Só uma grande surpresa meteorológica poderá permitir a
José Figueiras e à família viverem um Natal com neve. Isto porque, tendo em conta o facto de José estar a apresentar diariamente o programa
Alô Portugal, na SIC Internacional, esta quadra será celebrada em Lisboa. Longe fica, assim, o romantismo de um Natal à lareira, com muita neve e algumas iguarias tradicionais austríacas, como os que viveram noutros anos, quando se juntam à família de
Eva Mandl, em Salzburgo.
Sem exageros consumistas, em casa de Eva e José trocam-se presentes, abre-se uma garrafa de champanhe, desliga-se a televisão e convida-se a música a acompanhar a ceia em família. Para já, sem que os filhos,
Stephanie, de 15 anos, e
Christopher, de 13, falem em namorar. E sem que o casal peça ao Pai Natal um presente que guarda no baú dos sonhos: viajar a dois pelo mundo fora e, quem sabe, um dia, ficar a viver na Austrália.
– Tendo em conta que a Eva é austríaca e, logo, que as tradições da família de um e do outro são muito diferentes, foi preciso fazer muitas adaptações no vosso Natal?
José Figueiras – O nosso Natal sempre foi uma mistura de tradições. Comemora-se, sempre, um Natal luso-austríaco, quer seja em Salzburgo ou aqui em Lisboa. No início de Dezembro, a família junta-se na cozinha, para fazer as célebres bolachas de Natal de várias qualidades e sabores. Estas bolachas nórdicas, típicas dos países mais frios, são feitas logo no início do mês, para depois serem devoradas durante esta época natalícia. Normalmente, estas bolachas típicas servem para receber as visitas e degustar com um chá bem quente ou, então, a acompanhar um
gluehwein (vinho quente com canela e ervas aromáticas) típico germânico. Mas claro que na ceia de Natal a comida portuguesa, bem como os nossos doces típicos, não podem faltar. Na Áustria, a tradição culinária na noite de Natal é um peixe denominado
karpfen (carpa) ou então o célebre peru.
– Eva, ainda que após todos estes anos certamente já esteja adaptada, como é, para si, passar o Natal em Portugal?
Eva Mandl – Digamos que na Áustria não ligamos muito à culinária, mas sim ao ambiente natalício envolvente. A neve tem que estar presente para que o Natal seja genuíno. Sem neve, parece que não há Natal. O Natal com chuva, por exemplo, é para nós um Natal triste. Tem que haver frio e neve para se passear de trenó durante o dia e, se possível, fazer esqui e apanhar frio na cara. A sensação de se chegar a casa depois de um dia com neve e frio é muito melhor para se ter uma consoada mais aconchegada. Lareira, velas a decorar e muita neve lá fora tornam, sem dúvida, o Natal mais romântico.
José – Quando passamos o Natal na Áustria, por vezes, vamos à Missa do Galo de trenó. O ambiente é muito romântico, com neve por todo o lado, e as crianças adoram todo aquele cenário.
– E no que diz respeito a presentes? Enchem a árvore de Natal, ou são uma família comedida?
– Compramos apenas o essencial, mas claro que o Natal sem uma prenda não é Natal! Há sempre uma surpresa para cada um, mas encher a árvore de presentes inúteis não faz parte da nossa tradição. O consumismo, por vezes, estraga o espírito de Natal, mas para nós esta é uma época especial, em que juntamos a família e abrimos sempre uma garrafa de champanhe. Nessa noite, desligamos a televisão e colocamos uma música para acompanhar a ceia.
– Apesar de o programa não ser emitido durante a época de Natal, a verdade é que o Alô Portugal acabou por mudar radicalmente as vossas rotinas familiares. Foi complicado?
– Como o programa vai para o ar em directo, logo a seguir ao Jornal da Noite, isso implica que a vida social ficou para segundo plano. Raramente janto com a família e as idas ao teatro e cinema ficaram reduzidas. Mas faz parte da nossa profissão. Espero, sinceramente, que o horário antigo (18/19 horas) regresse rapidamente, para bem de todos.
– Apesar desse contratempo, como tem sido esta experiência?
– O
Alô Portugal é um programa que passa na SIC Internacional de segunda a sexta-feira, em directo para o mundo inteiro. Trata-se de um programa de entretenimento com vários convidados de diversas áreas e no qual os próprios espectadores têm a oportunidade de entrar em directo e estar à conversa connosco. Este programa, modéstia à parte, tem tido um sucesso enorme junto das nossas comunidades e relançou a SIC no mercado internacional, como estação de televisão de todos os portugueses. Recebo telefonemas em directo da Austrália e, segundos depois, de África, da Europa e da América. Em 50 minutos, dou praticamente a volta ao mundo com os telespectadores em directo. Os convidados, desde jornalistas e cantores a políticos e actores, adoram ir ao programa e prometem voltar. Até hoje, nunca ninguém se recusou a estar presente, e o mais curioso é que muitas vezes os convidados, que nem conhecem o programa, porque não passa em Portugal, reconhecem que é um sucesso no resto do mundo e sentem-se bem tratados. Sem demagogia, estamos a fazer um verdadeiro serviço público em televisão.
– Têm dois filhos adolescentes, um rapaz e uma rapariga. Como têm lidado com essa "novidade"?
– Todos os conselhos são poucos, mas tenho a certeza que eles são muito responsáveis. Preocupa-me o futuro, mas a decisão das suas vidas, mais cedo ou mais tarde, estará nas mãos deles. Acho que a educação é o pilar principal para se poderem orientar na vida. Existindo uma base, há um caminho a seguir. Eles têm a perfeita noção de que a vida não é feita de sonhos cor-de-rosa. Já viajámos muito com eles e têm a noção da realidade que existe no mundo. Que há miséria e que muitas das crianças não têm o que eles têm. A Stephanie tem um lado muito solidário. Adora ajudar e quer ser voluntária numa instituição. Já o Christopher é mais reservado, mas sempre atento ao que se passa no mundo.
Eva – Neste momento, eles ainda não sabem o que querem ser profissionalmente, mas também têm tempo para decidir. Uma coisa é certa: quero que eles estudem no estrangeiro, para terem uma visão diferente do mundo. Existem boas universidades em Portugal, existem neste país excelentes alunos e bons profissionais em diversas áreas, mas o mercado não os aproveita. É triste e preocupante verificar que as pessoas estão a sair de Portugal para poderem brilhar no estrangeiro, porque cá não lhes reconhecem o valor. Por vezes, os portugueses não valorizam a prata da casa. Tenho esta visão, porque sou estrangeira e vejo Portugal de fora para dentro. Não quero dizer que na Áustria, Suíça ou Alemanha seja diferente, apenas que nesses países são dadas mais oportunidades.
– Estão preparados para o dia em que eles vão dizer: este é o meu namorado ou namorada?
José – Quando falarem em namorados ou namoradas, aí teremos que ter uma conversa séria. [risos] Divirtam-se enquanto é tempo… mas acho que ainda não há futuras noras, nem futuros genros. [risos]
– Estão juntos há mais de 18 anos e casados há 16. Qual é o segredo da longevidade do vosso casamento?
– Bem, a longevidade do casamento não tem segredos. Temos o nosso espaço e respeitamo-nos mutuamente. Depois, esta caminhada tem sido feita com alguns degraus mais inclinados e outros mais nivelados, mas a vida é assim, com altos e baixos, e seríamos todos hipócritas se não o reconhecêssemos. Ainda temos tantas coisas para fazermos juntos! Queremos passar a reforma a viajar os dois por este mundo fora. Mas isso ainda vai demorar! Houve uma altura da nossa vida em que pensámos seriamente em ir viver para outro país. E não pomos a ideia de parte, porque ambos adorávamos viver na Austrália!