
Depois de brilhar nos Jogos Olímpicos de Paris, onde conquistou a medalha de prata no Omnium e se sagrou campeão olímpico no Madison ao lado de Rui Oliveira, o ciclista Iúri Leitão reservou um fim de semana para celebrar com Carolina Lourenço Ribeiro as suas conquistas longe das pistas. No sossego da Várzea de Sintra e desfrutando da vista deslumbrante para o Palácio da Pena, os dois partilharam emoções, desafios e sonhos que continuam a traçar lado a lado.
– Dizem que o coração dos ciclistas bate mais devagar por causa dos treinos… O seu acelera quando está com a Carolina?
Iúri Leitão – Não só os ciclistas, mas todos os desportistas em geral que façam provas de endurance têm uma frequência cardíaca de repouso mais baixa do que o normal. A minha acelera sempre um bocadinho mais quando estou com a Carolina, sim [risos].
– E deve ter acelerado também bastante com os resultados das duas provas que venceu nos Jogos Olímpicos?
Iúri – Acelerou um bocado demais, até me senti mal na verdade… Estávamos todos a tentar superar o limite do nosso corpo e, naquele momento, pensei até que desmaiava. Foi um momento complicado, difícil de gerir. Era a primeira vez que estávamos nos Jogos Olímpicos, não sabíamos o que é que íamos encontrar.
– E como é que uma namorada sobrevive à tensão de uma prova nos bastidores?
Carolina – Foi a primeira vez que o vi correr fora de Portugal e estar ali sozinha, a viver aquilo tudo, não foi fácil. A determinada altura tive de me agarrar a um casal inglês que estava ao meu lado, porque eu também ia desmaiando, não foi só ele que se sentiu mal, mas foi muito bonito.
– Não teve muito tempo para celebrações, já que pouco depois já estava a competir noutro local?
Iúri – É a vida de um ciclista. Tanto estamos a competir pela seleção na pista, como estamos a representar as nossas equipas de estrada, e muitas vezes temos de adiar as celebrações. Eu ainda tive a sorte de estar a primeira semana em casa. O Rui teve de voltar logo para a estrada. Não deu tempo para digerir tudo. O Gabriel também não ia deixar…
– O Gabriel Mendes é seu treinador há mais de cinco anos. Tem que haver uma relação de grande cumplicidade e amizade entre atleta e treinador?
– Claro que sim. De outra forma não é possível. O Gabriel é uma pessoa que, além de respeitar muito, tenho muita consideração e amizade. Sempre que alguma coisa importante acontece na minha vida, ele é dos primeiros a saber. Quando pedi a Carolina em casamento, por exemplo, ele foi a primeira ou a segunda pessoa a quem eu liguei a contar.
– Esse pedido de casamento aconteceu depois da vitória nos Jogos Olímpicos?
– Nos Jogos Olímpicos houve um pedido em jeito de brincadeira. Aproveitei aquele momento de tensão para dizer alguma coisa engraçada para aliviar um bocadinho e fazê-la rir, porque ela estava tão ou mais nervosa do que eu. O pedido oficial tinha acontecido em março e foi planeado com alguns meses de antecedência.
– Foi surpreendida com esse pedido?
Carolina – Completamente.

– Querem partilhar um pouco desse momento? O sítio ou a circunstância em que aconteceu?
Iúri – Fazíamos cinco anos de namoro e marcámos, com uns meses de antecedência, um fim de semana em Oliveira do Hospital, perto da Serra da Estrela. Um sítio romântico, que tem um ribeiro muito bonito. Tinha tudo planeado, pedi ao Gabriel folga nos treinos nesse fim de semana, só que a minha equipa acabou por trocar o calendário e tive prova. Tive de falar com a Carolina e pedir para mudarmos a data da reserva para a semana seguinte, que foi quando aconteceu o pedido de casamento.
– Tem de ter ao seu lado uma pessoa que compreenda essas alterações de última hora, para não sejam um problema.
Iúri – É verdade. Estou constantemente a lidar com imprevistos na minha vida, fazem parte do meu trabalho, e ela não tem culpa nenhuma disso, mas também sofre com esse tipo de coisas. Até a data do casamento já foi mudada várias vezes… Já aconteceu tantas vezes termos de alterar datas de férias.
Carolina – Acho que, tal como qualquer companheira de um desportista de alta competição, teremos sempre de nos moldar mais a eles do que eles a nós. A nossa relação funciona muito bem, principalmente porque comunicamos muito bem. Não há segredos, não há meias-palavras, e o que não estiver bem é esclarecido no momento ou quando acharmos oportuno.
– Não deixa de ser importante ter alguém ao lado que lhe dê o espaço e o apoio que precisa nos momentos de maior fragilidade.
Carolina – Eu sou mais frágil. Ele é muito otimista. É o meu raio de sol.
Iúri – Ela cede um bocadinho mais rápido, deixa-se ir abaixo mais facilmente. Eu sou mais calmo, aquele que diz que vai ficar tudo bem. Sou o otimista, a pessoa que a faz ver o copo meio cheio, um pacificador, tranquilizador. Claro que também tenho os meus momentos, em que me vou abaixo e desabafo com ela. É importante ter alguém ao nosso lado que esteja disposto a ouvir-nos. Se resistimos até agora, é porque as coisas têm funcionado bem. Já houve alguns obstáculos, como há em todas as relações, mas nunca houve nenhum problema que nos pusesse em causa. Às vezes há situações mais delicadas, mas por norma são situações externas a nós.
– Já vivem juntos há muito tempo. Porque consideram importante oficializar a relação com o casamento?
Iúri – Sempre tive esse objetivo. Não vou dizer esse sonho, porque se morresse sem me casar também não ia ficar superdesiludido, mas sempre tive esse objetivo, a intenção de casar-me um dia. E achei que não havia melhor momento do que este, até porque estamos a morar com os pais da Carolina e, em breve, vamos morar sozinhos numa casa própria.

– É o início de uma nova fase.
Iúri – Exato. Comprámos o nosso apartamento e não queria dar esse passo antes de termos o nosso lar, de termos um sítio para nós. Agora não estamos é a conseguir marcar a data. Temos planeado casarmos em outubro, vamos ver se conseguimos que aconteça na data que pretendemos.
– Tinha dois grandes sonhos na vida: ser campeão do mundo e ir aos Jogos Olímpicos. Conseguiu concretizar os dois. O que é se faz depois de se cumprirem os objetivos máximos de uma carreira?
Iúri – Muda-se o foco. Agora é apontar para outras metas. Tenho que definir o meu calendário, fazer um planeamento da época 2025, tanto com a equipa como com a seleção. Provavelmente vou tentar apontar a outro tipo de objetivos na estrada, sem deixar de fazer ciclismo de pista, claro.
Maquilhagem: Sinval de Souza
Agradecemos a colaboração de Decenio e Vila Galé Sintra