– Começou a fazer televisão em 1978. São muitos anos a aparecer nos ecrãs…
Dina Aguiar – É verdade. Costumo dizer que há protecção divina, que o Universo cria condições para eu poder estar no local certo, à hora certa, com sanidade mental, inteligência, saúde, aparência física, mas eu também vou fazendo por isso.
– Parece ter uma filosofia de vida muito positiva…
– Completamente. Para mim não há obstáculos, mas sim desafios. A vida é um processo de aprendizagem, de crescimento espiritual, de partilha, de amor. A minha filosofia é acreditar que aqui e agora tudo pode acontecer de bom, mesmo as coisas menos boas têm sempre algo de positivo. Vivo com intensidade de maneira a que, quando morrer, possa morrer tranquila por já ter feito tudo o que queria.
– E acha que já fez tudo o que queria?
– Não, acho que tenho ainda muita coisa para fazer, mas não sei se o Universo acha que sim. Eu continuo com projectos como se tivesse 20 anos, mas não faço grandes planos. Os meus pais construíram um império com o seu trabalho depois dos 70 anos. Aprendi com eles e com a vida a não fazer planos, a viver um dia de cada vez. Cada pessoa deve procurar aquilo que a faz feliz, e eu procuro melhorar o que sou, enquanto ser humano.
– Foi o que fez com o seu visual? Tentou melhorá-lo ou deixou de gostar da sua imagem?
– Acho que tem que ver com a responsabilidade que tenho perante os telespectadores. Se nós pudermos melhorar um pouco… Da mesma forma que vamos ao cabeleireiro, à esteticista ou à maquilhadora, também podemos melhorar com estas intervenções.
– Mas fê-lo apenas pela responsabilidade para com os telespectadores ou também para se sentir bem consigo própria?
– Também para me sentir bem, mas não é uma obsessão. Quero melhorar, mas também não tenho nada contra as rugas. Tem que se encontrar um equilíbrio. Eu vivo a vida de momento a momento, e aconteceu, mas isso não quer dizer que o volte a fazer.
– Mas começou a desagradar-lhe a imagem que via na televisão?
– Não cheguei ao ponto de achar que tinha uma imagem desagradável.
– Mas alguma coisa a incomodava?
– Não sei… Acho que foi a oportunidade. O Universo encarregou-se de me dar sinais a dizer que aquele era o momento.
– E quando é que realizou a operação?
– No dia 11 de Dezembro e, menos de um mês depois, a 5 de Janeiro, já estava a trabalhar.
– Nota a diferença quando se vê ao espelho?
– Eu noto mais do que as outras pessoas. Para mim houve uma melhoria subtil. É ridículo as pessoas esconderem que fizeram uma plástica quando às vezes até se nota bem. Tudo existe no planeta para nos servir. Se tivermos acesso às coisas, devemos usufruir delas. A vida é nossa e devemos fazer com ela o que entendemos. Mas temos que ter noção dos limites, porque cada causa tem um efeito e o segredo da minha felicidade é ter a noção dos meus limites. Temos primeiro que saber quem somos, aceitarmo-nos como somos, gordos ou magros, com ou sem defeitos, evoluir e valorizar o que temos de positivo.
– Sente a idade que tem?
– Não, não tenho idade. Dentro de mim tenho tempo e experiência.
– Sente-se mais jovem…
– O facto de se viver a vida no momento, no aqui e agora, transpõe-nos para um presente em que não há passado nem futuro. O presente é mesmo um presente no sentido de oferenda, do Universo, de Deus, se quiser. Sinto-me uma pessoa com energia e de bem com a vida.
– E a sua neta apercebeu-se da mudança?
– Não. Ela tinha apenas um ano, as alterações não foram assim tão significativas. Se calhar, o segredo é a pessoa não deixar chegar ao ponto em que já não dê para minimizar o ar pesado.
– Mantém algum relacionamento amoroso?
– Não.
– E ainda tem energia para partilhar a vida com alguém?
– É como tudo na vida: estou sempre receptiva a conhecer alguém especial, mas também estou bem sozinha, é uma coisa que não me incomoda nada. Estou tão bem na minha pele… Sou auto-suficiente, não preciso de ninguém para viver. Se acontecer, tem de ser alguém muito especial. Aprendi a ver o amor e o equilíbrio nas mais pequenas coisas, não tem de ser necessariamente numa pessoa. O amor é o motor fundamental da minha vida e está em todo o lado.
– Tem tido pretendentes ou é muito exigente?
– Sobre isso… não me queixo. [risos] Para mim, é essencial amar com responsabilidade, respeito, fidelidade e integridade, mas acho que não devemos andar o dia todo a cobrar. Não gosto muito de perguntas nem de ter que dar satisfações. Sou muito independente, não sou nada chata nem intrometida. Mas sou exigente e intuitiva, não me deixo levar facilmente.
– E as pessoas que estão ao seu lado não se sentem incomodadas com esse desapego?
– Acho que ao meu lado algumas pessoas se sentem inseguras porque, de uma forma geral, as pessoas gostam de sentir uma certa dependência num relacionamento. Mas eu sou assim, o que posso fazer?
– Com uma vida tão agitada como a sua, consegue ter tempo para dedicar à sua neta?
– Não muito. Não sou uma avó tradicional, porque ainda estou muito no activo. Felizmente a minha filha também não precisa desse suporte familiar, porque tem a vida organizada com o marido e a empregada, caso contrário, eu seria muito má ajuda. Aliás, não sei o registo que ela tem desta avó, mas nesta fase ainda devo ser tipo extraterrestre. Só sou certinha no horário da televisão, porque de resto encontra-me nos sítios mais estranhos: ou no meio do trânsito, ou no cabeleireiro da outra avó, Manuela… Agora foi numa sessão fotográfica. Não há rotina no nosso relacionamento!
– Lamenta não ter esse tempo para acompanhar a neta?
– Acho que irei ter oportunidade de fazer o meu papel de avó, de intervenção e de convívio com ela e com a
Mia [a filha de Dina Aguiar,
Ana, está grávida de oito meses de uma menina]. Eu própria também criei a minha filha sozinha com o pai dela, uma vez que os meus pais estavam longe e os avós paternos não estavam muito presentes. Também não sou uma mãe convencional: não me meto na vida dela, não tenho tempo para ir a casa dela… Não vou para lá passar a roupa a ferro ou arrumar-lhe a casa, pois não tenho nada que ver com isso. Não sou interventiva dessa forma. Graças a Deus que não precisa.
– Quando é que se separou do pai da sua filha?
– Quando ela tinha oito anos.
– Ela acabou por herdar a sua veia artística…
– Sim, creio que é de família, porque há muita gente criativa na família Aguiar. O meu pai era autodidacta da música, a minha mãe era mais virada para a criatividade em trabalhos manuais, e tenho vários primos artistas.
– Transmitiu à filha esse interesse pelas Artes?
– Nunca lhe incuti nada. Se há uma carga genética, ela herdou-a mesmo, porque eu nunca lhe disse para pegar em pincéis. Aliás, quando fez os testes psicotécnicos na escola, disseram-lhe logo que tinha de ser pintora, apesar dela dizer que queria seguir Arquitectura ou Escultura. Agora criou um projecto para crianças, a Anicolors, que transporta para telas o imaginário da cor e dos animais. E está já a preparar colecções de roupas e livros infantis.
– E onde estão as artes plásticas na sua vida? Continua a pintar e a expor com regularidade?
– Continuo a pintar porque, quando se tem mais do que uma ocupação, é difícil concentrarmo-nos só numa. O meu trabalho principal é a televisão, e agora que apresento também o
Jornal do País, na RTPN, que é uma síntese das notícias do
Portugal em Directo, que apresento à tarde. Portanto, ainda me sobra menos tempo. Durante a semana não tenho muito tempo disponível, mas pinto muito à noite e ao fim-de-semana. Quando tenho exposições marcadas, acabo por ter que pôr férias para acabar os trabalhos a tempo.
– Tem alguma exposição agendada?
– Não, mas estou a sentir necessidade de o fazer. A última que organizei foi com a minha filha, em Dezembro do ano passado, e foi dedicada à Sara:
Sarandeando. Agora estou mais concentrada em encomendas, sobretudo de retratos. Tenho também muitas telas antigas, algumas inacabadas, outras de exposições antigas de que já não gosto tanto, e apetece-me pegar nelas e fazer renascer qualquer coisa dali, até por uma questão de aproveitamento e não desperdício. Além disso, tenciono fazer uma exposição em Barcelona, um convite e um desafio do cantor catalão
Pi de La Serra, que conheço há muitos anos. Já tenho o conceito da exposição, faltam-me as coisas. Para expor não me faltam convites. Haja tempo para trabalhar!