– Foi complicado o percurso que o levou do Jamor até a uma das zonas residenciais mais luxuosas de Los Angeles?
– Fui emigrante cedo e à força, fui pai muito cedo… Tive de me adaptar a um sem-fim de exigências que a minha profissão acarreta… Não segui o processo natural de amadurecimento, cresci à medida das experiências que fui vivendo, e isso implicou muitas inseguranças. Hoje sinto-me orgulhoso disso, mas passei por muito… E consegui sempre não seguir por caminhos complicados, o que seria fácil, tendo em conta o meio que me rodeava.
– Foi pai no auge da sua carreira…
– Fui pai com vinte e um anos, logo após ter sido campeão pelo Benfica. Foram duas grandes alegrias. Estávamos na pré-época, na Suíça, quando recebi a notícia de que ia ser pai. Foi algo que aconteceu e que quis assumir, pelos meus princípios de vida, e fiquei muito feliz, mas hoje deixo o conselho de que as coisas devem ser feitas com mais calma. Porque ter filhos é um projecto de vida!
– E a verdade é que, a partir desse momento, a sua vida familiar não foi fácil…
– Não. Fui jogar para Itália e a minha mulher não se adaptou, porque o David era bebé e ela estava muito sozinha.
– E como é que ultrapassaram essa situação? – A partir daí, e ao longo do meu percurso no estrangeiro, a relação foi acontecendo à distância, para dar o máximo de conforto à minha mulher e aos meus filhos. Queria que eles fossem criados em Portugal, com uma educação sólida, próximos da família e sem perderem os amigos. Claro que isso teve consequências… uma delas foi a relação não resultar.
– Então, quando o seu segundo filho nasceu, a relação já era à distância…
– Sim. Estava sozinho em Inglaterra, a minha mulher só esteve comigo nos primeiros dois, três anos que joguei no estrangeiro.
– Sente que acabou por sacrificar a vida pessoal por causa da carreira?
– Tive que viajar para poder dar o melhor à minha família. Como pai, fiz sacrifícios que podem ser interpretados de maneiras diferentes, mas que no final tinham um objectivo: um dia podermos viver todos juntos em melhores condições. O meu pai e a minha mãe sempre trabalharam longe um do outro com esse objectivo. E eu quis fazer o mesmo – preservando sempre a família, nunca os abandonei, fiz inúmeras viagens para estar com eles -, mas não foi possível. E sei que a mãe dos meus filhos também fez grandes sacrifícios, teve e tem um papel preponderante na educação deles, e não posso deixar de ter apreço por isso.
– Depois da separação, conseguiu manter uma boa relação com a sua ex-mulher? – Esse é um tema complicado. Tento acima de tudo preservar os meus filhos e estou muito feliz por ter de novo uma boa relação com eles. E sinto que eles também estão felizes. A minha grande pedra no sapato é estar longe, mas não deixo de lhes dar toda a atenção. Quanto ao resto, há sempre relações que acabam, tem é de se ter cuidado na forma como isso acontece, porque as crianças não podem nem devem sofrer. Sempre disse publicamente, e reforço-o, que a minha ex-mulher é uma pessoa importante na minha vida. Deu-me dois filhos maravilhosos e é algo que lhe agradeço para sempre.
– Já os levou aos EUA?
– Sim, claro. Eles gostariam de estar lá, adoraram. É um mundo que estavam habituados a ver na televisão… Tivemos momentos de grande alegria. E a minha ida para lá tinha como objectivo reunir a família de novo. Acabou por ser a consumação da separação. Na altura em que encontrei o local que podia ser ideal para todos nós, com boas escolas, clima, mentalidade, e onde gostaria que os meus filhos se formassem, acabei por separar-me.
– Entretanto, iniciou uma nova vida nos Estados Unidos…
– Sim, com uma pessoa que conheci há algum tempo e que me deu alguma estabilidade emocional. Porque nas carreiras mediáticas existe uma decalagem entre o profissional e o emocional. É muito difícil conciliar as duas coisas. E ela ajudou-me bastante quando fui para Los Angeles, conhece a cidade como ninguém. Neste momento, é muito importante na minha vida. Espero que tudo corra bem entre nós.
– A Gabrielle já conhece os seus filhos?
– Sim. Fiz questão de apresentar a Gabrielle aos meus filhos. E eles gostaram muito de a conhecer.
– Ela gostou de Portugal?
– Adorou. Fiz de guia turístico para ela, o que me deu um grande prazer.
– E, entretanto, tem novos projectos em andamento…
– Sim, sei que não vou afastar-me nunca do futebol, porque é importante na minha vida, mas neste momento estou a encontrar maior prazer e satisfação em fazer outras coisas, como trabalhar no mundo do entretenimento ou da moda. E mais tarde vou ainda estar envolvido num grande projecto que vai ser lançado no ano do Mundial, em 2010, que é uma campanha humanitária em grande escala que vou lançar em África e que vai começar em Moçambique, espalhando-se depois por outros países.