
Cláudia Raia está de volta ao nosso país, quer na televisão – faz uma participação especial da novela da SIC Terra e Paixão – quer no teatro, onde estará, a partir de 29 de janeiro, em cena no Teatro Tivoli, em Lisboa, com a peça Menopausa. Uma vez mais, a atriz, que completou 58 anos no dia 23 de dezembro, dividirá o palco com o marido, Jarbas Homem de Mello, de 55, que é também o encenador.
Entre os ensaios e a rotina diária com o filho de ambos, Luca, que fará 2 anos a 11 de fevereiro, Cláudia e Jarbas conversaram com a CARAS Brasil no seu refúgio em Bragança Paulista, no interior de São Paulo.
– Vem aí mais uma peça…
Cláudia Raia – Em janeiro estreamos Menopausa, em Portugal. A peça usa a arte para prestar serviço público. É um assunto que abordo nas redes sociais com mulheres acima dos 50 anos. A menopausa é o 2.º ato da mulher e, no teatro, o segundo ato é sempre melhor do que o primeiro.
– O que vos levou a estrear a peça Menopausa em Portugal?
Cláudia Raia – Uma marca de saúde, beleza e bem-estar decidiu fazer uma campanha pró-mulher, sobre a menopausa, e resolveu patrocinar o espetáculo. Tudo se encaixou.
– A digressão é de quanto tempo?
Cláudia – Serão seis semanas em Lisboa e seis semanas noutros pontos de Portugal. Depois, voltamos para o Brasil.
– Entre tantos temas femininos, escolheu a menopausa por algum motivo especial?
Cláudia – Por experiência própria. Participei num simpósio sobre menopausa e longevidade em Portugal e, nessa altura, descobri que uma suposta dor muscular que achava que tinha, era, na verdade, a menopausa.
– Há falta de informação?
Cláudia – A mulher é preparada para menstruar, engravidar, amamentar… mas ninguém fala sobre a menopausa. Ninguém diz que é um dos momentos mais difíceis da vida de uma mulher. A mulher com 40 e poucos anos cai num buraco e só se levanta aos 80, para se tornar a velhinha fofa. Até lá, fica no limbo. Não estamos habituados que uma mulher mais velha seja uma Jane Fonda. A nova mulher de 50 não está nos livros. Os médicos não sabem lidar com ela. Quando engravidei do Luca, disse à médica: “Estou na menopausa, fiquei grávida, ou seja, foi uma pausa na meno” [risos]. Quando perguntei se depois do nascimento voltaria à menopausa, ela não soube responder.
– E voltou?
Cláudia – Sim. Quando engravidei, ouvi dizer: “Mas ela tem relações sexuais?”. É o machismo estrutural. É como se a mulher mais velha perdesse a serventia. Todos, inclusive os médicos, me desencorajaram a engravidar. Fiz tratamentos para a inseminação, mas acabei por engravidar naturalmente.

– Hoje, como avalia essa gravidez?
Cláudia – Na altura, não imaginei o quanto seria desafiador. Hoje, penso que fui inconsequente, mas feliz. E não fiz nada do que a minha médica aconselhava. Ela dizia-me para ficar em repouso, mas eu fazia exercício, fazia o que queria.
– O que é que aprendeu com o seu marido, pai de primeira viagem?
Cláudia – Fico mais apavorada em relação aos cuidados a ter do que ele. O Jarbas traz-me uma tranquilidade que eu, mãe de três, não entendo.
– O que é que a Cláudia aprendeu consigo, Jarbas?
Jarbas – Quando ela se preparava para ser mãe, eu disse-lhe que precisaria de ter paciência comigo, porque nunca fui pai. Ela respondeu: “Não se preocupe, estamos juntos. Nunca fui mãe do Luca e para cada filho é-se uma mãe diferente”. Isso tranquilizou-me. A Cláudia é experiente, uma mãe sábia. Aprendo com ela todos os dias.
– E como é o Jarbas enquanto pai?
Jarbas – Estou sempre a dizer que o Luca está bonito, inteligente, entende tudo… tenho vontade de o elogiar, durante o dia todo, pelo seu esforço, dedicação e paciência em conseguir algo.
Cláudia – Aprendi com os meus outros filhos a não colocar a minha experiência à frente da experiência da criança. Dizer “não subas para aí que vais cair” é uma frase fatídica. Em vez disso, podemos dizer: “Cuidado, podes cair, mas a mãe está aqui”. Temos de dar a entender que aquilo é perigoso, mas não o impedir de o fazer.
– Quando a sua filha, Sophia, se mudou para Nova Iorque, sentiu a síndrome do ninho vazio?
Cláudia – Eu, o Jarbas e o meu filho Enzo levámos a Sophia e ficámos até ela se instalar. Quando voltámos, o Enzo pensou em mudar-se, mas pedi-lhe para esperar um pouco. Quando engravidei, ele decidiu ficar até o bebé nascer para me ajudar. Agora está à procura de um apartamento. Mas os meus filhos estão sempre por perto e não os largo.
– Na adolescência, morou em Nova Iorque. Que conselhos deu à sua filha?
Cláudia – Quando fui as condições eram diferentes. Vivi de favor com um coreógrafo, depois fui para um apartamento pequeno, trabalhei como empregada de mesa… Ela adora viver lá, mas sabe que é um lugar difícil, com poucas possibilidades, onde os latinos estão sempre abaixo dos americanos.
– A Sophia estuda cinema, o Enzo produz. Vem aí um projeto em família?
Cláudia – Ainda não temos planos a curto prazo, mas para o futuro, sim. Produzo teatro desde os 19 anos e quero passar para a coprodução em audiovisual. Produzir dá-me autonomia.

– Não fica refém de convites.
Cláudia – Exato! E além disso, é difícil ser protagonista aos 60 anos. Como isso não acontece normalmente, temos de procurar essas oportunidades. Tenho isso no teatro: personagens que quero fazer.
– Como foi deixar de ter contrato fixo com a TV Globo ao fim de 40 anos?
Cláudia – Tenho carinho e gratidão pela Globo, onde fiz uma carreira linda, amigos que levarei para a vida. E tive algo raro nesta profissão: estabilidade durante 40 anos. O que me deixou feliz foi ter construído uma carreira paralela. Não deixei de fazer teatro por estar na TV.
– Porque é que escolheram Bragança Paulista para ter uma casa?
Jarbas – Este é o nosso refúgio. O paraíso que construímos.
Texto: Fabricio Pellegrino