Sandra Rodrigues tinha 54 anos quando o seu mundo abalou. Casada, mãe de dois filhos adultos, a vida parecia seguir um curso tranquilo até ao dia em que recebeu o diagnóstico de cancro da mama triplo negativo. “Nunca imaginei que o diagnóstico acabasse por ser esse”, relembra.
A descoberta veio em fevereiro de 2022, mas os sinais começaram a surgir antes. Ao perceber que a mama direita estava mais dura e densa, decidiu procurar o ginecologista. “Apesar de não encontrar nada de anormal, pediu exames complementares para que eu ficasse tranquila, até porque regularmente já estava a ser seguida por profissionais de saúde por apresentar microcalcificações”.
A mamografia levantou as primeiras suspeitas, confirmadas por uma ressonância magnética. O veredicto foi claro: a luta contra o cancro teria de começar imediatamente. “A médica acalmou-me, mas disse que o tratamento seria para ontem”, conta Sandra.
A oncologista Joana Simões, do Centro Hospitalar Universitário de Santo António, explica que o cancro da mama triplo negativo é um dos subtipos mais desafiantes. “O cancro da mama triplo negativo é um subtipo de cancro da mama no qual as células tumorais não expressam os três recetores mais importantes desta doença: recetores hormonais (estrogénio e progesterona) e recetor HER2”. Assim, explica a profissional, este tipo de cancro não responde aos tratamentos convencionais, como os tratamentos hormonais (hormonoterapia) ou os fármacos-alvo dirigidos ao recetor HER2. “Por isso, o cancro da mama triplo negativo é mais difícil de tratar, uma vez que as opções terapêuticas são mais limitadas, estando tradicionalmente limitadas a quimioterapia”. Este é, tendencialmente um cancro mais agressivo e o risco de recidiva “e metastização é maior, especialmente nos primeiros 3-5 anos após o diagnóstico”.
A importância de um estilo de vida saudável
O tratamento de Sandra iniciou-se com quimioterapia em março de 2022, totalizando 16 sessões até agosto. “Foi duro, mas sabia que tinha de fazer”, afirma. Posteriormente, foi submetida a uma cirurgia conservadora que evitou a mastectomia. Em seguida, vieram 15 sessões de radioterapia.
Os médicos reforçaram a importância de um estilo de vida saudável. “Os grandes conselhos foram manter uma boa alimentação, fazer exercício físico e evitar o sedentarismo”, recorda. Mas os efeitos do tratamento deixaram marcas. “O que mais me custou foi perceber que nunca mais iria ser a mesma coisa. Há um cansaço instalado que insiste em não sair”.
Apesar das dificuldades, Sandra encontrou força no apoio da família e dos amigos. “Tento manter-me ocupada. Mais complicado do que ouvir o diagnóstico é o processo que se segue, a incerteza do futuro. Questionamos se vai valer a pena”, desabafa. Ainda assim, deixa um conselho a quem enfrenta situações semelhantes: “Tentar manter o foco e seguir o que os médicos dizem. É essencial confiar nos profissionais de saúde e encarar a situação com positividade”.
Avanços terapêuticos são significativos
Quanto aos avanços terapêuticos, Joana Simões enfatiza o papel da imunoterapia. “No que diz respeito ao cancro da mama triplo negativo, a imunoterapia tem demonstrado bons resultados quando associada à quimioterapia, ao ajudar e potenciar o sistema imunitário a identificar e a combater as células cancerígenas”.
Além disso, diz a oncologista, também a identificação de alvos moleculares específicos à superfície das células tumorais tem levado ao desenvolvimento de terapias-alvo para atacar as mesmas. “Estes avanços não só estão a impactar o tratamento na doença avançada como também na doença localizada, reduzindo significativamente o risco de recidiva e metastização”. A profissional não tem dúvida que no cancro da mama triplo negativo metastático, estes tratamentos têm prolongado o tempo de sobrevida, “assim como também têm contribuído para um melhor controlo dos sintomas e maior qualidade de vida para as doentes”.
A abordagem multidisciplinar também se revela fundamental. “A colaboração entre oncologistas, cirurgiões, psicólogos e outros profissionais permite um acompanhamento integrado, melhorando não só os resultados clínicos, mas também o bem-estar emocional e social das doentes”, explica Joana Simões.
Sandra Rodrigues representa muitas mulheres que enfrentam o cancro da mama com coragem. Histórias como esta, aliadas aos avanços médicos, mostram que, apesar dos desafios, a luta contra o cancro tem vindo a ganhar novas armas. Para Joana Simões, a mensagem é clara: “O diagnóstico precoce salva-vidas. Estejam atentas aos sinais do vosso corpo, sigam as recomendações de rastreio e nunca subestimem o poder da prevenção”.
Com uma combinação de avanços na ciência e uma rede de apoio sólida, o futuro para estas mulheres pode, de facto, ser cada vez mais promissor. Como o da Sandra.
Quais são os primeiros sinais que podem indicar um Cancro da Mama Metastático e como podem as mulheres estar mais atentas ao seu corpo?
O cancro da mama metastático ocorre quando o cancro se propaga para outras partes do corpo além da mama. Os locais mais comuns são os ossos, fígado, pulmões ou cérebro. A essas lesões tumorais chamamos metástases e os sintomas podem variar conforme a localização das mesmas, estando entre os mais comuns a dor óssea persistente, falta de ar, tosse ou perda de peso inexplicada. Estes sintomas podem ser causados por outras condições, mas a persistência ou o agravamento dos mesmos deve motivar o pedido de ajuda médica.
É fundamental que as mulheres estejam atentas ao seu corpo e a qualquer alteração que persista por semanas ou meses. Da mesma forma, a auto-palpação mamária e a realização do rastreio regular com mamografia a partir dos 45 anos, de acordo com as recomendações da DGS, são fundamentais para a deteção precoce do cancro da mama numa fase inicial, aumentando as probabilidades de sucesso do tratamento e diminuindo o risco de metastização.
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Referências:
Liga Portuguesa Contra o Cancro | Cancro da Mama Triplo Negativo
DGS | Norma 122024 – 06/12/2024 | Programa de Rastreio de Base Populacional do Cancro da Mama
SNS | Prevenção e Cuidados de Saúde | Rastreio do Cancro da Mama
PT-UNB-1238
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