Como se define: artista têxtil, artesã?
Defino-me como escultora têxtil por traduzir melhor o que faço enquanto artista.
De onde vem o interesse pelos têxteis?
De uma infância feliz vivida num contexto onde os tecidos, as linhas, as ferramentas foram muitas vezes os brinquedos preferidos. A cor de cada novelo ou dos tecidos talvez tivesse sido o despertar para trabalhar o gosto por fazer composições através da roupa, que fazia e vestia, ou quando criava texturas em quadros para decorar as paredes de casa.
O que mais a fascina na área têxtil?
A versatilidade dos materiais e a capacidade que a matéria-prima oferece com as suas características peculiares e bastante adaptadas a diferentes soluções. É um crescendo perceber o potencial infinito dos têxteis como meio de criação, tanto pela sua maleabilidade, quanto pela carga emocional que carregam.
Qual é a sua abordagem artística?
A minha abordagem é intuitiva e muito experimental. Como estrutura para as esculturas vou buscar uma técnica de cestaria e gosto de explorar as possibilidades dos materiais, de transformar algo comum, fácil de ser observado, em algo inesperado e único. A fusão entre o conceito e a forma é sempre o que me move.
Existe um estilo que defina o seu trabalho?
A minha linguagem, a minha impressão digital, combina a organicidade com a percepção do que observo. Gosto de criar obras que refletem equilíbrio, transformação e sustentabilidade, explorando a relação entre o natural e o humano.
Quais são as suas influências?
Formalmente sou inspirada pela cultura da Bauhaus, escola que deu origem a artistas que criaram um diálogo único e aparentemente impossível entre o artesanato e a arte. Sonia Delaunay e Anni Albers serão sempre uma referência. O que observo nas pessoas e aquilo que a natureza me devolve são também pontos de partida e isso reflete-se no meu processo criativo.
Como parte para o processo de criação?
No meu processo criativo há sensações, sons e imagens ou objetos que são desconstruídos e representados inicialmente por um desenho simples e cru. Depois, deixo os materiais e a cor guiarem-me. Frequentemente, começo por experimentar as fibras até que as formas ganhem alguma vida.
O que mais gosta de criar?
Todas as peças esculturais que provoquem uma ligação emocional com o espaço onde vão ser expostas. Gosto especialmente de obras que exploram formas orgânicas, como se fossem uma extensão do mundo natural, que contenham uma história para contar. São esculturas que vivem para se contemplar a beleza.
Que cores, materiais e suportes mais utiliza?
Várias… A cor é uma direção que o objeto toma. É o primeiro elemento que se destaca, pelo que tenho uma paleta diversificada. Identifico os tons vibrantes que gosto de contrastar com cores mais neutras. Trabalho, sobretudo, com fibras naturais, elegendo a lã e as fibras vegetais como materiais nobres. Pela estética e sustentabilidade, integro quase sempre materiais reciclados, porque gosto de explorar e reutilizar as cordas que recolho nos meus passeios pela praia.
Há algum material por experimentar?
Gostaria de trabalhar com as novas fibras têxteis produzidas a partir da proteína do leite,
por exemplo, explorando a possibilidade de interação com as fibras tradicionais.
O que se segue (projetos, workshops)?
Estou envolvida em dois projetos singulares. O primeiro é a participação num trabalho que integra inteligência artificial no processo criativo. O outro é a Ingrina – House and Studio, a minha casa na praia, com o meu acervo, aberta a receber quem procura um estúdio para criar ou uma estadia tranquila, na Costa Vicentina, perto de Sagres. Entretanto, estou a criar e produzir peças para espaços a inaugurar em 2025 e os workshops (mariapratas.com/workshops) continuam a acontecer por marcação, geralmente no meu ateliê, com experiências guiadas e livres, dedicadas a partilhar técnicas e a inspirar outros a explorar o universo da escultura têxtil.
FOTOS: cedidas