Conhecido pela sua alegria e pela forma efusiva como pisa qualquer palco de teatro ou estúdio de televisão, João Baião, de 56 anos, tem atualmente um sorriso mais contido e até forçado: o ator e apresentador perdeu a mãe há apenas três meses e ainda está a aprender a lidar com a dor.
Foi por ocasião do segundo aniversário do seu cabeleireiro e espaço de beleza Love Is In The Hair, dias antes do Natal, que conversámos com o ator e apresentador sobre a sua carreira, os seus negócios e as saudades que sente dos pais.
– O João sempre apostou nos negócio além da sua profissão. E este está a ser um sucesso…
João Baião – É verdade, já tive uma loja de animais, uma de roupa interior masculina e até de telemóveis. [Risos.] Na verdade, não o faço como plano B ou para ganhar dinheiro, mas sim porque gosto de estar ocupado com outras coisas. Esses negócios não correram muito bem e tinha decidido não voltar a fazer mais nada. A possibilidade de abrir este espaço veio muitos anos depois e em circunstâncias especiais. Sou amigo dos meus sócios há muitos anos e achei que eles deviam investir em algo próprio. Quando surgiu este espaço no Páteo Bagatela, consegui convencê-los, eles dão o know-how e eu aposto no resto.
– E vem cá com regularidade ver como correm as coisas?
– Venho cá mais para cuidar de mim do que para saber como estão as coisas, porque confio imenso em todos. Confesso que não tenho grande jeito para os negócios, e se dependesse de mim pouco avançávamos, porque facilito muito. Seriam muitas as borlas. [Risos.]
– Isso terá a ver com o facto de ser uma pessoa muito emocional?
– Julgo que sim. Tenho um coração mole e fácil de derreter. Mas sofro muito por antecipação. A idade anda a ensinar-me a lidar com estas coisas todas e a saber geri-las melhor.
– E como é que esse coração está a lidar com a morte da mãe?
– [Emociona-se.] Ainda está tudo muito fresco, tenho evitado falar disso e fazer algumas coisas, como arrumar as coisas da minha mãe, porque a casa dela precisa de ser entregue. Mas hoje mesmo terei de lá ir e tratar do assunto. Estes últimos meses têm sido muito difíceis.
– A idade não apazigua a perda de uma mãe…
– Nunca. A minha mãe viveu até aos 85 anos, mas o abraço dela faz-me muita falta. Falta-me a voz, o toque, o cheiro… Não tenho medo da morte, mas esta coisa de não ver as pessoas, de não as sentir, de tudo ter acabado, deixa-me fora de mim.
– E tenta aprofundar o que está a sentir ou evita pensar nisso?
– Penso muito em todas as circunstâncias, a minha cabeça não para. Estou sempre a pensar neles, porque me fazem muita falta. [Emociona-se.] E depois as pessoas dizem que quando não temos descendência perdemos as raízes. Eu vivi uma vida inteira apavorado com a ideia de perder a minha mãe, desde miúdo. Fazia birras à janela quando ela saía, com medo que não regressasse. Sofri imenso com isso e nunca consegui conceber o dia em que ela já cá não estivesse. Achava que em adulto seria capaz de encarar isso de outra forma, mas dói muito. E mesmo assim, embora achemos que podemos estar preparados, nunca estamos. Aquele momento em que o telefone toca e se recebe a notícia não tem explicação.
– Este ano o Natal vai ser mais triste…
– Já há muitos anos que o meu Natal deixou de ter aquela magia. Temos a tradição de ter sempre a família toda junta, e conforme a família vai diminuindo a época vai ficando mais triste. Este será o primeiro ano sem a minha mãe, e sinto-me… Gosto imenso do Natal, das luzes, do conforto e quentinho da casa, e este ano ainda não sei muito bem o que vai acontecer, mas com os meus irmãos estarei de certeza.
– Mudando de assunto, o João é sempre muito acarinhado na rua, pelo seu público…
– O público é a entidade máxima que eu respeito e tenho por ele uma profunda gratidão, sem o público um artista não vive. É para ele que trabalhamos, não faz sentido fazermos televisão se não estiver ninguém do outro lado, não faz sentido estarmos em palco se a plateia estiver vazia, nada faz sentido se não houver quem receba aquilo que queremos transmitir. Sinto desde sempre que as pessoas me adotaram como um elemento da família, e isso deixa-me muito feliz.
– Mas é também pela fama?
– A fama é um complemento. Nunca me motivou aparecer em capas de revistas, ou ser famoso, ou estar na rua e toda a gente estar a olhar para mim. É mesmo o gosto por comunicar, por subir ao palco, por vestir outros papéis, por provocar emoções.
CARAS EDIÇÃO 1273