Em Janeiro de 2008,
Luís Norton de Matos, de 55 anos, abraçou um novo desafio profissional que o fez mudar de continente. O ex-treinador do Vitória de Setúbal deixou Lisboa e rumou até Dacar, a capital do Senegal, para desenvolver o projecto Étoile Lusitana, um clube que criou de raiz e que visa encontrar jovens talentos africanos que serão depois colocados no grande mercado europeu do futebol. Como não podia deixar de ser, a mulher,
Joana, de 35 anos, e a filha,
Maria, de 11, quiseram acompanhá-lo nesta aventura, e juntos têm vivido emoções que partilharam com a CARAS durante esta produção realizada no Suites Alba Resort & Spa, no Carvoeiro. Em Portugal ficaram os filhos mais velhos do treinador,
Luís, de 34 anos,
Bárbara, de 30,
Carolina, de 20, e a neta,
Luz, de três.
– A mudança para um país de cultura tão diferente não deve ter sido fácil…
Luís Norton de Matos – Para elas o choque inicial foi superior, pois tudo é diferente, desde a língua aos costumes, à pobreza, à realidade que se vive. Depois uma pessoa habitua-se e as coisas não são tão más como à primeira vista. Costumo dizer que ali enchemos o nosso vazio e esvaziamos o cheio. Ali toma-se atenção a novas coisas e não se dá tanta importância a outras. A Maria aprende coisas que queremos que façam parte da sua educação e que ali se tornam normais, como, por exemplo, a não desperdiçar comida.
– A Joana nunca hesitou em ir também?
Joana – Nem pensar, sempre disse que a minha realização pessoal passa pela minha realização familiar. A estabilidade familiar e da minha relação com o Luís é fundamental para mim. Apesar das novas tecnologias, não acredito em relações à distância, e acho que a pessoa tem de estar presente nas dificuldades e nas coisas boas, e viver o dia-a-dia. Tudo é mais fácil quando as coisas são feitas a dois, neste caso a três. [risos] Também sempre encarei isto pela positiva e como uma oportunidade de tanto eu como a Maria ganharmos novos pontos de vista.
– A Maria foi a vossa principal preocupação?
Luís – Claro que sim. A maior preocupação era mesmo a escola, mas conseguimos encontrar uma escola fantástica, um colégio americano onde ela tem colegas de diversas nacionalidades. Claro que lhe foi difícil deixar os amigos e a família, mas habituou-se e passou a gostar de lá estar. Até acho que em termos de bagagem cultural ela fica beneficiada, pois ali convive com crianças de todo o mundo, e isso obriga-a a ter uma mente mais aberta e a valorizar mais a sua vida.
– Agora já estão totalmente integrados?
– Sim. A Maria e a Joana também vêm cá quatro vezes por ano e acabam por estar lá apenas oito meses, eu é que fico mais tempo.
– E consegue ter tempo para estar com a família, visto que além de treinador da equipa é também director-geral e director desportivo, entre outras competências?
– Sim, talvez até tenha mais lá do que cá. Consigo organizar o meu tempo de forma a estar com elas. Tomo as refeições todas em casa, vou levar e buscar a Maria à escola e, normalmente, devido ao calor, passo a tarde em casa. Se calhar trabalho mais lá do que cá num clube, pois tenho mais afazeres, mas consigo ter uma vida familiar bastante normal.
– Sente que o seu sucesso também se deve à Joana?
– Não tenho dúvidas. A Joana tem sido uma heroína na forma como encara o meu trabalho e as mudanças que dele advêm. O ser humano adapta-se a viver em qualquer lado, mas é claro que há locais mais difíceis do que outros. Quando se vive num país com características do continente africano, e embora haja pessoas que gostam de estar sozinhas, eu preciso de ter a família, pois já basta a ausência de muitas das coisas a que estamos habituados, como o cinema. O apoio da família dá-me força para encarar tudo com naturalidade. A família é o sustentáculo de tudo, sobretudo quando tenho os meus filhos mais velhos e a minha neta em Portugal.
Joana – Apesar de fazer voluntariado e de criar algumas peças de roupa, por brincadeira, visto que lá há tecidos lindíssimos, não trabalho, e isso também nos permite passarmos mais tempo juntos. Este ano foi muito bom, pois como não há muitas solicitações, estamos muito em família e estreitámos muito os laços.
– Já partilham a vida há 16 anos. Como tem sido?
Luís – Com a Joana é muito fácil. Este é o meu terceiro casamento e, quando se parte para uma relação, achamos sempre que vai dar certo. Se isso não acontece, as pessoas ficam tristes. Mas, neste caso, é engraçado, porque encontrei uma pessoa como a Joana que me completa. Há um equilíbrio e uma amizade muito grande entre nós. Estes 16 anos que temos juntos passaram no arder de um fósforo. A Joana trouxe-me a sua juventude, maturidade, condescendência e eu tornei-me uma pessoa mais humana, menos egoísta.
Joana – Têm sido anos fantásticos, de muita cumplicidade, tolerância, participação activa na vida um do outro e sempre com grande paixão e amor. Têm sido anos tão ricos que às vezes até temos medo que alguma coisa aconteça e acabem. Somos um pouco a palma e o reverso da mão, quase como se fôssemos o mesmo corpo.
– O Luís é romântico?
Luís – Acho que há um romantismo em todas as pessoas que se manifesta de formas diferentes. Provavelmente haverá pessoas mais românticas do que eu, mas naquilo que é a essência do romantismo, ela existe. Não sou muito de ligar a datas, mas gosto muito de fazer surpresas.
Joana – Já me habituei ao facto do Luís não ligar a datas, mas também não temos necessidade que assim seja, pois cuidamos muito da relação o ano inteiro. Para nós, todos os dias são muito bons.
– Faz parte dos vossos planos terem mais filhos?
– Eu gostava, mas ser mãe limita-nos um pouco em termos de disponibilidade e quero aproveitar os próximos 15, 20 anos, bons do Luís. [risos] Também já temos uma casa cheia, não há necessidade de mais uma criança. Mas o futuro a Deus pertence…