palavra, e para a minha condição, para a minha característica, de que me orgulho imenso, não foi fácil. Mas encontrei o meu mecanismo e levei as letras para o palco sem vergonha nenhuma.
– Referiu que a sua vida é feita de encontros e este projeto dos XAVE foi isso mesmo. Depois de estar só ligada ao fado, surge um projeto em que mostra um outro lado de artista…
– Foi isso mesmo. Para mim, o fado sempre funcionou como uma terapia, um estado que adoro e em que entro em contacto comigo própria. O projeto do Rodrigo mostra outra Isabelinha que não a fadista. Eu estou a cantar XAVE, mas sempre com o meu cunho de fadista, e é isso que me define e de que me orgulho. Sou muito transparente na música e este projeto mostrou-me outras coisas e outras formas de ser a Isabelinha.
Isabelinha: “Canto há muitos anos, mas nunca ambicionei ser famosa”
Foi aos 17 anos que deixou que o fado “entrasse” na sua voz e desde então nunca mais parou.