Todos os anos,
José Maria Tallon viaja com os filhos,
Carminha, de 24 anos,
Pepe, de 22 – do seu casamento com a espanhola
Cármen Comino -,
Eduardo, de 16,
Beatriz, de 13, e
Rafael, de dez – da união com
Catarina Fortunato de Almeida -, para Granada, onde passa o Natal com o pai, de 81 anos, de quem é muito próximo.
Quando fala do pai, José Maria não deixa de sorrir, e o brilho do seu olhar só se desvanece quando recorda a mãe, que morreu há 20 anos. Junto dela, os Natais tinham um sabor diferente, um toque feminino. Hoje, continuam a vestir-se a rigor, a sentar-se à mesa todos juntos, a ir à Missa do Galo. A única diferença, este ano, é que o médico espanhol não vai contar com a companhia da mulher,
Sofia Tallon, de quem se separou em Agosto. Um assunto que dá início à entrevista.
– Este Natal vai ser passado sem a Sofia…
José Maria Tallon – Sim, é verdade, parece que na vida não se pode ter tudo, mas não é a primeira vez: há uns anos, quando já estávamos juntos, a Sofia passou o Natal com os pais dela e eu com a minha família. Este ano também vai ser assim, vou estar com os meus filhos, que são o meu tesouro.
– Mas preferiria ter conseguido manter o seu casamento…
– Claro que sim. Já quando me casei pela primeira vez, pensei que era para toda a vida, mas alguém me disse há pouco tempo que tudo é eterno enquanto dura. É uma realidade.
– Geralmente, o Natal é vivido de forma mais intensa quando há um bebé. Lamenta não ter tido um filho com a Sofia para poder reviver essa magia?
– Não lamento, porque acho que tinha de ser assim. Em casa, vivemos muito intensamente o Natal, e nesse dia há um bebé especial, que é o Menino Jesus. Mas também temos um eterno bebé, que é o Rafa…
– E, por outro lado, não tem mais um filho que vê os pais separarem-se…
– Nunca os meus cinco filhos foram um problema e com certeza que um filho com a Sofia também não seria. Além disso, não me vejo obrigado a compensar mais os meus filhos por terem os pais separados. Eu quero estar com eles, e se luto para estar com eles, é porque me sinto melhor ao lado deles, não porque me sinta responsável pela minha separação.
– Já viveu três casamentos que não deram certo. Sente uma certa frustração por não ter mantido uma união duradoura?
– Sinto-me tão sortudo com o que a vida me tem proporcionado que, se sentir alguma frustração, Deus ainda me pode castigar… Mas claro que gostava muito de ter acertado logo no primeiro casamento. O meu irmão, por exemplo, está casado há 32 anos, tem filhos e netos. Os meus pais só viveram esse casamento e o meu pai, depois da minha mãe morrer, nunca concebeu voltar a casar-se. Mas a minha vida é de muito stresse, trabalho intensamente e não abdico do tempo dos meus filhos, talvez tudo isso não ajude a manter uma relação.
– Como tem sido a sua vida desde a separação?
– Dedico-me a trabalhar e à família, e a Sofia está na Suíça, a trabalhar também. Somos amigos e continuamos a trabalhar juntos em alguns projectos. Depois, o apoio dos meus filhos é fundamental. Acredito que para uma pessoa que não tenha filhos, uma separação seja mais complicada no sentido em que eu tenho imensa companhia todos os dias. Eles ocupam grande parte do meu tempo.
– Normalmente, um casal que acaba de se separar tem dificuldade em manter a amizade. Não é o vosso caso…
– Já ouvi isso algumas vezes, mas não penso assim. Eu já era amigo da Sofia antes de namorar com ela. Quando as pessoas são bem formadas, não têm por que entender que uma separação é uma guerra, há apenas uma decisão de não viver juntos, o resto pode e deve manter-se. Tento que os maus momentos não apaguem os bons. Sou optimista. Sou uma pessoa muito feliz, porque não guardo rancores, por isso, para mim, não é difícil manter uma boa relação com as minhas ex-mulheres.
– Até com a Catarina, com quem teve uma relação tão conturbada?
– Tenho uma relação educada. Falo com ela sobre tudo o que está relacionado com os miúdos. Com a mãe dos mais velhos, é uma relação boa, porque ela sempre pôs o bem-estar dos filhos em primeiro lugar. Eles vieram viver comigo por acordo dos dois, nunca foi preciso ir a tribunal. E com a Sofia, a relação é muito boa. Falamo-nos quase todos os dias.
– Aliás, em Outubro, estiveram juntos em Itália, num casamento. Poderá ser um sinal de reconciliação?
– Fomos a um casamento de amigos comuns. Às vezes jantamos juntos, se ela vem a Portugal, eu vou buscá-la ao aeroporto, tal como já fiz com a mãe dos meus filhos mais velhos. Mas não há mais nada, se houvesse, eu próprio diria, não tenho nada a esconder…
– Mas depois disso a Sofia deu declarações a um jornal onde insinuava que retomaram o casamento…
– Acho que foi mal interpretada, porque o que ela quis dizer é que, no fundo, estamos bem numa relação de amizade.
– Então, não houve qualquer tentativa de reconciliação?
– Não, não houve, mas também nunca houve uma zanga. Só deixámos de estar juntos enquanto casal. Quando a relação de casal acaba, não tem necessariamente de acabar o resto.
– Sente-se livre para voltar a amar?
– Com 51 anos e cinco filhos, a palavra ‘livre’ é sempre relativa, mas não vou fechar o meu coração.
– E se falássemos do amor pelos filhos?
– Esse é muito mais difícil de explicar… Não há palavras para descrever o amor por um filho.
– Fale-me da relação que mantém com cada um deles…
– A relação está muito ligada à individualidade de cada um deles. O Rafael é o bebé oficial da família, e sempre será. É muito inteligente, muito maduro e adulto. A Beatriz é uma autêntica
señorita, que vai despertando para a adolescência. É mais introvertida, é difícil contar-me o que sente. O Eduardo tem, possivelmente, uma personalidade diferente. É o mais teimoso, tem as ideias claras e um coração de ouro. O Pepe é mais parecido comigo na forma descontraída de enfrentar a vida, para nós, os problemas não existem: ou têm solução, ou não têm. A Carminha foi a primeira e é aquela cujo nascimento não esqueço. No dia do parto, ela estava ainda a sair do corpo da mãe quando abriu um olho e começou a berrar. Foi uma expressão que me ficou gravada. Assisti ao nascimento de todos, mas foi este que me ficou na memória. Ela é a mais teimosa e a que mais complica. Eles todos têm um grande coração, e é isso que me orgulha neles. Os meus filhos são a minha prioridade. Os meus pais ensinaram-me que a família é o que de mais importante existe. A família de sangue está primeiro, o resto vem depois.
– Mas há ainda outro factor de orgulho: parece que, aos poucos, vai conseguindo convencê-los a seguirem medicina…
– [risos] Sim, gostaria que um dia todos trabalhassem na clínica. A Carminha terminou Ciências Farmacêuticas e já está a fazer o estágio. O Pepe trocou o curso de Gestão e entrou em Medicina na Hungria. O Eduardo está ligado à informática. Todas estas áreas são muito úteis na clínica. Só os mais novos ainda não decidiram o que vão fazer, mas tenho esperança de um dia abrir a porta da clínica e ver lá os cinco.
– Mas não será uma responsabilidade para eles, ainda por cima com o apelido que têm?
– Sempre disse que gostaria que pelo menos um deles fosse médico, mas não quero que se sintam obrigados a sê-lo. Quero que sigam o caminho que os faça felizes. Sendo médicos, obviamente que os poderei ajudar, mas têm de seguir o seu caminho. Os apelidos têm vantagens e inconvenientes e eles não têm de competir comigo em nada. Quero é que eles sejam bons no que fazem…
– Se tivesse de fazer um balanço da sua vida, qual seria?
– Muito positivo. Profissionalmente, sinto-me realizado. Familiarmente, tenho cinco filhos e três mulheres. [risos] Tenho uma relação fantástica com o meu pai e o meu irmão, com quem falo todos os dias. O que posso querer mais?