Segundo Jacques Bec e Artur Miranda, da Oitoemponto, responsáveis pelo projeto de arquitetura e decoração de interiores, a habitação, situada no norte do país, com uma área total de 1.400m, distribuídos por dois pisos, sendo 800mhabitável e 600m de serviços, prende-se com um conceito familiar. “Na casa vivem um casal e os seus empregados, sendo habitual receberem os amigos e familiares”.
Entre a compra do terreno e a finalização de todo o projeto decorreram 18 meses, tendo sido um objetivo da empresa concluir o trabalho no menor espaço de tempo possível: “Construir uma casa com o mesmo volume mas num ambiente mais contemporâneo foi o principal motivador, mantendo o estilo clássico de casa antiga, mas adaptado aos tempos modernos”.
As linhas mestras da arquitetura remontam à Itália dos anos 40, com inspiração nos materiais e arquitetura da cidade de Roma. “Esta é uma casa que nasceu do interior para o exterior, uma casa feita ao contrário, com uma estética muito italiana. Pode durar 500 anos. É intemporal, robusta, nada frágil, com um pé-direito altíssimo (superior a 3,5m) e volumetria pouco normal para os nossos tempos”, nota a dupla de profissionais, que elegeu as cores entre o tijolo e o castanho escuro. “Usado tanto no interior como no exterior, o mármore bege foi o ponto de partida, influenciando as escolhas dos tons terracota e castanhos, quebrados pelo azul claro para arrefecer o ambiente”.
Ao nível das texturas, as paredes interiores apresentam tecidos e materiais nobres, como é o caso da madeira de pau-santo, da Índia, logo à entrada, e do mármore Travertino (serrado, trabalhado e com gomos), uma presença incontornável que confere rusticidade e, ao mesmo tempo, modernidade.
O principal objetivo da Oitoemponto foi criar conforto sob o lema “as pessoas têm que se sentir em casa”. Para Jacques Bec e Artur Miranda, este é um espaço “com muita presença, mas não pretensioso”, com algumas peças feitas por medida e outras pertencentes aos proprietários, que foram recicladas e adaptadas.
No andar térreo, a entrada e o pavimento, em mármore Crema Beiva e Nero Marquina, conduzem à galeria, que dá acesso a todas as divisões, entre elas a sala, com duas zonas de estar, uma das quais totalmente voltada para o jardim (“apanágio da casa e uma parte muito importante para a proprietária”) e para a piscina (“pintada da cor da relva, permitindo uma comunhão com a natureza envolvente”).
A ladear a lareira, aberta de ambos os lados, as estruturas geométricas, que funcionam como divisórias e, ao mesmo tempo, permitem vislumbrar todo o espaço, atraem o nosso olhar, dado o seu grafismo e a sua força visual.
Com cadeirões antigos e mobiliário da autoria da Oitoemponto, à exceção das mesas da G-Plan e das de Warren Platner, a sala reflete o selo dos projetos do ateliê, em matéria de decoração e arquitetura de interiores. “Marcas de intemporalidade, sem vincos no tempo. Organização e cores únicas. Peças vintage misturadas com peças modernas, criando um ambiente de casa vivida. As coisas têm um ar muito bem tratado, mas não imaculado”.
Na sala de jantar, decorada com inspiração na estética dos anos 40, a mesa, de generosas dimensões, com tampo em mogno polido brilhante, da Oitoemponto, faz-se acompanhar por cadeiras estilo Luís XVI. O casamento feliz entre o branco e amarelo, cor quente e luminosa, adiciona personalidade ao ambiente, cujas linhas clássicas saem reforçadas pelo lustre de cristal, em Murano branco, refletido na parede parcialmente revestida a espelho.
Neste projeto, concluído há dois anos, a dupla de profissionais deu especial atenção às áreas mais íntimas da casa, a saber: três suítes, uma das quais master. “A transição entre o quarto de vestir, com chaise-longue do século XIX, o quarto, de paredes forradas a painéis de veludo, e o miniginásio é a parte preferida pelos moradores. Como tem acesso da garagem, através de um elevador, é uma área de muito fácil acesso e de grande conforto”.
Pensada como uma sala de banho, intercalando o uso do espelho com o mármore negro, cuja elegância reflete um luxo subtil e genuíno, a casa de banho principal possui banheira de hidromassagem e uma zona de maquilhagem, com um balcão estilo anos 40.
Contemporânea, a habitação assume-se como uma construção nova com visual antigo. “Possui um ar de 50 anos”, referem os autores, prosseguindo: “É uma casa muito vivida, muito usada, porque tem sempre muita gente. As divisões mais utilizadas são a sala de pequeno-almoço, sala de televisão e cozinha. Não é uma casa de representação, é uma casa familiar”.
Com o prazo de validade que os proprietários determinarem, este projeto distingue-se por valores de qualidade e excelência intemporais, que funcionam hoje como no futuro. “Resistente, não é uma casa de moda”.