Há cinco anos,
Rui Mendonça, um empresário angolano de 42 anos, aceitou o desafio que lhe foi proposto para implementar e administrar o Banco Equador em São Tomé e Príncipe e mudou-se para aquele país, onde vive sozinho. Uma opção que fez mesmo depois de ter vivido 15 anos na Europa, entre Portugal e Espanha, onde estudou e se formou em Economia. Aquele que seria o sonho de muitos africanos, viver na Europa, estava ao seu alcance, mas a paixão por África falou mais alto. Ainda esteve em Angola, onde vive a sua família, mas acabou por apaixonar-se por São Tomé e agora nem pensa em deixar aquele país.
– Viver sozinho, longe da família e amigos, não deve ser fácil…
Rui Mendonça – Não. Mas vou com alguma frequência a Angola, e ultimamente têm sido eles a vir cá. Gostam muito de S. Tomé. É um país muito calmo, em Luanda é tudo muito stressante. Então aproveitam para passar cá um fim de semana, uns dias. Felizmente, porque assim acabo por não sentir muito a falta dos amigos e da família.
– Nunca sentiu necessidade de constituir a sua própria família?
– Evidentemente que sim. Mas nesta situação seria um pouco complicado, uma vez que S. Tomé não oferece ainda as condições que gostaria de dar aos meus filhos. Estamos a falar em termos de saúde, escolas… muito pelos meus compromissos profissionais, e também porque sou ainda jovem, constituir família é um projeto adiado. E depois tenho sobrinhos, o que dá para compensar.
– É um homem de tradições e valores, e o seu pai é, ainda hoje, uma das suas grandes influências…
– Sim. Tento sempre ser como o meu pai, que é uma pessoa que admiro. Pela forma generosa de ser e estar na vida, pelo grande profissional que é e porque me transmitiu sempre grandes ideais, sobretudo de solidariedade e de ajuda ao próximo. Pressupostos que quero manter sempre, quero seguir o seu legado. Sendo filho mais velho, é o mínimo que podia fazer por ele, correspondendo a tudo o que fez por mim. Sei que nunca chegarei onde ele chegou, mas quero chegar o mais perto possível. Se conseguir isso, serei um homem feliz.
– Aos 42 anos, conseguiu já tornar-se um empresário de sucesso, o que o deixa próximo dos objetivos…
– Tento ser um empresário de sucesso! Estamos a começar a desenvolver a nossa empresa e os nossos negócios em S. Tomé, já temos um legado muito maior em Angola, mas acredito que podemos crescer muito neste país. É um investimento estratégico a médio/longo prazo, não pensamos ter lucro já. Estamos no bom caminho e acho que já conseguimos conquistar o respeito e consideração da sociedade são-tomense, e isso motiva-nos a prosseguir nesta senda, neste esforço para reconstruir e fazer crescer este país.
– É um homem de desafios?
– Sou um homem de desafios, gosto de começar projetos, desenvolvê-los e depois entrar noutros desafios. Neste momento, já estou a pensar noutros desafios. Tenho projetos imobiliários de grande vulto aqui para São Tomé, sobretudo no setor hoteleiro e residencial.
– Este país será, então, a sua ‘casa’ nos próximos anos?
– Acho que sim. Foi o único sítio do mundo, de todos por onde passei, onde decidi construir a minha própria casa, ao meu gosto, como sempre sonhei. Nem no meu próprio país de origem o fiz. Aqui fui muito bem acolhido, sempre fui bem tratado, adoro este povo e acredito no crescimento de São Tomé.
– Esteve em Portugal e em Espanha. Nunca equacionou fixar-se na Europa?
– Não. Nos quinze anos em que estive a estudar, vivi sempre na Europa, mas fiquei desiludido. Isto porque sou uma pessoa de desafios, gosto de partir do zero, de ver as coisas serem criadas e acrescentar valor. Costumamos dizer que em África uma pequena coisa, um pequeno gesto, pode significar muito para muita gente. São essas pequenas coisas que fazemos que nos dão uma satisfação enorme, sobretudo quando vimos os resultados. Na Europa não existe liberdade para criar, para fazer coisas novas. Em África temos que ter espírito de sacrifício, mas é muito gratificante chegar ao fim do dia e percebermos que conseguimos mudar um pouco o mundo.
– Não é fácil viver num país onde os níveis de pobreza são muito elevados…
– A mim choca-me a pobreza, aliás, foi um dos fatores que me chocou mais no meu país. Porque aqui há pobreza, em Angola há miséria. Existem situações dramáticas lá. São Tomé é um país diferente. Deus colocou aqui tudo, não há fome, mas as condições básicas de vida não existem para muita gente. Mas acredito que isso seja reversível. Acredito no futuro deste país.
– Não podemos deixar de falar da White Sand Party, uma festa que organizou e que trouxe várias figuras públicas ao ilhéu das Rolas…
– Sim adorei receber todos aqui… São Tomé tem muitos problemas logísticos, mas toda a equipa que trabalhou para este projeto esforçou-se imenso e conseguiu levar avante aquele que foi o primeiro grande evento realizado em São Tomé.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.