Como foi o processo de criar a nova coleção Palatine, composta por mesa de refeições, aparador, sofá e poltrona, acabada de lançar pela Roche Bobois?
Esta coleção nasce das minhas fontes de inspiração, que são a arquitetura, a escultura e, sobretudo, o amor pelos materiais. Gosto de matérias naturais: pedra, madeira. Começo sempre pelo material e, a partir dele, crio formas. Um pouco como um escultor. No caso do sofá Palatine, por exemplo, procurei criar uma peça confortável, acolhedora, arredondada. É um elemento que muitas vezes colocamos no centro da sala. Logo, é preciso trabalhar os diferentes ângulos e todos os pontos de vista, para que o assento seja bonito de frente, de lado, atrás. Trabalha-se a forma, mas também o volume e os detalhes. Caso do tecido. É um trabalho de escultura e design, assim como de fabrico e alfaiataria, o que é bastante interessante.
A materialidade é um dos principais aspetos desta coleção e do seu trabalho?
A matéria, como já referi, mas não só. Esta coleção é muito estruturada. Provavelmente, um pouco simples até! Para cada elemento há uma função. Mas, na verdade, o que me interessa é trabalhar na qualidade da fabricação. Logo, a par da escolha e conjugação de bons materiais, a excelência na execução do produto é muito importante. Além disso, é necessário respeitar os clientes, oferecendo-lhes algo bem desenhado, bem concebido e muito bem feito. Mais qualidade e atratividade para que as pessoas experimentem emoções através do mobiliário.
Qual é o seu material de eleição?
A madeira, sem sombra de dúvida, porque é uma matéria natural e intemporal. Trata-se de um material acolhedor, que envelhece bem. As peças feitas em madeira, embora caras, são um bom investimento, pois resistem bem à passagem do tempo e não ficam desatualizadas. Na verdade, tenho sempre essa preocupação como designer. Procuro criar produtos duradouros e reconfortantes, que correspondam a uma necessidade e função.
Esta não é a sua primeira colaboração com a Roche Bobois…
Não, começámos a colaborar em 2002, quando fiz a primeira coleção para a marca. Desenhei de tudo, do mobiliário à iluminação, para a sala, a casa de jantar, o quarto, o escritório… Havia todo um conjunto de peças. No caso da Palatine, a ideia não era fazer tudo. Esta nova coleção é composta apenas por elementos que eu tinha vontade de desenhar, deixando, no entanto, espaço em aberto para peças que podem vir a ser criadas e lançadas posteriormente.
Teve ‘carta branca’ para desenvolver a coleção Palatine?
A Roche Bobois disse-me: “Faz o que quiseres, o que te inspirar.” Deu-me carta branca e isso é incrível. Não houve limitações e eu gosto dessa liberdade criativa.
Porque é que acha que a marca o elegeu como o designer mais indicado para desenhar esta nova gama?
Porque, na verdade, adiciono uma sensibilidade à matéria natural. Não vou desenhar uma cadeira de plástico, uma vez que não é essa a minha abordagem. Creio que colaboram comigo pela suavidade, expressa através dos materiais naturais, e pela forma de desenhar. Tenho essa particularidade que a Roche Bobois gosta e os clientes da marca apreciam. Já são vários anos de colaboração. A arquitetura, as inspirações, as matérias naturais, os móveis bem feitos: é essa a minha assinatura.
A sua ‘assinatura’ tem um estilo?
É um estilo contemporâneo, intemporal, mas não é minimalista, porque hoje em dia gosto de formas um pouco mais complexas, orgânicas. Arrisco mais. O minimalismo é apenas a função e, às vezes, vou além do minimalismo. Também porque misturo diferentes materiais. Muitas vezes considero-me muito mais um artesão que trabalha a matéria do que um designer. Gosto de ‘moldar’ a madeira, a pedra…
O que prefere: desenhar peças ou assinar projetos de interiores?
São competências e ritmos diferentes. No entanto, gosto muito mais de desenhar móveis do que de projetar interiores. O design de produto possibilita muito mais encontros, trocas, e uma peça pode ser fabricada em três meses, ficando imediatamente disponível, enquanto um projeto de arquitetura de interiores pode estender-se por muito tempo, sendo mais ‘fechado’, pois trabalha-se para um cliente, um grupo pequeno, um casal, uma família, e fica por aí.
Qual é a sua peça de mobiliário favorita?
Sou muito ligado, por exemplo, às mesas de refeição. A mesa, para mim, é um elemento muito importante numa casa, porque é sinónimo de partilha, família, recordações. Acho que é uma peça muito poética, porque, quando estou à mesa, lembro-me das refeições em família, das conversas que ali tivemos. Gosto muito de mesas porque criam memórias. Em janeiro do ano passado lancei uma mesa chamada NIN (editada pela Delcourt Collection). Gosto muito dela. É como se fosse um tronco de árvore que cresceu ao lado de outro, paralelamente, apresentando um emaranhado de ramos.
Existe alguma coleção da sua autoria de que goste particularmente?
É um pouco como os filhos, escolho sempre o último, aquele que acabou de nascer, porque é mais frágil, precisa de apoio e acompanhamento. Não sou o tipo de pessoa que olha muito para trás. Na verdade, olho mais para a frente, para o que se segue.
E o que se segue?
Relativamente à Roche Bobois, espero que continuemos a colaborar e haja uma continuação da coleção, através de novas peças, uma mesa de centro, um sofá de canto, entre outros complementos. Para o Salão do Móvel de Milão (que acontece de 16 a 21 abril) estou a preparar a minha colaboração com a Baxter, assim como a minha coleção, Delcourt Collection. E, para já, mais não posso revelar.
FOTOS: cedidas
Entrevista publicada na edição 320 da Caras Decoração