Neta do musicólogo
João de Freitas Branco e bisneta do compositor
Luís de Freitas Branco,
Sofia Sá da Bandeira, de 46 anos, sempre viveu rodeada de notas musicais e ainda estudou piano na Escola de Música do Conservatório Nacional, mas a representação sempre fez parte do seu imaginário e, por isso, acabou por falar mais alto. Passou por dois casamentos que terminaram em divórcio – o segundo com um colega de profissão,
Nicolau Breyner -, e do primeiro teve dois filhos, Inês, de 26 anos, e
José Maria, de 21.
Foi durante uma conversa sem subterfúgios que Sofia falou de sentimentos e afectos, que gosta de explorar e sem os quais se recusa a viver.
– Sempre quis ser actriz?
Sofia Sá da Bandeira – Não, [risos] queria ser veterinária, mas a representação sempre fez parte do meu imaginário.
– Foi uma decisão facilmente encarada pela sua família?
– Os meus pais eram muito novos e sempre me ensinaram que desde que a pessoa sinta amor por aquilo que faz, tudo é importante. Eles encararam a minha opção profissional como outra qualquer que poderia ter seguido.
– Esteve durante algum tempo afastada das novelas e mais ligada à escrita. Agora voltou à televisão…
– Entrei na Vila Faia, pois era um projecto que me interessava, por ter sido o remake da primeira novela portuguesa e ter de certo modo que ver com a nossa afectividade. Actualmente, estou em gravações para a nova novela da SIC, em que me entusiasmou o facto de poder fazer uma personagem que nada tem que ver comigo. É como se tivesse de desaparecer dentro daquela personagem.
– E onde fica a escrita?
– Estou com um projecto bastante interessante, mas do qual ainda não posso falar, pois envolve outras pessoas.
– O facto dos seus casamentos terem falhado, tornaram-na mais céptica em relação ao amor?
– Não. Vejo o amor no sentido lato e acredito profundamente nele nesse sentido, de uma relação com outro que não nós. As ligações e as separações podem fazer parte do nosso crescimento. Se bem que há muitas ligações e separações em que a pessoa pensa que está a mudar, mas o fantasma continua a ser o mesmo. Muda-se de pessoa, mas há uma repetição das mesmas coisas. Quando fazia as crónicas do Expresso, falava sobre isso, sobre a mediocridade das relações. As pessoas vão de inferno em inferno e, no fundo, têm uma certa ternura por essa forma de estar e assim caminham até à morte. Acho que é muito mais libertador e construtivo a pessoa ter a coragem de não ficar em situações de mediocridade afectiva.
![A actriz A actriz](/users/0/15/sofia-sa-da-bandeira-b2b1.jpg)
– Nunca teve receio de arriscar, do desconhecido?
– Não, a vida é isso mesmo, é um risco. A vida é uma dinâmica para o desconhecido, e tudo o resto são tentativas de controlar essa própria dinâmica e até de nos iludirmos. A vida não é segurança, e não tenho medo de arriscar.
– Mas há quem prefira a segurança do que já conhece…
– Isso para mim é uma forma de morte. Claro que as rotinas são importantes para nos dar uma certa estruturação, mas acho que nos devemos interrogar e criar até ao fim uma relação de prazer com a vida. Acho que as pessoas devem separar-se com amor e até olho com ternura para as coisas que não deram certo.
– Consegue facilmente desligar-se de uma pessoa que a desiluda?
– Sou uma pessoa afectiva, mas o que vejo muito quando olho para trás – e falando em sentido amplo -, é que em situações em que é altura de partir não se deve sentir arrependimento, mas sim perceber que o que se deu foi o possível naquele momento.
– Tem facilidade em apaixonar-se?
– O que é apaixonar-se?! Acho que passa muito pela idealização de um outro. Encanto-me com as pessoas, mas sinto que não idealizo tanto as pessoas como fazia no passado, há uma outra maturidade.
– Encara bem a velhice?
– Completamente. As rugas são a nossa história. O envelhecer é também aprendermos a desencarnar deste mundo e encarar como uma dádiva. Por outro lado, tenho uma avó com 90 anos que trabalha 12 horas por dia, e isso também faz com que tenha um modelo que me faz não ter receios. Faz-me ter uma relação diferente com a idade. Não ligo muito à idade cronológica, mas sim à do espírito. Aliás, fiz anos há pouco tempo e pensei, "que privilégio". Interessam-me todas as fases da vida, aos 80, se cá estiver, estarei a recomeçar qualquer coisa.
– A sua filha Inês já saiu de casa. Foi uma fase difícil?
– Não, foi o começo de uma outra fase. A vida é um bolo e os filhos são uma fatia. Nós temos uma relação muito próxima na distância e entendemos que todo esse tipo de situações fazem parte da vida, e que se assim não fosse seria terrível.
– Que tipo de mãe é?
– Fui mãe bastante nova e crescemos juntos. Sou uma mãe próxima, temos uma relação divertida e íntima. Tenho um enorme respeito pelos meus filhos como seres humanos diferentes de mim e nunca impus nada, cada um tem a sua personalidade. Não vejo os filhos como um prolongamento narcísico meu, e acho isso assustador, quase como um filme de terror.
– Pela idade dos seus filhos, já poderia ser avó. Imagina-se nesse papel?
– Faz parte da dinâmica da vida, é algo natural.
– Fala abertamente da sua vida, dos seus filhos, mas não do lado amoroso…
– Tenho o máximo de cuidado em relação à minha vida privada e não gosto de falar sobre isso. Gosto de falar de projectos quando os acho interessantes.
– O que é que a faz feliz?
– Respirar, conversar, sentir empatia pelo outro. São momentos de intimidade excepcionais.