Quando
Luz Casal entra numa sala, a comparação às divas do cinema dos anos 40 e 50 é inevitável. Elegante, um pouco distante, altiva, mas ao mesmo tempo vulnerável, são características que fazem da cantora espanhola uma artista ímpar no panorama da música latina. Com uma carreira que já conta com quase 30 anos, Luz Casal mantém a humildade de quando começou. Aprender, melhorar, cantar pela sua voz mais histórias que
"se colem à minha pele" são os sonhos que ainda quer realizar e, como acredita, ainda há muito caminho para andar.
Da sua vida pessoal pouco se sabe. Sem marido ou filhos, a cantora tem feito da música a sua grande prioridade. Em 2007, descobriu que tinha cancro da mama. Optimista, sempre acreditou que ia vencer esta batalha, e esta experiência dolorosa, já ultrapassada, não mudou a mulher que é hoje.
Foi sobre
La Pasión, o seu mais recente disco, e a mulher que faz do palco o cenário da sua vida que conversámos com a artista.
– Por que chamou
La Pasión ao seu novo disco?
Luz Casal – Este título reflecte muito bem o género musical deste trabalho, o bolero, as histórias das canções, que falam de sentimentos. Os sentimentos são sempre apaixonantes.
– Este álbum reflecte o período de vida que atravessa?
– Bem, mais do que reflectir um período da minha vida, este disco tinha de ser feito, porque quando o gravei foi uma descoberta para mim. Os discos originais são mais pessoais, porque as canções reflectem o presente. Mas este disco é algo à parte, porque são canções de outra época e de outros compositores. Mas foi feito no momento adequado. Esperei quase vinte anos para fazer este álbum.
– No palco vive intensamente as emoções que canta. Na vida também é assim?
– Bom, não vejo a música como um trabalho e sim como uma forma de vida. No dia-a-dia, sou uma pessoa igual àquela que está em cima do palco. Sou sensível, completa, divertida, obscura, tudo… Não sofro como nestas canções, não tenho mil amores… [risos] Mas tenho a capacidade de cantar a vida dos outros. A minha vida privada é igual à minha vida como artista.
– Não acha que vive demasiado para a música?
– Não. Vivo a vida através das lentes que a música me dá. Foi sempre assim e não é um problema. É o que é.
– Mas continua a ter vida pessoal…
– Está tudo misturado, a minha vida, a música… O que vivo são coisas que depois vão parar à música. Não é um trabalho que faço cinco dias por semana e que deixe no escritório. Na vida de todos os dias sou uma artista e na música sou uma pessoa. Não sou uma caricatura, uma pose. Sou sempre eu, autêntica.
– Abdicou de ter filhos e de se casar para se dedicar à sua carreira?
– Não abdiquei… Não desejo o que não posso ter.
– Quem é a Luz Casal fora dos palcos?
– Como disse, a minha vida pessoal mistura-se com a música. Quando não estou a trabalhar, estou a alimentar-me para o que vem a seguir. Estudo, viajo, vejo exposições… Mas tudo isto se reflecte depois na música.
– É uma pessoa com muitos sonhos?
– Não… Tenho a ambição de melhorar na vida, como cantora, compositora, mas não tenho o sonho de ter uma casa maior… Quero saúde e força para continuar.
– Não parece ser uma pessoa que exija muito da vida…
– Exijo mais de mim do que dos outros. E essa exigência tem que ver com o querer ser melhor, trabalhar mais e estar mais desperta para o que está ao meu redor. Gosto de estar ao pé de pessoas inteligentes. Não exijo aos outros sem antes exigir de mim.
– E como está a sua saúde?
– Está bem. Tive um cancro da mama em 2007, fiz o que tinha de fazer, mas não é algo que esteja presente na minha vida. Tenho mais cicatrizes no corpo, mas lido bem com isso. E não vivo com medo do cancro. Estou mais consciente de que a vida é como é e que às vezes há problemas, mas não tenho medo. Em nada tenho uma atitude derrotista, vejo sempre o lado positivo das coisas.
– As dificuldades foram, para si, um ponto de viragem…
– Sim… As dificuldades representam sempre um crescimento, e ainda bem que é assim. São sempre lições.
– A postura que tem em relação à vida mudou depois de ter vencido a batalha contra o cancro?
– Não, no essencial não. Há coisas que estão mais conscientes, que têm que ver com o passar do tempo, com a debilidade do corpo… Mas não penso de maneira diferente. A doença não mudou a minha maneira de estar.
– Mas acredito que seja hoje diferente da mulher que era quando começou a sua carreira…
– Acho que sou um bocadinho melhor do que quando comecei. A vida só faz sentido se aprendermos com as coisas boas e más, com as certezas e com as dúvidas, mas não mudei o conceito que tenho da vida nem os meus valores.
– Como lida com o envelhecimento?
– Bem, se envelhecemos, é natural que fiquemos mais maduros e sábios. Em termos de imagem, é igual. Eu sou cantora e não dependo do meu corpo para isso. Se as pessoas gostam das minhas canções, não interessa nada se estou mais velha ou com as pernas mais largas. Não me preocupa que o meu corpo tenha as marcas da passagem do tempo. Não quero parecer que tenho vinte anos. Já os tive.
– E prefere o presente?
– Se não vivesse bem comigo própria, seria um problema, e não quero ter esses problemas. Vivo bem com a passagem do tempo e não estou sempre consciente do avançar da idade, nem dos anos de carreira. Vivo para o presente.
– Tem quase 30 anos de carreira. O que é que ainda tem vontade de conquistar?
– Tenho a vontade de ser melhor, de conquistar outros países. Ainda tenho muitas coisas para fazer. Tenho a sensação de ter começado agora. Os anos de carreira nunca me subiram à cabeça. Tenho a ilusão e a sensação de que ainda me falta muito. O meu caminho ainda está por descobrir.
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