Conte-nos um pouco sobre o seu percurso…
Nasci na Suíça e cresci em França. Regressei a Lausanne para estudar Design Industrial na ECAL (École Cantonale d’Art de Lausanne), onde me formei em 2012, e atualmente dou aulas. Tive o privilégio de receber o Grand Prix du Jury do festival Design Parade 7-Villa Noailles (2012), de conhecer a Galerie kreo e colaborar com ela, assim como de ser designer residente no CIRVA (Centro de Pesquisa em Arte e Vidro em Marselha) e desenvolver as coleções Vase Oreille e Vase Coque. Paralelamente, trabalhei com o designer Pierre Charpin e também com Mathieu Peyroulet Ghilini, entre 2013 e 2016. Tenho lembranças fantásticas das nossas discussões e como essa experiência me enriqueceu imenso a nível cultural.
A sua abordagem ao design e a sua filosofia de vida refletem-se no seu trabalho?
Creio que é uma questão de equilíbrio-inventividade, sensibilidade para as formas e inteligência na maneira como são criadas. A harmonia é muito importante para mim. Procuro ter um bom relacionamento, dedicado e totalmente envolvido, mas também respeitoso, com a minha equipa e o cliente.
De onde lhe vem a inspiração?
Da longa história do objeto. Alimento-me de livros e museus, que exibem peças antigas, bem como da história do design moderno. Ao criar um objeto, misturo muitas referências para encontrar algo novo. Também me inspira a maneira como as coisas são feitas. Às vezes, um detalhe técnico, know-how especial ou apenas um gesto são o ponto de partida para um objeto.
Como é o seu processo de criação?
Pesquiso muito no início. O meu processo passa por muitos desenhos e, inevitavelmente, por deitar muita coisa fora. Portanto, trata-se de ter ideias, mas, acima de tudo, tomar uma decisão, aperfeiçoar o desenho e manter apenas o essencial.
Quanto tempo leva a projetar um produto?
Depende muito. Pode demorar uma semana ou anos. Para a Tectona, por exemplo, o desenvolvimento da cadeira e da mesa levou três anos. Para a Trame, marca para a qual projetei uma coleção de tapetes e uma variedade de utensílios de mesa, demorei seis meses, desde os primeiros desenhos até ao lançamento. As primeiras ideias não levam muito tempo, o desenvolvimento delas é que se torna interessante. A qualidade de um projeto está nos pormenores. Às vezes, prazos curtos também são um bom contexto para manter uma boa energia e certa espontaneidade. Dou um exemplo: estive dois meses na Casa Wabi, no México, a realizar um projeto com um ateliê de tecelagem. E o resultado foi ótimo! Portanto, o tempo é um parâmetro, porém não é a única chave para um bom projeto.
O que prefere: desenhar objetos, iluminação, mobiliário?
Têxteis. E vidro. Prefiro não ter que escolher entre tipologias ou materiais. Acima de tudo, gosto de reinventar e descobrir.
E qual a área do design mais desafiante?
É a iluminação. Podemos pensar que tudo pode ser iluminação se colocarmos uma lâmpada. Mas não, é mais complicado que isso. É necessário haver um bom equilíbrio entre o aspeto decorativo e o lado funcional. É um objeto sensorial, cuja luz tem um grande impacto no nosso conforto e na forma como nos sentimos no espaço.
Quem os designers que mais admira?
Poul Kjaerholm e Charlotte Perriand.
Como imagina o interior de uma casa daqui a um século?
Áreas pequenas, mas funcionais, muito táteis, com têxteis e elementos ‘quentes’, plantas. Tenho a certeza de que ainda teremos vasos e tapetes. A tecnologia será completamente integrada de uma maneira que não consigo imaginar.
Se pudesse, o que mudaria no panorama internacional do design?
Bem…, mudaria muitas coisas. Empresas e designers devem ser mais aventureiros e consistentes. Estamos a produzir demasiadas coisas. Mas o mais importante, e provavelmente o ponto principal de ser sustentável, é produzir produtos de qualidade que durem muito tempo. O lado consumista do mundo do design está a substituir a parte enriquecedora, cultural e humana que a criação tem. Não devemos esquecer a beleza de criar e viver com o objeto e o valor que este agrega à vida humana.
FOTOS: Cedidas
Entrevista publicada na edição nº 274 da Caras Decoração