Aos 40 anos,
Maria João Ruela diz ter vivido uma década marcante. Desde a depressão passageira no dia em que fez 30 anos até ao dia 23 de Dezembro de 2009, data do seu 40.º aniversário, a jornalista da SIC viveu os minutos mais intensos e inesperados da sua vida. Todos recordam o mês de Novembro de 2003, quando a repórter foi ferida no Iraque. Um tiro na perna mudou para sempre a sua vida, mas, apesar de todos os contratempos, nada a demoveu da sua maior luta: o jornalismo.
Foi também nesta década que decidiu oficializar pelo registo civil a relação que já mantinha há vários anos com o colega
José Ribeiro da Silva, editor de imagem na SIC. Nesta produção de Natal para a CARAS, Maria João Ruela embrulhou o consumismo em papel de jornal e pediu boas notícias para Portugal. Sem filhos e com a maternidade cada vez mais longe no horizonte, a actual coordenadora dos jornais de fim-de-semana da SIC, carinhosamente tratada pelos colegas por ‘Generala’, apenas deseja mais meios para fazer melhor jornalismo.
– Nesta sessão fotográfica, o cenário, bem como a tradicional árvore de Natal, estão decorados com folhas de jornal. Que notícias gostava de desembrulhar neste Natal?
Maria João Ruela – Essencialmente, gostava que não existissem más notícias. Notícias de mais desemprego, que nesta época ainda custam mais, gostava de não noticiar o envio de mais tropas para o Afeganistão. Em contrapartida, gostava que tivéssemos mais boas notícias para o planeta, nomeadamente, em relação às alterações climáticas, que é algo que me preocupa imenso, e também notícias de portugueses que nos enchessem de orgulho e contrariassem o espírito negativo existente. Gostava também que os jornalistas em Portugal tivessem mais meios, porque, nesta fase, os meios são tão poucos que o jornalismo quase fica comprometido, no sentido em que cada vez é mais difícil ir à fonte e à origem da notícia.
– Simbolicamente, o seu Natal é, na verdade, vivido em redor das notícias, uma vez que faz questão de trabalhar nesses dias. Porquê?
– A SIC tem 17 anos e, curiosamente, trabalhei em todos os Natais, e, por acréscimo, também no meu dia de aniversário, uma vez que quem está de serviço na semana do Natal não está na do Ano Novo. Sempre achei que seria mais triste estar a trabalhar na passagem de ano e acabo por conseguir estar com a família ao almoço ou ao jantar durante o Natal. Por outro lado, como não tenho filhos e a minha família mais próxima é relativamente pequena, acaba por não fazer grande diferença estar de serviço no Natal.
– Isso quer dizer que o Natal é uma data que, a cada ano que passa, perde importância?
– Muito sinceramente, nunca foi uma época a que ligasse muito. Quando era pequena, viajava no meu dia de aniversário para Aveiro, onde ia passar o Natal com a minha família. A verdade é que nunca tive uma festa de aniversário com amigos, mas acabava por ser devidamente compensada. [risos] Actualmente, a minha família é pequena e não precisamos do Natal para estarmos juntos. Também não faço muita questão de decorar a casa nesta época, o que gostava mesmo é que estivesse a nevar. É claro que não prescindo de um jantar especial e de oferecer os tradicionais presentes aos meus sobrinhos.
– Referiu o facto de não ter filhos. Com 40 anos, essa é uma questão encerrada ou ainda pensa na possibilidade de ser mãe?
– Nesta fase da minha vida, já tenho alinhado aquilo que posso contar em relação a essa matéria. De facto, nunca foi uma prioridade, nem nunca tive o sonho de ser mãe. Dediquei-me ao trabalho, entretanto, tive um ‘filho’, que foi a minha perna, e tive que tratar dele durante quatro ou cinco anos. Coloquei a hipótese de tentar engravidar, mas nesta fase da minha vida, devo dizer, muito sinceramente, que tal não vai acontecer. Sei que pode parecer estranho e que muitas pessoas não compreendem, mas tal como existem mulheres que passam uma vida inteira com desejo de serem mães, existem outras que, como eu, não querem ter filhos. Nesta matéria, sempre fui muito coerente: desde pequena que a ideia de ter filhos nunca me atraiu.
– Celebra 40 anos hoje, dia 23 de Dezembro. Há alguma expectativa em relação à data, receio ou sentimento especial?
– Não, nada…Acho que é uma data como as outras. Lembro-me de ter ficado deprimida no dia em que fiz 30 anos, mas agora não sinto nada de especial. Foi algo do momento, sem qualquer tipo de explicação racional.
– Mas a verdade é que esta última década da sua vida tem sido, definitivamente, muito marcante…
– Aconteceram-me muitas coisas. Foi, sem dúvida, uma década muito marcante. Foram dez anos de grande crescimento profissional e de muitas e variadas experiências. Tive um acidente de trabalho, mas, por outro lado, fiz coisas muito interessantes.
– É assim que encara o que lhe aconteceu no Iraque? A verdade é que o tiro acabou por mudar, para sempre, a sua mobilidade e, por consequência, a sua vida…
– Nem poderia encarar de outra forma. Foi um acidente de trabalho que me provocou mazelas para o resto da vida, mas continuo a fazer quase tudo o que fazia e a trabalhar.
– Esta década fica também marcada pelo oficializar da sua relação. Que balanço faz destes quase três anos de casamento?
– Já vivia com o Zé há 13 anos quando decidimos casar-nos. Foi só isso mesmo, oficializar algo que já existia.
– E qual é o segredo para a longevidade da vossa relação?
– O respeito. Cada um de nós tem a sua vida independente da do outro, mas, ao mesmo tempo, somos muito amigos, respeitamo-nos e percebemos que se existem dias que correm pior, logo a seguir vão existir dias melhores. Não sou uma mulher muito romântica, nem acredito muito nessas coisas, mas penso que encontrei no Zé a minha alma gémea.