Ainda não pensa no dia em que vai abandonar as corridas, embora reconheça que
"não é fácil contornar a falta de rodagem". Aos 51 anos,
Paulo Caetano prefere apontar para o futuro e para o trabalho – sempre ligado ao mundo dos cavalos e dos touros – que está a ser feito pelos seus filhos:
Maria Moura Caetano, de 23 anos, na disciplina de Dressage
, e
João Moura Caetano, de 25, como cavaleiro tauromáquico.No dia 2 de Junho, a Grande Corrida CARAS celebra os 30 anos de alternativa de Paulo Caetano. Para felicidade de pai e filho, ambos vão entrar na arena e tourear. Uma homenagem que pode ser também uma passagem de testemunho, tradições e da herança que é também um factor de
"alegria e comunhão" para toda a família.
– Quais são as vossas expectativas em relação à Grande Corrida da CARAS?
Paulo Caetano – É uma corrida que tem um significado especial para mim, pois comemoro os meus 30 anos de alternativa, com um cartel bem montado, na Praça de Touros mais importante do País. A expectativa não pode deixar de ser proporcional à vontade de que a corrida seja um enorme sucesso.
– E sente algum tipo de responsabilidade acrescida por se tratar da corrida que coincide com essa comemoração?
– A responsabilidade que tenho para com o público e o respeito que sinto pela minha profissão são tão intensos como no primeiro dia em que pisei uma praça de toiros, há 36 anos, com a determinação inabalável de dar o melhor de mim a esta profissão. São sentimentos que me acompanham desde o início e que me acompanharão até ao dia em que pisar pela última vez uma arena.
João Moura Caetano – Para mim, é um imenso orgulho e uma grande alegria poder participar nesta corrida. O meu pai esteve sempre ao meu lado. No dia da minha estreia, em Monforte, com oito anos, na prova de praticante, na minha apresentação no Campo Pequeno, antes da renovação, durante o meu percurso em Espanha… Recebi das suas mãos a alternativa, também no Campo Pequeno, no ano da reabertura da magnífica praça. É uma imensa alegria poder estar ao seu lado numa data tão significativa, que representa, acima de tudo, o muito que deu de si a esta profissão.
– Que balanço faz a estes 30 anos? Que marcas lhe deixaram os acidentes, as colhidas e as quedas?
Paulo Caetano – A vida, tenha ela o percurso que tiver, deixa marcas. Felizmente que é assim. Entendo as marcas da vida de uma forma positiva, como se fossem condecorações. Escolher uma profissão como esta, em que todos dias, mais do que a integridade física, se joga o pundonor, o brio profissional e a realização pessoal, é, em si mesma, uma opção que, apesar da dureza que implica, vale a pena. Dou graças por ter podido desempenhar a actividade para a qual senti que tinha vocação e que gostava de seguir como profissão. Não há cornadas, nem dos touros nem dos momentos amargos, que não sejam superados pela intensidade e pela beleza de nos sentirmos toureiros.
– Trinta anos depois, ainda consegue ter a mesma alegria a tourear? Qual é o segredo?
– Escrevi um dia:
"Ainda hoje, ao fim de todo este tempo, tão longo e tão curto, em que me sinto grato, honrado e feliz, é, em cima da minha sela, do alto do meu cavalo, que encontro a minha harmonia, o meu equilíbrio, o meu universo." Esta frase diz tudo. Em 30 anos, há aspectos que mudam na forma de agir de cada pessoa. Nos toureiros, isso também acontece. É saudável, representa amadurecimento, experiência, conhecimento. Mas é importante que se continue a ser fiel à personalidade e à forma de sentir as coisas. Continuo a tourear com o mesmo gosto e com a mesma entrega. Apesar de trabalhar com o maior empenho, não é fácil contornar a falta de rodagem.
– Já pensa no dia em que vai deixar as arenas? Que sentimentos tem nesses momentos?
– Não gosto de antecipar situações. A vida tem graça pela sua imprevisibilidade. Não sou pessoa de saudosismos, como tal, no dia em que deixar definitivamente as arenas, fá-lo-ei sem dramas, encarando o que a vida me reservar com coragem e entusiasmo.
– Existe uma alegria ou, pelo contrário, uma ansiedade diferente por participar numa corrida em que o seu filho também vai tourear?
– Já toureei muitas corridas com o João. Como pode imaginar, o que se sente como toureiro e simultaneamente como pai de toureiro não é tarefa fácil. Sei que o João herdou de mim o amor por esta arte e a vontade de triunfar. Optou pela profissão que o faz feliz, como tal, resta-me ensinar-lhe aquilo que sei e apoiá-lo.
– Que conselhos lhe dá? E também os recebe?
– É uma boa pergunta, porque dá oportunidade a uma resposta que contém um sentimento muito bonito. A entreajuda entre mim e o meu filho João é constante. Já lá vai o tempo em que lhe ensinei as bases e, posteriormente, os segredos mais complexos destas duas actividades maravilhosas, a equitação e o toureio. Hoje ele é um profissional completo. Com conhecimentos e personalidade própria. Isso é fantástico, pois permite, precisamente, que seja ele muitas vezes a aconselhar-me e a ajudar-me.
– Como reagiu quando o seu filho lhe disse que queria ser cavaleiro tauromáquico?
– Desde muito novos que tanto o João como a Maria, que é cavaleira de
dressage, seguiam todos os meus passos como cavaleiro e como criador de cavalos com tal interesse e entusiasmo que nunca duvidei da sua vocação. Quanto ao João, não posso deixar de me preocupar com a sua segurança. O toureio é uma actividade de grande risco. No entanto, não me posso esquecer que os meus pais também sofreram com a minha profissão e nunca deixaram de me apoiar.
– Como pai, o que sente quando vê o João tourear?
– Muita preocupação, mas também muita confiança.
João Moura Caetano – Em minha casa respira-se, desde sempre, um ambiente de cavalos e touros. Somos uma família de
ganaderos, de criadores de cavalos, de gente do campo.
– Ou seja, ninguém ficou surpreendido quando anunciou o seu caminho profissional…
– Se bem me lembro, não foi sequer uma decisão anunciada, foi uma consequência da minha
afición e da minha vocação, que foi recebida com naturalidade por toda a família.
– O facto de ter escolhido seguir a mesma carreira que o seu pai foi um factor adicional de união na família?
– A minha família é muito unida e acredito que da mesma forma o seria se eu tivesse escolhido qualquer outra carreira. Amamo-nos e respeitamos muito a liberdade e as opções de cada um. No entanto, não posso deixar de sentir que o facto de termos actividades comuns ou co-relacionadas é um factor de alegria e comunhão para todos nós.
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