Ana Brito e Cunha, de 35 anos, sempre foi conhecida como a atriz engraçada e sem grandes complexos por ser mais gordinha que outras atrizes da sua geração. Contudo, há cinco anos a atriz decidiu mudar de vida, deixando para trás a mulher com alguns quilos a mais. Uma alimentação equilibrada e a prática de exercício físico transformaram não só o seu corpo como a sua vida. Hoje, Ana continua a ser a rapariga divertida, mas já mostra que é muito mais do que isso. Agora, o desafio é encontrar o equilíbrio entre a mente e o corpo mostrando por fora o que se é por dentro: alguém saudável, que vive sem grandes planos e que quer descobrir nas oportunidades que a vida lhe dá um caminho para a felicidade.
Realizada na sua profissão, Ana quer continuar a apostar em ser cada vez mais uma atriz completa e, por isso, é sem sentimentos de culpa que deixa projetos como o de ser mãe para depois, apesar de ser um sonho que quer concretizar. Mas não é só em cima dos palcos que a atriz é uma mulher feliz. Apaixonada por
Miguel Carvalho, com quem namora há sensivelmente um ano, Ana vive com serenidade este romance que apareceu de repente, como quase tudo na sua vida. Foi durante um dia passado no Alentejo, na Horta do Zé, que a CARAS falou com esta "nova versão" de Ana Brito e Cunha.
– Não é por acaso que estamos a fazer esta produção numa horta, porque se conseguiu perder tanto peso também foi graças à mudança do seu regime alimentar…
Ana Brito e Cunha – Isto começou tudo no Clube VII. Eles queriam uma parceria e eu comprometi-me a fazer exercício três vezes por semana, a fechar a boca e eles ajudavam-me a emagrecer, porque sozinha não conseguia. Em março de 2005, pesava 70 quilos. Entretanto, comecei a ir ao ginásio todos os dias e o
Zé, o dono desta horta, começou a transmitir-me este fascínio pela agricultura biológica. Depois, em novembro, fiz uma lipoaspiração não invasiva, na Clínica do Tempo, e comecei a pesar entre os 48 e os 50 quilos. Foi um processo muito natural. Costumo dizer que as coisas acontecem-me e eu aproveito todas as oportunidades que a vida me dá, a todos os níveis, pessoal, profissional, emocional… Programar demasiado resulta em muitas desilusões.
– E como é que foi para si, que sempre foi curvilínea, vestir de repente um 34?
– Isto mexe connosco. É uma alegria para mim estar assim, porque tudo o que visto me fica bem. Eu sou atriz, trabalho com as emoções e sou acompanhada emocionalmente na escola do
Juan Carlos Corazza, na reciclagem que ele faz de verão, e isso tem-me ajudado. Ainda hoje fico horas ao espelho! É um choque. Fiquei muito mais vaidosa. Sinto-me muito melhor.
– Passou de uma pessoa com alguns quilos a mais para alguém que dá conselhos sobre como ter uma vida saudável…
– Sim. O livro
Para Muito Melhor surgiu por acaso. Uma amiga minha, a
Georgiana, queria emagrecer e pediu-me ajuda. Eu não estava com tempo, mas disse para ela vir a minha casa almoçar, que eu ia dar-lhe alguns truques e assim ela via o que é que eu como. E ela sugeriu-me que escrevesse um livro e que contasse a minha história.
– Não tem medo que agora a sua magreza seja o assunto principal da sua vida e que ofusque um bocadinho a Ana atriz?
– Não, não tenho medo nenhum. Cansa-me um bocadinho estar a falar sempre na mesma coisa, mas eu consigo dar a volta à coisa. E até reagi mal algumas vezes quando diziam que estava muito magra. Tenho consciência de que isto de perder peso pode ser perigoso e obsessivo e eu não quero tornar-me uma pessoa pouco saudável.
– Mas não acha que pesar-se todos os dias logo de manhã não pode ser interpretado como um comportamento obsessivo?
– As pessoas não têm de fazer dieta todos os dias. Eu, se como algo que faz mal, se não me pesar e controlar, vou engordar. E as pessoas não têm noção do esforço que fiz para emagrecer. A força de vontade é como o amor, constrói-se. E é muito difícil emagrecer, como deve ser difícil para uma pessoa que quer engordar e não consegue. Sinto que sou extremamente equilibrada, com as minhas loucuras, porque também me sinto uma mulher meio louca, graças a Deus, e tenho uma família que me adora. Vou ao médico, faço análises… Agora, as minhas oscilações de peso são de dois quilos, e isso é bom, porque não quero ser escrava da minha dieta.
– A Ana é a personificação do "eu sou aquilo que como"…
– Sem dúvida! Sou aquilo que como! Sou uma pessoa saudável, com muita energia, adoro trabalhar e não consigo estar quieta. Também tenho muitos defeitos, mas não devemos falar sobre eles. Sou uma privilegiada, porque tenho a profissão que adoro, uma família maravilhosa… Sou honesta, sou aquilo que aqui está, não tenho disfarces. Não gosto de deslumbramentos.
– Ao longo destes cinco anos não foi apenas o seu corpo que se alterou… O que é que mudou em si, na sua personalidade?
– Eu acho que estou muito mais segura, tenho outro poder em mim. Todo este meu processo de trabalho, de emagrecimento e o meu amadurecimento tornaram-me uma mulher mais serena. Quem ouve a minha gargalhada pode pensar que sou a maluquinha de Arroios, mas não sou! Se calhar essa minha personalidade animada poderia ser para disfarçar a minha gordurinha, não sei… E já não me preocupo tanto com o que os outros pensam. Preocupo-me muito mais com o meu coração. Sou uma pessoa generosa, às vezes de mais, e perdi isso. Continuo a ser generosa, mas não para agradar aos outros.
– Acha que o facto de gostar mais de si, de olhar para o espelho e ficar muito agradada com o que vê, pode torná-la egocêntrica?
– Já pensei nisso, e é uma coisa que está muito presente na minha vida. O ator é egocêntrico e, graças a Deus, tenho tido uma família que me puxa sempre os pés para a terra. E a escola do Corazza também me ajuda muito nisso. A minha postura é a de viver sem dramas.
– Basta olhar para si para perceber que está feliz. Acredito que o namoro com o Miguel a ajude a manter essa alegria…
– Não vou desenvolver muito este tema… De coração estou bem, foi uma surpresa na minha vida. Conheci o Miguel há um ano e estamos a construir algo muito bonito. Sou mulher, penso em casar-me e em ter filhos. Quero mesmo ser mãe, mas já tive mais pressa do que tenho agora. Percebi que Deus me estava a dar a oportunidade de desenvolver a minha profissão. E tenho a certeza de que ser mãe vai acontecer um dia, porque é uma coisa que quero. Aceito o que a vida me dá.
– Já falou várias vezes do Estúdio Corazza, em Espanha. Quer que o seu futuro passe por uma carreira internacional?
– Quero ter uma carreira internacional. Não estou à procura disso e sinto que ainda tenho de aprender. Quando comecei a estudar em Espanha, apetecia-me logo lá ficar… Mas eu quero fazer de Portugal uma força cultural e não quero mudar de país, porque sou muito agarrada às minhas raízes.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.