O imponente Paço dos Duques, em Guimarães, abriu-se para
Sofia Escobar, a menina da terra que há quatro anos se mudou para Londres, para estudar na conceituada Guildhall School of Music and Drama, e por lá ficou. Depois de uma turné mundial no papel da Maria de
West Side Story – interpretação que lhe valeu a nomeação para o prémio de Melhor Atriz de Teatro Musical em Inglaterra -, Sofia foi escolhida para ser a protagonista da nova temporada de
O Fantasma da Ópera, que estreia este mês no londrino Her Majesty’s Theatre. Aos 25 anos, os mesmos que este musical tem em cena na capital inglesa, a jovem de Guimarães vive num mundo sem fronteiras e, apesar de ser sonhadora, tem os pés bem assentes no chão. Não se ilude e sabe o que tem de fazer para se destacar entre os melhores. A ligação à família e a Portugal é grande, mas a atriz e cantora está concentrada no trabalho. A CARAS conversou com Sofia Escobar sobre as suas ambições, o sonho de constituir família e o seu dia-a-dia em Londres.
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Dois anos depois de se ter estreado nos musicais londrinos, acaba de saber que vai ser a protagonista de
O Fantasma da Ópera. Como recebeu a notícia?
Sofia Escobar – Foi um processo muito doloroso. Fiz várias audições e a fase final foi horrível. Estávamos quatro potenciais protagonistas e qualquer uma de nós poderia ser a escolhida. Esperar pela decisão do produtor
Cameron Mackintosh e do compositor
Andrew Lloyd Webber foi a pior parte… Mas quando soube que tinha sido escolhida e ia fazer seis espetáculos por semana, comecei aos saltos! Incrível!
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Quando deixou Guimarães e foi estudar para Londres, alguma vez pensou que iria ser a protagonista de um clássico que está em cena há 25 anos?
– Não. [risos] Mas sempre sonhei com este papel! Tinha as partituras d’
O Fantasma da Ópera e sempre foi algo que me fascinou. Fui para Londres estudar, apostar na minha formação, mas sempre tive os pés na terra. Acho é que as coisas não acontecem por acaso. Como o facto de estar a dias de pisar o palco como protagonista de uma das minhas histórias preferidas de sempre… É um ambiente bastante familiar. Um papel de sonho!
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É um passo enorme na sua carreira e de muita responsabilidade. Está nervosa?
– Acima de tudo, espero conseguir cumprir o meu papel. Nervosa? Nesta fase estou muito entusiasmada, mas já sei que no dia da estreia vou estar uma pilha de nervos. Mas vou ter o apoio dos meus pais, que é sempre importante.
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Os seus pais apoiam-na sempre… Afinal, deixaram-na ir para Londres sozinha com apenas 21 anos…
– Não só me deixaram ir como o tornaram possível. Sinto que isto foi um trabalho de equipa, que nunca estive sozinha. Sou lutadora e quando meto uma coisa na cabeça não me conseguem demover. Felizmente, os meus pais confiaram em mim e perceberam, como eu, que era difícil viver de uma carreira de palco em Portugal.
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Vive há quatro anos em Londres. Já se sente em casa?
– Mais ou menos. Estou muito ligada a Portugal. Quando fui para Londres, em 2006, era tudo novidade e foi muito empolgante. Vivi a concretização do meu sonho de adolescente. No segundo ano, já notei que fazia frio e que a comida não era grande coisa. Nessa altura, as saudades de casa começaram a ser cada vez mais fortes. Tenho as minhas raízes em Portugal, e quanto mais tempo estou fora, mais sinto o apelo de voltar.
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Com seis espetáculos por semana, vai sobrar-lhe pouco tempo livre. Como fica o seu coração? Desde que se mudou para Londres, já teve tempo para se apaixonar?
– Há uns tempos comprei um colar com um coração e uma chave, simbolizando que o meu coração estava fechado, à espera de alguém que mereça a chave. Tem de ser alguém especial, que perceba o meu mundo. E não é fácil, tenho viajado muito nos últimos tempos, não sobra grande tempo para paixões. Sinto a responsabilidade do meu trabalho e sei que não posso falhar. Não posso sair à noite, tenho de ter cuidados com a voz, porque o nível de exigência é muito alto… Mas estou feliz, não dramatizo. Acho que as coisas acontecem quando têm de acontecer, e esse dia há-de chegar.
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Nos musicais conjuga a música e a interpretação. O que surgiu primeiro na sua vida?
– Também me questiono sobre isso muitas vezes. Sempre gostei muito de cantar, mas foi o teatro que entrou primeiro na minha vida. Aos 13 anos, entrei para o Círculo de Artes e Recreio de Guimarães e fiquei apaixonada.
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Já pensou no que seria se não tivesse arriscado ir para Londres em 2006? Qual seria a sua profissão hoje?
– Provavelmente trabalharia com crianças, dando aulas de canto ou de inglês.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.