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Quem é a Sofia? Sofia Manuel, a cuidadora de plantas
Sou uma apaixonada por matemática, sou uma pessoa muito alegre, social, sociável, e via que o mundo das matemáticas não estava relacionado com isso. A única forma que tinha de escapar a esse “negro” era através das plantas. Um amor que foi aparecendo, pois nem sempre tive contacto com ele. Tudo começou com a minha avó, que tinha plantas por todo o lado. Quando tive a minha primeira casa, achava que faltava alguma coisa, trouxe a primeira plantinha e, claro, cometi todos os erros que era possível cometer, e por causa disso fui estudar. Fui trazendo mais uma e mais uma e outra, hoje são mais de 200. Juntei dois mundos que amo, a ciência, as plantas, e a parte de me relacionar com pessoas. Gosto muito de ensinar, de descomplicar. Tive de me proteger e tirei um curso de Garden Design – neste momento posso fazer projetos paisagistas – e cursos mais ligados à botânica. Foi um caminho lento, mas cheguei ao sítio onde estou hoje. Cheguei a casa! Sofia Manuel, a cuidadora de plantas
Qual foi a tua primeira planta?
Um aloe vera, não morreu, mas definhou. Comigo desde 2016/17 e neste momento está no quintal dos meus avós. Cresceu tanto que teve de ir para lá. Cheguei a casa e pus o bichinho num corredor sem luz, uma pessoa que vem das ciências e nem pensa – esta planta alimenta-se? Fazer a fotossíntese para quê? Todos aprendemos o conceito de fotossíntese. As árvores estão lá fora e precisam de fazer a fotossíntese, precisam de luz para viver. Alguma coisa nos acontece que nos faz perder conexão com a Natureza. Pus um aloe vera, uma planta extremamente exigente quanto à luz, num corredor sem luz. Quando comecei a vê-la definhar, o que fiz? Dava-lhe água e mais água. Exatamente o contrário do que se deve fazer a uma planta que é capaz de viver meses sem ser regada. Graças a Deus, apercebi-me do que estava a fazer antes de a matar completamente. Sofia Manuel, a cuidadora de plantas
Qual é a planta de que mais gostas?
Não tenho uma planta preferida, adoro todas – uma mãe adora todos os filhos por igual. Mas, na verdade, há uma planta super-resistente, aquela que recomendo para quem tem uma vida mais agitada e quer ter uma planta. É a “zizi” – Zamioculcas zamiifolia. Tenho quatro “zizis”. Sofia Manuel, a cuidadora de plantas
Para quem gosta de plantas, mas pouco sabe do assunto, qual a tua primeira orientação?
Temos de perceber que todas as plantas precisam de fazer fotossíntese. Uma planta que esteja dentro de casa tem de estar perto de uma janela.
Todas?
Todas. Um truque é pôr a nossa cabeça ao lado das folhas da planta. Se a planta vê o céu, está num bom sítio. Se não o vê, está num péssimo local, portanto não vai sobreviver. Se quisermos pôr plantas afastadas da janela, temos de optar por plantas que sobrevivam a condições com menos luz. Se as colocamos num sítio pouco iluminado, as plantas odeiam-nos, sobrevivem mas não se desenvolvem. Se tivéssemos sempre fechados em casa, sem vitamina D, acabávamos por falecer brancos, pálidos, esquálidos. Mas há plantas que precisam de sol direto e outras só de claridade
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Quais as plantas que gostam de sol direto?
A oliveira. Está muito na moda a oliveira caniche, a oliveira muito cortadinha no meio das nossas salas. A oliveira é daquelas plantas que vai demorar muito tempo a dizer: “Eu não estou feliz.” Começam a aparecer as pragas, perde folhas. Quando a oliveira começa a perder folhas, acabou, já não há mais nada a fazer. É daquelas plantas que precisam de sol o dia todo. Onde é que as vemos? No Alentejo, ali a esturricar ao sol, e depois queremos reproduzir a mesma coisa dentro das nossas salas. Uma planta não é um vaso. Uma planta não é uma taça. Podem servir como decoração, claro. Posso dizê-lo: uma casa com plantas é vida em casa, só que têm as suas limitações e necessidades.
Cinco plantas fáceis de cuidar.
A potus, mais conhecida por jiboia. Só se rega quando está seca, consegue adaptar-se bem às condições de luz. Deve estar perto de uma janela. É uma trepadeira maravilhosa. A “zizi”, Zamioculcas zamiifolia, é regar só quando está seca. Todas estas plantas secam a ritmos diferentes, tenham isso em atenção. Nunca nos podemos guiar por uma amiga, porque a casa dela é completamente diferente da minha: tem temperatura, humidade e exposição solar diferentes e o substrato de cada planta é diferente. A espada-de-São-Jorge, outra planta que aguenta tudo. Há pessoas que têm espadas-de-São-Jorge meses e meses dentro de casas de banho sem janelas – estão a sofrer! Quando começarem a definhar, vão morrer de vez. Não façam isso, mas é só para mostrar o quão forte e resistente ela é. Tolera pouca luz, mas o que gosta é de muita claridade. A Monstera deliciosa, conhecida por costela-de-Adão, pode atingir tamanhos astronómicos. Quem não quer ter uma planta ‘astronómica’ dentro de casa? Todos querem. A Pilea peperomioides é muito pequenina, boa para casas pequenas. É pouco exigente relativamente aos cuidados: regar quando está seca, bastante luz, como todas as outras.
Numa casa com pouca luz, o que se faz?
Temos uma escolha limitada. As etiquetas que vêm nas plantas são péssimas quanto à frequência de rega, porque aquela etiqueta não sabe se a casa está a 40°C, a 30°C, a 20°C, um gelo, se moras no Fundão, Lisboa ou Porto. Naquelas etiquetas podemos ver a quantidade de luz de que a planta precisa. São bons indicadores. Escolher sempre plantas que indiquem aquela nuvenzinha, são plantas que conseguem aguentar-se em ambientes mais escuros. Outra coisa a fazer é espalhar espelhos. No meu quarto tenho um espelho numa posição que parece ter sido a decoradora a colocá-lo lá. Está lá porque a uma certa hora do dia o sol bate e reflete a luz para o ponto escuro do quarto. As plantas odeiam os cantos, precisamente porque são escuros.
E a rega?
Quando regamos a terra, a água fica lá para a planta consumir. Se a planta tem muitas reservas – folha grossa, caule grosso, raiz grossa –, vai consumir a água lentamente. Se a planta tem folha fina, caule fino e raiz fina, vai consumir a água rapidamente. Consoante a luz, também a consome mais rapidamente ou mais lentamente. Mais luz, mais fotossíntese. O que é essencial para a fotossíntese? Água. Em casas com mais luz a rega é mais frequente. Tenho plantas que durante o verão rego de dois em dois dias e no inverno rego uma vez por mês.
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Como sabemos se devemos ou não regar?
Temos uma ferramenta caríssima que podemos utilizar – o dedo. Espetamo-lo na terra, se não sentirmos ponta de humidade, se não ficar molhado, podemos regar. Quando o dedo sentir humidade, ficar molhado, vamos esperar mais uns dias. Se não quisermos usar o dedo, um pauzinho de sushi é perfeito.
As folhas amarelas são sinal de falta de água ou falta de luz?
Nenhuma folha vai durar a vida toda. Numa planta com uma ou duas folhas amarelas, das mais antigas, está tudo bem. É só a planta a descartar-se daquela estrutura mais velha. Quando uma folha começa a amarelar, temos tendência a cortar. Não devemos fazer isso, porque a planta tem um mecanismo incrível: todos os nutrientes presentes naquela folha (os nutrientes móveis) estão a ser passados para o resto da estrutura. Só podemos cortar (isto na Natureza não acontece, eventualmente cairão) se realmente estiver a fazer confusão, e só o devemos fazer quando está completamente amarela. De um momento para o outro muita folha amarela: normalmente, é água a mais e luz a menos as duas causas principais.
Quando estivemos juntas, num workshop a convite da Velux, fiquei a saber que recolhes a água da chuva para a rega.
É a melhor água que existe para as plantas. Passamos por um período de seca, meses sem chover, não se apanha aquela chuva nas primeiras duas a três horas porque vem poluída. Mais tarde vamos para a varanda com tudo: panelas, tachos. Aquela água ia ser desperdiçada e é perfeita para as plantas, poupa-se dinheiro. E pode ser guardada durante meses num sítio escuro. Tenho garrafões de água em casa prontos para serem usados no verão. Sofia Manuel, a cuidadora de plantas
E janelas da Velux, por exemplo, são importantes?
Na verdade, só queria ter uma casa toda em vidro para ter todas as plantinhas que quisesse. Infelizmente, temos limitações. Uma casa com muita luz é uma casa feliz.
Mais algum conselho?
Deixem de tratar as plantas como simples elementos decorativos. Não são. São seres vivos, que têm necessidades, exigências, a que precisamos de atender. Ninguém quer ter uma planta a definhar. Uma planta colocada num sítio onde não pertence vai odiar-nos de morte. Não queiram uma plantinha, que é a coisa ‘mais perfeita’ que Deus criou, a odiar-vos. Vamos respeitar as suas necessidades. Já as estamos a pôr dentro de casa, já não estão muito felizes. Portanto, vamos dar o mínimo de condições para viverem melhor.