Ex-ministra e ex-deputada e actual candidata à Câmara Municipal do Porto pelo PS,
Elisa Ferreira divide o seu tempo entre a política e a Faculdade de Economia do Porto, onde se licenciou e se doutorou, e lecciona há vários anos, tal como o marido,
José Fernando Freire de Sousa. Ligada à política desde 1995, quando
António Guterres a convidou para a pasta do Ambiente, foi depois deputada na Assembleia Nacional e no Parlamento Europeu. Agora, prepara-se para voltar à cidade onde nasceu, com o intuito de impor uma mudança. A economista está ciente das dificuldades, mas confiante e preparada para o grande desafio. Para o qual conta com o apoio do marido e das duas filhas,
Eduarda, de 27 anos, e
Constança, de 15. Protectora e orgulhosa, a mãe não lhes poupa elogios, revelando a felicidade que as duas sentiram quando souberam do regresso ao Porto, depois de Lisboa e de Bruxelas.
A CARAS foi conhecer as expectativas de Elisa Ferreira, que nos abriu as portas da sua casa de fins-de-semana, em Santo Tirso. Um espaço herdado da família, onde se refugia para recuperar forças e estar mais perto da Natureza. Em contagem decrescente para as autárquicas, esta portuense diz: "
Tenho o mundo e a experiência para ter a obrigação e o prazer de me colocar ao serviço da cidade onde nasci, de modo a que não seja uma cidade de passado, mas uma cidade de futuro."
– Como surge a decisão de se candidatar ao Porto?
– Há muito tempo que se falava do meu nome, mas só agora essa vontade se concretizou. E creio que foi na altura certa, porque o Porto precisa de mudança. E não sou perdedora, candidato-me para ganhar, pela cidade. Não venho com segundas intenções ou pretensões de chegar a outros cargos. A minha cidade é o meu lugar de chegada, onde gostaria de estar por dois mandatos.
– Agrada-lhe a ideia de poder ficar na Invicta nos próximos quatro anos?
– É um desafio muito grande, que vai alterar a minha rotina dos últimos anos. Mas a verdade é que durante a passagem por Lisboa e por Bruxelas nunca deixei de ter casa do Porto. Por isso, poder regressar a esta cidade é extraordinariamente aliciante.
– O que mais a atrai no Porto?
– A resistência granítica e a capacidade de mobilização. O Porto, às vezes, parece que já não reage, mas quando chega à hora certa, levanta-se. Tem sido assim ao longo de toda a História. É a terra dos tripeiros e dos liberais.
– Como é que as suas filhas receberam a notícia da sua candidatura?
– A mais velha nasceu em Inglaterra, mas passou a infância toda no Porto e é uma portuense convicta. Já a mais nova, está muito entusiasmada com a ideia de vir para a cidade mítica que conhece, mas onde nunca viveu.
– Sente que elas têm vontade de intervir e que poderão seguir os seus passos?
– Acho que não. Elas têm muito apelo cívico, interessam-se por questões da sociedade, das pessoas e da justiça, mas não creio que se queiram envolver, têm dificuldade em perceber algumas injustiças do processo político. E tão legítima é uma intervenção pela via da política como através das organizações não-governamentais ou de um civismo activo. Há muitos mecanismos de participação, e são cada vez mais úteis na sociedade.
– Conta com o apoio pleno do seu marido, que aparece sempre a seu lado. Já as suas filhas, não aparecem tanto publicamente. É uma forma de as proteger?
– A Constança é uma adolescente, não creio que faça sentido ela aparecer. Um desafio político tem de ser encarado com consciência plena do que está em jogo. Fico muito contente por ter o meu marido ao meu lado, mas da Constança basta-me a solidariedade pessoal. Já a Eduarda, tem estado ao meu lado em alguns acontecimentos. Ela ajuda-me claramente, mas já tem idade para saber o que está a fazer.
– E qual é o papel do seu marido nesta sua luta?
– O apoio dele é fundamental. Ninguém pode meter-se numa ‘guerra’ destas sem ter a família do seu lado. É um combate muito duro e exigente, com situações de quase violência verbal, e é preciso muita resistência. Fico muito feliz por os ter nisto de corpo e alma.
– Discute os assuntos que tem em mãos com o seu marido?
– Ouvir a opinião do Zé é muito importante. Temos uma relação que vem dos tempos da universidade, somos da mesma área de especialidade e ambos professores universitários. A conversa entre nós é permanente. Mesmo quando não concordamos, a discussão é construtiva. É quase uma forma de viver. É muito importante ouvi-lo, mas também às minhas filhas, que são mais livres e descomprometidas e me dão a conhecer o senso comum.
– Ao papel de candidata, acumula os de mulher e de mãe. Os desafios das mulheres de hoje não serão demasiado exigentes?
– É difícil, sobretudo para as mulheres da minha geração, que foram educadas em padrões que mudaram a meio do caminho. Pertenço à geração da transição. O nosso papel na vida política não está facilitado, porque é tudo muito desorganizado. Há uma quantidade de tarefas e ocupações muito penosas para as mulheres, que as impedem de assumirem cargos de maior responsabilidade e mais bem remunerados.
– Concorda com a existência de quotas?
– Durante muito tempo fui contra, porque parecia que se estava a minorar o papel da mulher. As mulheres devem entrar na política pela sua competência, não porque são mulheres. Mas como instrumento transitório, pode ser necessário, para que deixe de ser um mundo de homens.
– Com uma vida como a sua, é possível ter tempos de lazer?
– Mesmo em momentos de grande trabalho, a leitura faz parte da minha rotina diária. Também gosto de fazer caminhadas e de nadar, de organizar tertúlias e jantares com os nossos amigos, ouvir música, ir ao cinema, fazer jardinagem, malha, cozinhar e visitar feiras de antiguidades e de artesanato.