A alegria e o otimismo com que Marta Aragão Pinto, de 43 anos, encara a vida é contagiante e extensível a toda a família: o marido, Filipe Terruta, de 42 anos, e os filhos, Mónica, de 17, Vera, de 15, Joana, de 11, e até Henrique, de oito meses, estão rendidos à sua personalidade exuberante. Nesta família os dias são vividos intensamente por todos, com a dose de “loucura” que se adivinha incontornável numa família de seis. E como se o tempo sobrasse, Marta decidiu abraçar um novo desafio profissional ao aceitar o convite para fazer nascer uma nova empresa de comunicação, a Ofélia, dentro do grupo já existente, Your. Mas foi da família que falámos nesta conversa que decorreu dias antes do Natal.
– Este Natal é certamente ainda mais especial…
Marta Aragão Pinto – Completamente. Temos o nosso Menino Jesus. [Risos.] Fazemos a árvore de Natal logo no dia 1 de dezembro e eu tenho uma tradição: ponho músicas de Natal a tocar enquanto decoramos a árvore, e este ano foi um momento ainda mais especial por causa da presença do Henrique, que andava de colo em colo, sem compreender muito bem o que se estava a passar. [Risos.]
Filipe Terruta – O Henrique é o presente de Natal de todos nós. Claro que ele ainda não desfruta do Natal como deve ser, mas para nós vai com certeza ser memorável.
– E como vai ser passado?
Marta – Como sempre. No dia 24, noite de Consoada, estamos apenas nós. No dia 25 as mais velhas vão almoçar com o pai [Rodrigo Contreiras] e a Joana também vai com elas e ao jantar do dia de Natal juntamo-nos com a minha família na casa do meu irmão. Na verdade, somos todos uma grande família.
– Há alguma tradição de Natal?
– Sim, todos os anos escolhemos um jogo que jogamos em família, a seguir ao jantar, e lemos cartas de apreço que escrevemos uns aos outros. É uma choradeira pegada. Tenho filmes destes anos todos e tenho a certeza de que elas, quando forem mais velhas, vão adorar ver. É engraçado, porque a escrever acabamos por dizer coisas que não dizemos habitualmente. Transmitem-se coisas muito bonitas e tenho a certeza de que será um hábito que elas depois também irão reproduzir com os filhos. Depois, no dia seguinte de manhã, eu e o Filipe acordamos sempre mais cedo, pomos aos gritos a música All I Want for Christmas Is You, elas descem as escadas a correr e abrimos os presentes.
Filipe – A Marta tem estas tradições que faz questão de manter, nós já as conhecemos todas e cumprimos sem reclamar. [Risos.] Mas a verdade é que torna tudo mais engraçado, porque se não fosse ela acredito que não faríamos nem metade. Como sabemos que ela faz questão, acabamos por fazer tudo, todos os anos, e é giro de ver as memórias que estamos a criar. A Marta nisso é exímia. Temos milhares de fotografias à conta da nossa fotógrafa preferida.
– Mas isso é bom, quer dizer que todos alinham em tudo…
– Não conhecem a Marta! [Risos.] Como é que nós haveríamos de conseguir não seguir essas tradições?! Ela nunca deixaria!
– Mudando de assunto: o Henrique trouxe alguma mudança à família?
Marta – Nós já éramos completamente alegres, sempre a rir, e somos muito companheiros uns dos outros, e o Henrique veio acrescentar mais alegria. É realmente uma dinâmica espetacular. Quando elas chegam da escola é uma revolução, porque entram pela porta a correr as três, para ver qual delas é a primeira a pegar no irmão. É de chorar a rir, quase andam à pancada. [Risos.] Para elas é um amor que ganharam e é muito giro de ver. Elas estão sempre a dizer que ele é o amor da vida delas. Já eram apaixonadas umas pelas outras, mas agora são apaixonadas por um rapaz.
Filipe – Nós achávamos realmente que viria aí outra rapariga e já tínhamos tudo preparado. Na verdade, não sinto grande diferença por ser um rapaz, é o nosso filho, ponto.
trabalho.
– Ele passou a ser o centro das atenções?
Marta – Completamente.
– E como é que se consegue gerir isso para que o Henrique não seja o centro das atenções, porque têm mais três filhos?
– Não é fácil. Elas exigem a minha atenção e até dizem que só ligo ao Henrique. Mas eu sei que faço uma boa gestão das coisas. Tive de aprender a gerir logo a seguir a ter nascido a Vera. Às vezes vou para a cama a pensar no que cada uma me pediu e organizo tudo de maneira a que nenhuma fique de fora. Nos nossos jantares só falta haver uma máquina com senhas: cada uma tem um pedido e uma coisa para contar. Até já põem os dedos no ar para não perderem a vez. [Risos.] E nós fazemos questão de nesse momento lhes dar atenção e ouvir cada conversa de cada uma.
Filipe – O problema é mesmo entre elas, porque todas têm egos diferentes e todas têm opinião, é muito complicado. Eu vou gerindo ao momento, conforme sei e posso. Às vezes é duro, mas vou fazendo. Acima de tudo, enquanto vir felicidade na cara delas em relação a tudo é porque estamos a fazer um bom trabalho.
– São quatro filhos com idades e necessidades distintas. Torna o desafio maior?
– Idades distintas e feitios também, logo, a maneira de gerir as necessidade tem de ser obrigatoriamente diferente com cada uma. Temos de fazer tudo com muita organização, com uma agenda constante, com papéis espalhados por todo o lado, com as notas do telemóvel cheias, com horários no frigorífico, e temos de fazer com que a coisa resulte. Mas também tenho a sorte de elas serem muito responsáveis, e, se me esqueço de alguma coisa, o que por vezes também acontece, elas lembram-se.
– E, para vocês, como está a ser voltar a ter uma criança em casa?
Marta – É uma bênção tão grande ter um bebé em casa que todos os dias agradeço. Ele trouxe-nos ainda mais amor e união. Sempre fui uma mãe descomplicada e a idade ainda me trouxe mais isso. Por isso com ele eu só desfruto. Não dá trabalho ter um bebé. Para já, porque tenho a ajuda delas, e claro que por causa das diferenças entre eles o Henrique é quase como um filho único, fora do tempo. Eu só consigo vê-lo como uma bênção. Todas as coisas em que um bebé dá trabalho foram completamente relativizadas e eu agora olho para ele, para estes oito meses, e sinto que foi tudo tão fácil, tão bom.
– Ter filhas já tão crescidas deve permitir-vos ter tempo para namorar, já que ajudam a tomar conta dele…
– Sempre fizemos tudo com elas e agora, com o Henrique, voltámos um pouco atrás e já não me sinto tão culpada de irmos só os dois para qualquer lado, porque elas ficam e ele fica com elas. No fundo, agora conseguimos gerir melhor os momentos a dois do que antes. O problema é que elas cobram quando vamos, por exemplo, passar um fim de semana e não as levamos. É mais fácil deixar um bebé que não fala do que estas três sindicalistas. [Risos.] A verdade é que elas fazem tudo e tomam conta dele como eu, e isso deixa-me muito descansada, mas também faço questão que elas saibam, sintam e percebam que o Henrique não é obrigação delas, a mãe sou eu. Só quero que o façam por prazer, mas elas ajudam muito e claro que eu fico bem mais descansada quando saio só com o Filipe.
Filipe – Elas ajudam-nos imenso, são top e têm uma relação extraordinária com o irmão. Para todos os efeitos, nós somos uma família grande e é tudo uma grande confusão, mas nunca deixámos de ter os nossos momentos a dois, nem agora, nem antes. Sempre conciliámos tudo bem, mas agora ainda mais, porque quando entregamos o Henrique às irmãs estamos completamente descansados. Nós sempre namorámos, nunca nos esquecemos um do outro nem abdicámos dos momentos em casal.
– E em que fase está o Henrique?
Marta – Já percebe tudo, percorre a casa no andarilho atrás de nós, já reconhece os nomes de cada um, quer agarrar em tudo e dobra o riso, às vezes até me assusto porque se engasga a rir. Elas não passam um minuto sem o fazer rir. E depois já percebeu que calhou numa família de doidos, numa casa repleta de barulho. [Risos.] Ele é que se adaptou a nós, à nossa dinâmica, e não nós a ele.
Filipe – Ele ainda não tem bem noção da família onde veio parar… [Risos.] Mas rapidamente vai perceber que ficou bem entregue e teve sorte na família que lhe calhou, não tenho a menor dúvida disso.
– E olha para o Henrique de uma maneira diferente? Por ser rapaz e talvez o último filho?
Marta – Eu não gosto de dizer coisas definitivas. Nunca vou dizer que será um último filho, nem quando tiver 80 anos. [Risos.] Acho que a diferença aqui está em ele ser rapaz, em eu ter a idade que tenho e nos anos que já passaram desde que fui mãe da Joana. Agora tudo é diferente, mas acho que a parte de ser rapaz me traz uma paixão que desconhecia. Apetece-me estar agarrada a ele o tempo todo. Estou sempre a dizer que o amo e a declarar-me. O Filipe vai ouvindo e não acha muita graça. [Risos.] Depois, a maneira como o Henrique olha para mim é uma coisa avassaladora e inexplicável. É o olhar de um homem completamente apaixonado por mim e eu por ele.
– E o Filipe teve de aprender a lidar com o facto de ter de partilhar agora um lugar que era só dele…
– O Filipe encaixou muito bem. No início, quando pegava no Henrique, ele só procurava por mim e o Filipe enervava-se. [Risos.] Mas acho que ele encaixa isso muito bem e também se emociona ao ver o amor entre mãe e filho. E depois o Henrique só veio aumentar ainda mais o amor que sinto pelo Filipe, é um bebé nosso, fruto do nosso amor.
Filipe – Tenho de aceitar que é assim, é que realmente não é só da parte das miúdas, é principalmente da parte da Marta. Ela apaixonou-se por um ser masculino que não eu. [Risos.] Mas pronto, eu tento não ter ciúmes e aguentar a barra. Mas é difícil, porque agora é o Henrique para tudo. E realmente ele olha para a mãe de maneira diferente, mas é muito bonito e enternecedor de se ver. Só é chato ela se ter esquecido de mim… [Risos.]
– Quando ele crescer, vai com certeza haver o reverso da medalha…
– Não vamos fazer prognósticos, mas espero que seja assim. [Risos.] A verdade é que quando dou um beijo à mãe ele faz-me caretas do género: quem és tu?!
– Para terminar, e voltando às tradições familiares, a passagem de ano também envolve rituais?
– A passagem de ano também tem tradições. Os seis em casa e da mesma maneira de sempre: compramos petiscos, máscaras, chapéus e óculos para nos equiparmos a rigor. Jogamos jogos e à meia-noite subimos para o sofá e saltamos com o pé direito para o chão, a fazermos desejos todos agarrados uns aos outros… Tudo filmado, claro. [Risos.] Tiramos a última foto do ano antes da meia-noite e depois a primeira foto do novo ano. Nos últimos dois anos passámos em São Martinho do Porto, com o fogo de artifício; este ano, como o Henrique é pequenino, optámos por fazer a festa cá, na nossa casa nova.
CARAS EDIÇÃO 1273