Ao entrar hoje nesta casa ninguém consegue imaginar aquilo que era, em 2005, quando Paulo Nickel a encontrou pela primeira vez e se apaixonou por ela. “Estava fechada há 10 anos, completamente destruída, e tinha sido usada como escritório nos últimos 30”, começa por contar o proprietário e odontopediatra, natural do Brasil, mas a viver em Portugal há 27 anos. Tudo aconteceu porque procurava uma morada ampla para recuperar, “com características clássicas. Era importante ter portas altas de abertura dupla, soalho em madeira, tectos de madeira e azulejos que pudessem ser recuperados. Um espaço que tivesse alma e história… para que assim pudesse revitalizar e fazer renascer um pouco da história que estaria esquecida e descuidada”, refere Paulo Nickel.
Foi isso que se passou em plena Baixa de Lisboa, neste apartamento, com 220m e 11 divisões, cozinha, sala de jantar, sala íntima, escritório, dois quartos com closet, sendo um deles em suíte e duas casas de banho.
Embora o projeto de recuperação estivesse bem idealizado, na prática, o dono precisava da ajuda de profissionais para transformar desejos num plano concreto e realizável. Os responsáveis foram o arquiteto João Paulo Reino e o historiador Tiago Luís, da ME Arquitetos, a quem o proprietário transmitiu que toda a intervenção nos materiais fosse realizada segundo as técnicas próprias de restauro. “Apesar de as casas de banho terem sido criadas de raiz, os tectos de saia-camisa e as portas, bem como os estuques e tabiques foram recuperados. A título de exemplo, os azulejos da cozinha foram retirados tratados e recolocados com a técnica original”, explica Paulo. Ainda na cozinha, a antiga chaminé foi mantida e adaptada ao fogão, já o armário das lenhas, depois de preparado recebeu o frigorífico side by side.
Um ano depois, as obras estavam prontas dando assim lugar à fase seguinte – a decoração, que foi conseguida sem pressa. “De origem, a casa foi pintada com cores mais quentes e só com ela já habitada é que se reparou que a exposição solar, a sul, a presenteava com uma luz única. Este foi o princípio de tudo… O renascer do espaço… Tudo passou a branco e, a partir daí, as combinações foram sendo criadas,” revela Paulo, grande entusiasta da decoração.
Com o objetivo de criar um ambiente tranquilo e masculino e também por combinar bem com o branco, o cinzento passou a pintar algumas das paredes.
Nesta nova fase, Paulo tratou de cada detalhe com vagar. Claro que, destaca, “há muitas peças de mobiliário e arte que têm transitado para outras casas, sou muito ‘agarrado’ aos meus objetos, não a um sofá ou cama, mas a quadros e peças de decoração. Preservo uma forte ligação a tudo, foram anos a adquiri-los”. Entre as poucas novas aquisições estão os sofás, graças à escala que a casa apresenta, o pé-direito permite uma volumetria de objetos mais específica. Por todas estas razões, este apartamento é especial e, curiosamente, até conseguiu presentear o proprietário com uma mesa de mármore original, encontrada depois de ter sido removido muito entulho. Numa outra divisão, apareceu um troféu de caça (palanca) assim como uma gravura de uma revista editada no Rio de Janeiro, que assinalava a visita da princesa de Gales ao Brasil, uma edição Brasil/Portugal, de maio de 1884, estes dois achados estão agora integrados na decoração. “Pretendi imprimir uma vida nova a esta casa, dar-lhe a importância e dimensão que merece. Hoje, é uma casa muito habitada, sempre em festa, a receber amigos, de portas abertas…,” diz Paulo, feliz com todo o projeto. É que, apesar de não ter formação na área, gosta do exercício de experimentação e paciência que a decoração exige. Por isso, admite, uma casa nunca está pronta, nem nunca se sente dono absoluto das suas moradas: “Nós é que fazemos as casas e criamos o nosso cenário, não o contrário”, conclui.
Decoração: Alma própria
Em plena Baixa de Lisboa, um projeto de recuperação devolveu dignidade a um apartamento com arquitetura tradicional portuguesa, enriquecido com arte, antiguidades, mobiliário contemporâneo e de família.
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