Lourenço Beirão da Veiga poderia ter sido jogador de futebol não fosse a mãe,
Helena Guedes, o ter tirado dos relvados por causa das más notas na escola. Passou a dedicar-se aos
karts, porque não lhe roubavam tanto tempo aos estudos, mas nunca mais largou os carros e fez disso a sua profissão. Hoje, com 30 anos, é um dos corredores mais promissores do País.
A CARAS foi conhecer melhor este piloto, que nos recebeu na sua casa, em Lisboa, com os sobrinhos
Martim Morais e
Vera Bullosa, de dez e dois anos.
– Como é que surgiu esta paixão pelos carros?
Lourenço – Aos 12 anos, quando um primo me levou ao kartódromo de Évora. Experimentei e adorei. Na altura jogava futebol, no Belenenses, e como as notas não eram as melhores, a minha mãe tirou-me do futebol. Mas para não me tirar tudo de uma vez, achou melhor deixar-me os karts, visto que era uma coisa que me roubava menos tempo, pois só praticava aos fins-de-semana. Mal ela sabia que iria tornar-se uma coisa séria e que as corridas acabariam por me tirar mais tempo do que o futebol…
– Suponho que a sua mãe se tenha arrependido dessa decisão…
– Arrependeu-se. Quanto mais não seja, porque é um desporto mais perigoso. Acabou por não ter sido a melhor opção para ela. Mas para mim foi. Acabei por seguir aquilo de que mais gostava, que são as corridas. E tudo começou por uma brincadeira…
– Apesar do Martim ainda só ter dez anos, já o influencia ou incentiva a correr também?
– Houve uma altura em que tentei que ele começasse a correr. Tinha uns quatro ou cinco anos quando o levei a um kartódromo, só que não havia kart disponível para o tamanho dele. Há uns dias voltei a levá-lo lá, ele experimentou e adorou. Portanto, acho que vamos ter mais um corredor na família.
– A sua irmã é que não deve achar muita piada a isso…
– [risos] Não, mas ela já viu por mim que não é assim tão perigoso.
– É muito próximo dos seus sobrinhos?
– Sim. A minha irmã
Marina mora aqui ao lado, por isso, tenho uma óptima relação com o Martim e a Vera. A
Carlota [
Gião] não mora muito longe e também consigo estar com os meus sobrinhos
Manuel e Camila… Sempre fui um tio presente, tenho sempre tempo para eles. Com o Martim e a Vera estou mais vezes, porque janto muitas vezes na casa da Marina… Somos muito unidos.
– E quando é que pensa ter os seus filhos?
– Penso nisso, quero ter os meus filhos, mas primeiro tenho de arranjar namorada. [risos] Enquanto não encontrar a pessoa certa, não vale a pena. Por enquanto, vou tirando partido dos meus sobrinhos.
– Será o facto de passar tanto tempo fora, nas corridas, que o impede de arranjar namorada?
– Acho que não. Simplesmente, ainda não calhou encontrar a pessoa certa. Eu sei que a minha profissão me ocupa muito tempo, mas dá perfeitamente para estar com alguém, para conciliar as coisas, até porque eu moro cá em Portugal e é aqui que tenho a minha vida. E quando se quer muito, tudo acontece. Ainda não aconteceu, mas quando aparecer a tal pessoa, quero ter filhos e constituir a minha família.
– Voltando às corridas. Começou muito novo. Que implicações é que isso teve na sua vida? Deixou a escola?
– Na altura dos karts conseguia conciliar facilmente com a escola, mas depois, quando passei para os automóveis, aos 19/20 anos, foi mais complicado. Mas como tinha estatuto de autocompetição, uma maneira de poder anular os exames, fui fazendo e formei-me. O que também complicou mais os estudos foi o facto de eu ter vivido uns meses fora, em Itália e Espanha, por causa das corridas. Demorou um bocadinho mais, mas consegui formar-me.
– Essa foi uma das contrapartidas que os seus pais exigiram para poder manter-se nas corridas?
– Sim… Fiz uma promessa à minha mãe. Na altura em que eu lhes disse que já não havia hipótese, que ia seguir mesmo os automóveis, tive de prometer que pelo menos acabava os estudos. E tirei Comunicação Empresarial e Relações Públicas.
– O que é que o atrai nas corridas? A velocidade?
– É um bocadinho de tudo. É a parte mecânica, o desafio de tentar arranjar a melhor afinação para o carro ser o mais rápido possível, é a velocidade, a competição directa… quando vamos a 200/300 km/hora e estamos muito perto uns dos outros, a adrenalina é grande. O fim-de-semana das corridas fascina-me. Chegar lá e pensar no que vou ter de fazer para as coisas correrem a 100 por cento, ver o carro a desenvolver, os tempos a melhorarem, os resultados…
– É uma profissão de risco…
– É e não é. Andar na estrada é que é perigoso. Já tive acidentes grandes dos quais saí ileso, se fosse na estrada, não sei. Lá, eu sei que o piloto que está à minha frente sabe o que está a fazer, tal como eu.
– E como é que conduz na estrada? Exagera na velocidade?
– Já exagerei mais. Quando tinha os meus 18 anos, achava que a estrada era uma pista, mas depois de umas batidelas acabei por perceber que mais vale andar devagar. Já não sou de loucuras na estrada. Descarrego a adrenalina nas corridas. Acho que devia ser obrigatório todos os condutores irem a um kartódromo descarregar a adrenalina para andarem mais calmos na estrada.
– Qual é o seu objectivo? Onde gostaria de chegar?
– No início, sonhava com a Fórmula 1, mas acho que temos de sonhar com o passo a seguir, é o mais lógico. Quando uma pessoa quer muito uma coisa e se torna uma obsessão, acaba por ser negativo. Eu sempre sonhei com o passo a seguir. Neste momento, é o Europeu, e depois, quem sabe, Le Mans. Vivo um ano de cada vez. Não sonho muito alto, porque depois a queda pode ser maior. Por isso, mais vale ser realista, para as coisas irem acontecendo com naturalidade.
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