Humberto Barbosa não tem problemas em mostrar que vive bem, que tem uma casa grande ou que é dono de um dos maiores barcos da Marina de Vilamoura. Isto porque tudo o que tem e conseguiu até hoje saiu-lhe do "
pêlo", como o próprio diz. Mas a sua maior riqueza, garante, é a família: a mulher,
Gabriela, e os três filhos,
Sofia, de 31 anos,
Augusto, de 26, e
Tomás, de 21.
Do rapaz madeirense que teve de lavar pratos para se licenciar em Londres já quase não há vestígios, mas a humildade, essa, manteve-se. E em 26 anos de carreira nunca esqueceu de onde veio. Trabalha 12 horas por dia, 11 meses por ano, na Clínica do Tempo, mas chega a Agosto e faz questão de dedicar o seu tempo à família, no seu refúgio no Algarve. E foi precisamente aí, na sua casa de férias, que a CARAS foi ao encontro do nutricionista.
– É para aqui que ‘fogem’ nas férias?
Humberto Barbosa – Sim, para o nosso porto de abrigo. Normalmente, trabalho
non stop durante 11 meses e, em Agosto, que é o meu mês de férias, faço questão de tirar os 31 dias para estar com a minha família. Nestes dias, gostamos de estar longe da confusão. Tínhamos uma casa na Quinta do Lago, que decidimos vender há três anos, porque já se estava a tornar um pouco pequena para albergar a família, os amigos, os genros, as noras, os amigos dos filhos…
– Esta é bastante grande…
– Tem quatro mil metros quadrados de terreno e cerca de 700 metros quadrados de área de construção. Para mim, era essencial que tivesse muito jardim e um ginásio, porque eu gosto de praticar exercício físico e faço-o diariamente. Nos 11 meses em que estou a trabalhar, chego a casa por volta das 21h30, e até cerca das 23h00 tenho o meu
personal trainer, que me dá uma ‘tareia’ de ginásio durante hora e meia. Para que isto não fosse interrompido durante as férias, construiu-se aqui um ginásio bastante bem equipado e trouxe o professor. A única diferença são os horários de treino: aqui treinamos às 10h00 da manhã todos os dias.
– Todos treinam cá em casa? Mulher e filhos?
– Todos, mas em horários diferentes. Eu e a Gabriela, normalmente, treinamos às 10h00 e, depois, a partir das 11h30, são os restantes membros da família, consoante se a noitada foi longa ou não. [risos]
– Não tem problemas em mostrar ostentar que vive bem…
– Já trabalho há 26 anos. Muitas vezes as pessoas interrogam-se e podem comentar que vivo bem, que passeio de barco, que tenho uma grande casa… mas não sabem o que já trabalhei, o que trabalho e como foi a minha vida de estudante, em que estudava de dia e trabalhava à noite a lavar pratos. Tive uma vida complicada para poder atingir determinados patamares. Posso dizer que não sou oriundo de famílias ricas, não herdei nenhuma fortuna nem me saiu nunca o totoloto ou totobola, porque não jogo. Saiu-me é tudo do pêlo, com muito trabalho.
– Assim as coisas têm também outro sabor…
– É verdade.
– Como disse, o trabalho ocupa-lhe muito tempo, cerca de 12 horas por dia. Ainda assim, consegue ser um pai e marido presentes?
– Tento sempre, dentro do possível. Mas não é tanto a quantidade da presença, mas a qualidade dela. Tomo sempre o pequeno-almoço em casa, em família, pelo menos com o meu filho mais novo e a minha mulher, porque os meus filhos mais velhos já não moram comigo. E ao fim-de-semana há sempre uma saída, um almoço ou jantar com todos, para contarmos como foi a nossa semana, se existem questões que têm de ser partilhadas…
– São uma família assim tão unida?
– Sim, sempre funcionámos como uma equipa, quando um de nós tem um problema, esse problema é partilhado por todos. E eu orgulho-me de ter essa relação com a minha família. Orgulho-me de os meus filhos falarem comigo sobre todos os assuntos e de também terem prazer em sair comigo. E sinto que não me convidam só para pagar a conta. É sinal que cumpri minimamente o meu papel enquanto pai.
– Ajuda também o facto dos seus filhos trabalharem consigo. É assim por opção deles ou porque o Humberto assim o quis?
– Sempre lhes dei as opções todas. Mas não escondo que lhes disse que achava que este era o caminho mais fácil para a felicidade a nível profissional. Mas o Tomás, desde os três anos que dizia que queria ser nutricionista. E isto mostra um bocadinho como desde muito cedo eles já sabiam mais ou menos o caminho que queriam seguir, porque, fundamentalmente, o que queriam era estar por perto e prolongar este espírito da família. Sou um pai absolutamente orgulhoso.
– E a sua mulher, também trabalha na clínica?
– Indirectamente. Primeiro, porque me inspira em tudo aquilo que faço. E, depois, é artista plástica, e todos os quadros da clínica são pintados por ela. Além disso, sendo mulher, e como 70% dos clientes da clínica também o são, é sempre a minha maior crítica, é sempre a primeira pessoa que opina sobre as novas metodologias. E aquilo que eu sei é que, se agradar à Gabriela, agradará com certeza a todas as clientes, porque ela é, sem sombra de dúvida, a mulher mais exigente que alguma vez conheci.
– Aquilo que recomenda na clínica (exercício físico, alimentação saudável, viver sem stresse…) é aplicado em sua casa?
– Em nossa casa fazemos sempre aquilo que prescrevemos às pessoas que nos procuram na clínica. Por exemplo, comemos com regras durante seis dias e há apenas um dia em que as esquecemos.
– Se consegue pôr tudo isso em prática, considera-se um homem realizado? Não precisa de mais nada?
– Sou completamente feliz e realizado. Mas ainda há uma coisa que preciso, porque no dia em que acharmos que não precisamos de mais nada, se calhar falta-nos um bocadinho daquele combustível para podermos trabalhar e fazermos algo mais. Por isso, ainda há um bocadinho que me falta atingir, que é ter um pouco mais de tempo, que é o bem mais precioso. Daí, também, o nome de Clínica do Tempo.
– Esse culto pela vida saudável, pelo corpo… não faz disso uma obsessão?
– Sou tudo menos obsessivo. Não temos de ser escravos de nada e é importante desfrutarmos dos prazeres da vida.
– Na sua clínica, tenta prolongar a vida das pessoas. Espera viver até que idade?
– Não sei, mas gostava de viver até aos 150 anos! Porque os 100 anos já foram atingidos tal como os 114, portanto, para ser assim alguma coisa de determinante e ficar na História, 150 anos arrumava todas as estatísticas. Mas a idade com que vou morrer não é importante, mas sim a qualidade de vida que vou ter. E espero e gostava – é esse o objectivo pelo qual luto – de morrer saudável. Se eu morresse hoje, morria feliz, tranquilo, saudável e com a consciência de já ter realizado 99% dos meus desejos.