É com um orgulho indisfarçável e sem qualquer tipo de embaraço que
Manuel Luís Goucha, de 55 anos, confessa ser, ainda hoje, "
um menino da mamã". O apresentador diz que a mãe,
Maria de Lourdes Sousa, de 87 anos, é a pessoa de quem mais gosta no mundo, pelo que decidiu terminar o programa
Mulheres da Minha Vida com uma conversa com ela. Foi na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, cidade onde cresceu, que o apresentador teve uma conversa sincera e emotiva com a mãe, mostrando um lado mais privado da sua história, como poderá ser visto esta semana no canal TVI24.
Aproveitando esta ocasião, a CARAS falou com o apresentador e empresário sobre o papel que a mãe tem na sua vida e a maneira como aceitou a presença de
Rui Oliveira, companheiro de vida e sócio do filho, as suas memórias de infância, a culpa que sente por não ter investido numa relação com o pai, que morreu há sensivelmente quatro anos, e a forma como lida com o facto de ter apostado mais na sua carreira do que na vida pessoal e social.
– Terminou o programa
Mulheres da Minha Vida tendo como convidada a sua mãe. Foi uma conversa fácil?
Manuel Luís Goucha – Foi uma conversa diferente, porque passeámos por 17 anos de vida em comum. Sou um menino da mamã e sempre assumi isso. Eu estive sempre agarrado às saias dela. Há momentos no programa em que estou à beira das lágrimas… Saio de casa com 17 anos, numa altura em que havia o choque de gerações e não me estava a dar muito bem com a minha mãe, e no programa ela diz que esteve quase a morrer por minha causa, porque o maior desgosto da vida dela foi o seu menino sair de casa. E eu não sabia disto! Foi difícil de digerir… Muitas vezes a minha mãe e o meu irmão estavam a jantar e ela dizia-lhe: "
Eu não sei o que é que o teu irmão tem para comer…" Acho que deve ter sido muito duro para ela. Esse momento do programa tocou-me muito.
– Como é que era o Manuel Luís durante a sua infância?
– Era uma criança muito velha, metida comigo, muito solitária. Vivia no mundo da representação e dos livros. Quando me perguntavam, em pequeno, o que é que queria ser, sempre disse "conhecido", nunca disse outra coisa. E a minha mãe confirma isso.
– Cresceu com a sua mãe, a sua avó materna e o seu irmão, Carlos Jorge, que é dois anos mais novo. Sentiu muito a ausência do seu pai?
– O casamento dos meus pais só durou três anos. Nunca tive relação com o meu pai. Fui-o encontrando ao longo da minha vida, esparsas vezes. Quando os casais se separavam, há 50 anos, não era pacífico, e aquela separação foi difícil e a minha mãe não terá facilitado a vida ao meu pai para que ele tivesse uma relação comigo e com o meu irmão. A minha mãe não soube gerir o desamor.
– Culpa a sua mãe por isso?
– Não, porque depois eu também não fiz nada para ter uma relação com ele, não como pai, porque uma relação entre pai e filho não começa aos vinte e poucos anos, mas hoje tenho pena e culpo-me por não ter feito nada para o conhecer como pessoa, porque acho que herdei dele o gosto por arriscar e o saber apreciar as coisas boas da vida.
– Fale-nos então da relação que tem hoje com a sua mãe…
– Eu e a minha mãe somos muito unidos. Ela sabe o filho que tem e, apesar de tudo, ainda hoje diz que eu daria era um bom advogado! [risos] Ela não gosta é que eu faça muitas palhaçadas na televisão e diz que a
Cristina [
Ferreira] me estragou. [risos] Ainda hoje me chama a atenção. E eu também lhe ‘dou na cabeça’ e ponho-a de castigo! Nem sempre estamos de acordo, claro que não lhe levanto a voz, nem me atrevo. E às vezes digo-lhe: "
Estás de castigo e não te telefono durante três dias." E ela diz-me: "
Não me podes levantar o castigo?" É uma relação de dois ‘putos’. No dia em que ela me faltar não vai ser nada fácil, sobretudo se estiver a fazer o programa da manhã e tiver de passar uma mensagem de alegria. A minha mãe é o meu chão. É melhor nem falarmos sobre isso…
– É uma relação aberta? A sua mãe sabe o que se passa na sua vida?
– Acima de tudo, ela é mãe, porque acho que uma mãe não tem de ser amiga. Mas é mãe que deu colo… Nunca tive segredos para a minha mãe, ela está sempre a par do que faço na vida. Quando ela tinha alguma dúvida a meu respeito, perguntava-me frontalmente. Ainda hoje! E isso acontece de parte a parte. E a maior prova que a minha mãe me deu de uma relação aberta e sem tabus, como deve ser uma relação entre pais e filhos, embora não se tenha de contar tudo aos pais, foi durante um almoço em que ela me disse: "
Sabes que eu traí o teu pai? Mas ele já me tinha traído várias vezes."
– Há cerca de um ano deu uma entrevista ao lado do seu companheiro de vida, Rui Oliveira. Como é que a sua mãe encara essa relação?
– Normalmente. O que disse na altura foi que a seguir à minha mãe, o Rui, que é meu sócio e tem projetos de vida em comum comigo, é a pessoa de quem mais gosto. Está tudo dito e não está nada dito. Cada um tira as conclusões que quiser… Aquela casa tem dois homens que estão juntos, que têm projetos de vida e profissionais, e a minha mãe faz parte dos projetos.
– Ter essa aceitação e compreensão por parte da sua mãe deve ser muito reconfortante…
– Sim, mas não é o mais importante. A minha vida é comigo e não é com a minha mãe. Se ela não gostasse de mim por qualquer faceta do meu carácter, era um problema dela. Aos 18 anos disse à minha mãe: "
Eu sou assim. Ou me aceitas como filho, ou cada um faz a sua vida." E ela disse-me: "
Oh meu filho, eu só quero que tu sejas feliz." E isto é de uma mulher muito à frente do seu tempo. Eu sei o que quero da minha vida e quero ser honesto. Gosto de mim como sou, apesar de ter muita coisa para melhorar.
–
É fácil viver-se consigo?
– Eu vivo muito bem comigo. Basto-me a mim. Claro que vivo bem comigo e gosto imenso de ter as minhas horas sozinho no jardim, com os meus cães, mas sei que há alguém que vai entrar naquela casa ou que está do outro lado do telefone. É bom saber que alguém vai entrar em casa. Sou felicíssimo e não peço nada à vida para não atrapalhar. Se tiver muitos planos, posso passar ao lado dos planos que a vida tem para mim.
– Acha que se tem dedicado demasiado à vida profissional?
– A vida passa a correr e acho que paguei caro por me dedicar por inteiro ao que queria ser desde criança. Quando estou a fazer televisão, há dias em que me sinto tão feliz que quase flutuo. Continuo a brincar como aos sete e oito anos, quando, frente à televisão, entrevistava pessoas imaginárias. Foi uma opção. Dou-me com poucas pessoas. Faço um programa diário e tenho de estar logo de manhã disponível para cem pessoas, entre convidados e figurantes no programa. E tenho de ser simpático para elas. Depois, vou para o restaurante receber as pessoas ao almoço. Às três da tarde só quero entrar num mundo onde só esteja eu, os meus cães, os meus discos e filmes.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.