Cumplicidade é a palavra que melhor define a relação de
Vicky Fernandes com o filho,
Manuel Maria, de 22 anos, a quem agradece o facto de lhe ter
"ensinado o sentido da vida".
Nesta entrevista, que teve como pretexto o Natal, a consultora conta que é uma mãe permissiva, daquelas que preferem explicar as regras em vez de impô-las, e que desmarca qualquer programa só para estar com o filho.
– A Vicky é apenas mãe ou também amiga do Manuel?
Vicky Fernandes – Uma mãe é diferente de uma amiga, um filho é uma continuação de nós, queremos o melhor para ele, demos-lhe vida e damos a vida por ele se necessário for. No entanto, podemos, também, partilhar segredos, desabafos, dar conselhos… Um filho pode sempre contar com uma mãe em todas as circunstâncias.
– Têm, portanto, uma relação muito próxima?
– É uma relação de grande cumplicidade. Adoro partilhar ideias com o meu filho e desde cedo que nos respeitamos mutuamente. Sempre tentei transmitir-lhe os valores certos. Enquanto mãe, tento fazer o melhor que sei. Aprendo, engano-me e volto a tentar. Desmarco qualquer programa para estar com o meu filho, sozinhos, a conversar.
– Deixou-o crescer em liberdade e aprender por si mesmo, ou impôs-lhe muitas regras?
– Mais do que impor, prefiro mostrar e explicar as regras, mas sempre fui bastante permissiva, dando incentivos para que se desenvolva a personalidade na verticalidade e na humanidade.
– Com que idade foi mãe?
– Tinha por volta dos 27 anos quando fui mãe. Foi uma maternidade muito desejada, não tive logo filhos quando me casei, esperei pela altura em que achava estar preparada.
– Acha que foi cedo de mais? Ou já se sentia preparada?
– O meu filho nasceu na altura certa, foi das coisas mais importantes que me aconteceram na vida, adorei ser mãe, humanizou-me. O meu último livro,
Chic em Qualquer Ocasião, foi dedicado ao meu filho, onde lhe agradeci o facto de me ter ensinado o sentido da vida.
– O facto de ser uma mãe nova ajuda-a a compreender melhor a geração do Manuel?
– Não só compreendo, como acho que todos temos a obrigação de deixar a esta geração um legado que lhe permita ter um futuro num mundo melhor, onde haja mais bondade, compreensão e oportunidades entre os homens. O futuro chega sempre mais depressa do que se julga e é precisamente aquilo com que nos devemos preocupar hoje. Temos obrigações para com esta geração de jovens a que este país, transformado na terra do desemprego, teima em não dar solução. O futuro está muito complicado para os nossos filhos, e isso preocupa-me imenso. Mas quando as mães deixarem de acreditar no futuro, aí teremos motivo de alarme, mal estará o mundo.
– Como passam o Natal?
– Dezembro é o mês para celebrar a vida e a família. É absolutamente a minha altura do ano favorita. Tem de ser vivido e sentido como festa de família, é das poucas festas em que estamos todos reunidos. Gosto da partilha dos momentos vibrantes vividos com alegria no conforto duma sala, onde os sabores das rabanadas e do pão-de-ló se misturam com as luzes e o cheiro das velas, da madeira e das pinhas na lareira. Gosto de observar o abrir dos presentes, de ver o que cada um escolheu para os outros, não pelo valor, mas pelo afecto demonstrado.
– São uma família que cumpre todas as tradições?
– É preciso manter as tradições no Natal, passá-las aos nossos filhos, são os rituais que mantêm a família unida. Não dispenso cultivar o sonho e a magia desta época, desde o hábito de enfeitar a casa, de fazer a árvore de Natal, o presépio, de preparar a mesa, até o colocar da coroa de azevinho na porta de entrada… Em termos gastronómicos, também somos muito tradicionais, não dispenso, na consoada, o bacalhau com batatas, passando pelo peru ou perdizes, e terminar com os doces conventuais, como as filhós, azevias, formigos e pão-de-ló. Temos como tradição, já dos tempos de casa dos meus avós, além da Missa do Galo, de deixar a mesa posta, nessa noite, para os anjos e o Menino Jesus virem cear.
– E é a Vicky quem prepara a ceia de Natal?
– Em relação à cozinha, tenho a ajuda preciosa da minha mãe, a matriarca da família, com as suas receitas muito bem guardadas.
– Mas acredito que decore a casa sem ajudas…
– Aí faço questão de ser eu a fazer! No Natal, gosto que aconteça magia, gosto de arranjar uma mesa no limite da realidade, entrar nos contos de fadas, usar e abusar das decorações natalícias.
– Que boas recordações guarda dos Natais da sua infância?
– Natal é época de memórias e alegrias que nos trazem à lembrança os momentos de infância, como o tempo passado a comer bolos e bolachas e a desembrulhar os presentes que apareciam, às 12 badaladas, milagrosamente, nos nossos sapatinhos, na chaminé. Havia sempre uma boneca, que era o meu presente favorito.
– Fora desta época, é também uma dona de casa? Como concilia o trabalho com as festas e o papel de mãe e de mulher?
– Fora do trabalho, tento gerir e partilhar o meu tempo livre com afectos, com a minha família e amigos. As festas que menciona estão, definitivamente, fora das minhas prioridades. O tempo é um presente sagrado, mas o nosso bem mais precioso, para além do tempo, é a qualidade do momento. Gosto de viver o quotidiano ritualizando os meus momentos mais simples, como passar uma tarde sentada num sofá com a lareira acesa a ler ou a ver um filme na televisão.