"Por vezes, vejo uma bola a passar ao meu lado e apetecia-me ir a correr atrás dela, outras vezes, estou na praia, vejo uma onda e sinto uma vontade enorme de dar um mergulho. Custa-me não poder fazer nenhuma destas coisas." Palavras de
Salvador Mendes de Almeida, 27 anos, tetraplégico desde que, há 11 anos, regressava a casa após uma saída com amigos e adormeceu ao volante da sua mota, na Quinta do Lago, no Algarve. Bebera álcool e estava cansado e o resultado do acidente foi uma lesão vertebro-medular que lhe alterou por completo os sonhos. O primeiro confronto com a realidade foi angustiante e teve de aprender a viver com as suas limitações físicas. Salvador precisa de ajuda para se deitar, para se levantar, para se vestir, para ir à casa de banho…:
"Conto com a ajuda de dois assistentes que me acompanham para todo o lado, que me dão um copo de água quando tenho sede, que me tapam à noite quando tenho frio…"
No entanto, as conquistas de Salvador também têm sido muitas e todas são saboreadas como grandes vitórias.
"Aprendi a dar valor a outras coisas. No início não mexia os braços, nem conseguia levar a mão à boca, e hoje já como sozinho, consigo trabalhar no computador…" Diz que o sofrimento foi uma lição de vida.
"Nunca vou deixar de pensar na falta que me faz jogar futebol, râguebi, montar a cavalo ou esquiar, mas aprendi a focar a minha atenção no que sou capaz."
No meio da sua luta, Salvador perdeu um dos grandes pilares da sua vida, o pai, o empresário
Vasco Mendes de Almeida, que morreu há dois anos num desastre de avião, em Angola. Dele herdou a determinação e a coragem, características que o têm ajudado a não desistir e a ter esperança de voltar a andar.
"Actualmente, a minha condição física está estabilizada, mas faço fisioterapia diariamente, pois é importante o trabalho de manutenção para não piorar. Quem sabe se, um dia mais tarde, com novos progressos na medicina, não poderei voltar a andar…" Mas Salvador não se deixa obcecar por essa hipótese:
"O que me faz viver é concretizar objectivo após objectivo, viver num mundo melhor e ajudar pessoas que estão na mesma condição que eu a serem integradas na sociedade."
Mas há outros sonhos por cumprir:
"Antes de ter o acidente, pensava casar-me e ter filhos, e esse objectivo mantém-se. Outro dos meus sonhos é ter mais tempo para praticar desporto, andar num barco à vela adaptado cujo leme se controla através de um joystick e pedalar uma handbike, uma cadeira que se pedala com os braços." E por falar em desporto, um dos grandes projectos do fundador da Associação Salvador para 2010 é a criação do primeiro ginásio totalmente acessível em Portugal, que tem abertura prevista para 1 de Maio, no Inatel.
A par desta iniciativa, Salvador criou o portal
www.portugalacessivel.com , um guia com informação sobre hotéis, restaurantes, praias, jardins e muitos outros locais de lazer preparados para receber pessoas com deficiência motora. Isto porque já sofreu na pele a frustração de se deparar com barreiras inultrapassáveis:
"Uma das coisas que me deixa chateado é combinar um jantar com amigos, ligar para o restaurante e garantirem-me que têm acessibilidades e, depois, quando chego, deparar-me com degraus ou casas de banho não adaptadas. Uma coisa é ser eu a mudar sozinho de restaurante, outra é fazer com que 15 ou 20 pessoas também tenham de mudar…" Situações que ultrapassa com desportivismo, diz,
"senão, andava sempre a chorar". Um exemplo de perseverança ao qual junta um conselho:
"O mais importante é a pessoa aceitar-se, conseguir definir objectivos, saber o que a faz feliz e lutar por isso."
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