A proximidade do Natal serviu de pretexto a uma produção fotográfica em que juntámos
Cinha Jardim e as duas filhas,
Pimpinha e
Isaurinha, de 25 e 18 anos, respectivamente. A gravidez da mais velha foi um tema incontornável na entrevista, ainda mais porque o bebé é um rapaz, o que vem, de alguma forma, quebrar a tradição da família Jardim, na sua maioria composta por mulheres. Ansiosa por ser avó, Cinha prepara-se para cumprir uma outra tradição, a de passar o Natal fora de Portugal, desta vez com
Francisco Spínola, namorado de Pimpinha, e… a cadela Juanita.
– Mesmo com a gravidez da Pimpinha, vão voltar a passar o Natal fora do País…
Cinha Jardim – É nesta altura que gosto de pegar nas minhas filhas e levá-las para fora. Este ano vai também o Francisco connosco, e o Francisquinho. Precisamos de alguns dias só para nós, e num sítio onde ninguém nos conheça. Digamos que fazemos um Natal à nossa maneira. Vamos primeiro para Nova Iorque e depois para Porto Rico.
– O Francisco Spínola já está completamente integrado na família…
– O Francisco é uma pessoa fantástica, integrou-se muito bem. Tem também uma família fantástica, muito bem formada, igualmente unida, com valores e princípios muito próximos dos nossos. Vejo nele muitas qualidades que aprecio – para além de ser benfiquista -, e a principal é mesmo a forma como trata a minha filha. Isso é o mais importante, serem um casal feliz. Acho que ela vai ser muito mais feliz na parte amorosa do que eu fui…
– Guarda mágoas do passado, sente que foi infeliz na sua vida amorosa?
– Tenho mágoas, sim. Poderia ter sido mais feliz, mas não me arrependo de nada. Não mudaria nada, porque aprendi muito com os erros e, se não fosse assim, não seria a pessoa que sou hoje. E já não me lembro das coisas más, tenho o passado bem resolvido.
– Recentemente, falou-se numa reaproximação de Pedro Santana Lopes…
– Tenho um grande respeito pelo Pedro, tal como ele por mim. Houve uma fase da nossa vida em que nos afastámos mesmo. Ainda havia mágoas por resolver. Com o tempo fomos começando a falar e apercebemo-nos de que foi muito mais importante o que passámos de bom do que o que foi mau. Embora cada um tenha enterrado bem esse passado. Ele seguiu a vida dele e eu a minha. Mas é normal que as pessoas ainda nos liguem um ao outro, talvez porque éramos duas figuras marcantes e gostavam de nós enquanto casal. Achavam piada, até por causa das crianças todas, chamavam-me a branca de neve e os sete anões.
– Hoje são amigos?
– Hoje somos amigos. Não nos damos tanto como poderíamos gostar de dar, mas porque é complicado e pode dar azo a conclusões erradas que nenhum de nós quer. Mas sou amiga dele, e se ele precisar de mim, estarei lá, tal como sei que ele me ajudará a mim se precisar. Tenho uma facilidade muito grande em esquecer o mal que me fazem.
– Acha que algum dia vai esquecer o que aconteceu com a Joana Lemos e vão retomar a amizade?
– Ainda é muito cedo. No primeiro dia que a vi em tribunal, custou-me muito, doeu-me, não queria acreditar que estávamos naquela situação. Ao fim deste tempo todo já tinha esquecido e foi muito difícil reviver tudo.
– Tentou resolver as coisas antes?
– Tentei resolver na altura, antes dos processos. E achei que deveríamos ter resolvido entre nós, nunca pensei que ela fosse para tribunal. Era um problema nosso que deveria ter sido resolvido num meio mais privado. Eu sou muito fiel aos meus amigos. Tenho os meus defeitos, claro, mas custam-me muito as traições, embora até isso perdoe. Perdoei algumas na minha vida, como toda a gente sabe, iria perdoar esta também. Sinto-me triste por se ter perdido assim uma amizade.
– As suas filhas têm sido um apoio muito grande em todo o processo…
– Têm sido um grande apoio, tal como toda a família. Não faltaram a uma sessão do julgamento e têm mostrado um comportamento muito maduro. Não sei se me comportava assim quando tinha a idade delas.
– Ficou triste quando a Pimpinha foi viver com o Francisco? Sentiu que poderia estar a perdê-la?
– Não, porque continuamos a viver em família. Aliás, começaram por viver no andar por baixo do meu… Agora estão um pouco mais longe, mas vemo-nos todos os dias.
– E estará a Isaurinha a pensar seguir o mesmo caminho?
Isaurinha – Não, nem pensar. Ainda não. A Pimpinha é sete anos mais velha que eu, por isso… nem penso nisso. Adoro viver com a minha mãe e acho que vou continuar com ela durante algum tempo.
Cinha – A Isaurinha é ainda muito dependente de mim, temos uma relação muito próxima e ela ainda me pergunta se pode fazer isto ou aquilo. Não sinto que as minhas filhas estejam a fugir, muito pelo contrário. A Pimpinha teve uma fase mais rebelde, mas está completamente regressada a mim, está cada vez mais próxima. Depois, temos ainda a mais pequena da família, a Juanita, que é das coisas que mais adoro. Vai comigo para todo o lado. E talvez o facto de ser surda me tenha tornado mais dedicada a ela. Trato-a como uma filha, completamente. E o meu presente deste ano é levar a Juanita connosco nas férias de Natal. Prescindi de coisas materiais para poder levá-la comigo nas férias. Aliás, é por isso que vamos para Porto Rico, onde encontrei um hotel que permite que os cães estejam sempre com as pessoas e que tem imensos serviços para os animais, como
spa e massagens. Imagino-me no
spa a fazer massagens com a Juanita ao lado. Acho que mereço, aos 53 anos, que vou fazer, o melhor presente do mundo, e esse presente é levar a Juanita comigo.
– E não seria um bom presente para a sua vida encontrar alguém com quem partilhar todos esses sentimentos, com quem partilhar a vida, apaixonar-se?
– Não penso muito nisso. Gosto de estar apaixonada, gosto de ter alguém ao meu lado, mas já me acostumei um pouco a estar solteira. Gosto, mas não fecho as portas, de forma alguma, à possibilidade de um dia mais tarde encontrar alguém, de me apaixonar, de construir uma vida a dois. Nunca será tarde de mais para isso.
– Entretanto vai nascer um rapaz, o que quebra um pouco a tradição da família…
– Vai ser muito engraçado. Já são meninas a mais, e fiquei mais contente, porque era o que eles queriam. E sempre me dei muito bem com rapazes.
Isaurinha – Fiquei muito contente, ainda por cima vai ser meu afilhado. E eu também sou meio maria-rapaz, por isso, vai ser giro.
Pimpinha – O Francisco queria um rapaz e eu também. Como tenciono ter mais filhos, preferia que o primeiro fosse um rapaz. Claro que se fosse rapariga seria igualmente bem-vinda.
– Quem está a viver este momento com grande intensidade é a futura avó…
Cinha – Avó Cinha é giro, acho que vai ser muito bom mesmo. Eu tinha uma ligação muito especial com a minha avó Isaura, foi das pessoas que mais me marcou na minha vida. Espero dar tanto de bom ao meu neto como ela me deu a mim.
– Ser avó fá-la sentir o peso da idade?
– Não, nada. Ser avó não nos torna mais velhos, nada disso, e este não podia ser o melhor momento para isto acontecer. Estou a viver uma fase fantástica, e não ligo nenhuma à idade, é um assunto que não me preocupa nada. E devo dizer que tem sido muito bom ficar mais velha. Estas pequenas rugas que tenho são também sinónimo de experiência, de maturidade, de muita coisa.