Pedro Lamy, de 38 anos, ficou conhecido como o piloto português que chegou à Fórmula 1. Foi na década de 90, mas hoje é noutras ‘corridas’, nomeadamente dentro de portas, que o automobilista tem a sua grande prioridade: a família. Companheiro de
Carla Cabaça há 17 anos e pai de
João Pedro, de oito anos, e
Lucas, de cinco, o piloto dá o seu melhor para ser um pai dedicado, apesar de nem sempre ser fácil conciliar as exigências da sua profissão com a vida familiar.
O piloto de provas de resistência LMP1-protótipo e a antiga jornalista estiveram com os filhos no Castelo da CARAS, em Alcácer do Sal, onde falaram dos desafios que vivem ao volante das suas vidas.
– O Pedro começou a correr logo aos cinco anos e fez disso a sua profissão. Tem sido fácil conciliar a prática de um desporto tão competitivo com a vida familiar?
Pedro Lamy – Sempre tive esta vida de andar cá e lá. E uma coisa que aprendi foi que quanto mais presente uma pessoa está, menos atenção dá aos filhos. Assim, quando estou em casa, dou-lhes muita atenção e todo o meu tempo.
Carla Cabaça – O Pedro é muito dedicado. Se estiver numa corrida, está concentrado nisso, se está connosco, dedica-se à família por inteiro. E apesar de ir frequentemente para fora, não fica lá durante muitos dias.
![Pedro Lamy e Carla Cabaça com os filhos Pedro Lamy e Carla Cabaça com os filhos](/users/0/15/pedro-lamy-e-carla-cabaca-com-os-filhos-fb39.jpg)
– Mas, em alguns dias, a Carla tem de ser um bocadinho mãe e pai…
– Quando engravidei do João Pedro já estávamos juntos há quase dez anos e sabia como era a vida do Pedro. Desenvolvemos um relacionamento como casal muito bom e só depois tivemos o nosso primeiro filho. Eu não sou pai e mãe, porque o Pedro é muito presente. Claro que há coisas na vida dos nossos filhos que ele não pode assumir e eu, como sou mãe a tempo inteiro, assumo.
– Qual é o balanço que fa-zem destes 17 anos de vida em comum?
Pedro – É um balanço muito positivo, e se assim não fosse já teríamos terminado. A Carla percebe a minha forma de estar na vida e dá-me espaço para a minha profissão. Também somos muito honestos um com o outro. Apesar de sermos pais, tentamos sempre não nos esquecermos de que somos um casal.
Carla – O balanço é o melhor possível. São 17 anos de um relacionamento muito feliz. Há amor, respeito e estamos bem… Nem parece que já se passaram tantos anos. E temos conseguido conciliar a vida familiar com a vida a dois, saímos juntos, fazemos programas sozinhos… O sucesso do nosso relacionamento tem que ver com isso, porque não caímos na armadilha de sermos apenas dois pais virados para os filhos. Sempre nos empenhámos em continuar a ser um casal.
– O Pedro e a Carla não são casados. Gostariam de um dia oficializar a vossa relação?
Pedro – O casamento não é importante para nós. Há muita gente que se casa e depois se separa e nós continuamos casados à nossa maneira. E isso é o fundamental.
Carla – Se o casamento fizesse sentido, já nos teríamos casado. O nosso relacionamento é muito forte, porque somos eternos namorados. O facto de não termos nenhum compromisso no papel faz com que nos empenhemos na nossa relação.
![Pedro Lamy e Carla Cabaça com os filhos Pedro Lamy e Carla Cabaça com os filhos](/users/0/15/pedro-lamy-e-carla-cabaca-com-os-filhos-8ec4.jpg)
– Tem medo que o casamento pudesse ‘abrandar’ o vosso empenho na relação a dois?
– Tenho esse medo… Tenho muito respeito pelas pessoas que se casam, mas às vezes penso que se nos casássemos talvez nos acomodássemos. Penso que agora, como já estamos juntos há muitos anos, isso já não aconteceria, mas o casamento de papel passado não faz diferença nenhuma.
– Nos intervalos desta produção, o Pedro brincou imenso com os seus filhos, jogou à bola, correu… Sente que tem uma relação especial com eles por serem rapazes?
Pedro – Não sei, acho que se tivesse uma menina seria igual. Dizem que as meninas são diferentes dos rapazes, mas isso todas as crianças o são umas das outras. E tento brincar bastante com eles. Claro que também imponho regras, mas é a mãe que dá mais as ordens, porque passa mais tempo com eles. Mas o facto de eles serem educados com regras é muito importante.
– Gostavam de ter mais filhos?
Carla – Eu gostava de ter três filhos, mas agora estamos bem com estes dois.
Pedro – Não está nada programado, pelo menos para já. Agora, são os meus filhos que mandam nisso…
![Pedro Lamy e Carla Cabaça com os filhos Pedro Lamy e Carla Cabaça com os filhos](/users/0/15/pedro-lamy-e-carla-cabaca-com-os-filhos-ffe5.jpg)
– São os vossos filhos que mandam? Como assim?
– Mandam bastante, claro que não decidem nada, mas adaptamos a nossa vida a eles… Mas em relação aos filhos, estava a brincar! Gostava de ter mais um filho, mas vamos ver.
– Falando agora da sua vida profissional: é fácil para alguém que chegou à Fórmula 1 continuar a sentir-se realizado correndo noutras competições que não são consideradas tão aliciantes?
– Em termos de objetivos e de carreira, a Fórmula 1 é sempre o ponto alto e é a competição em que se ganha mais dinheiro. São poucos os pilotos que conseguem lá chegar e ainda menos os que conseguem ganhar muito dinheiro. Mas é um desporto muito ingrato, porque os riscos são muito grandes. A Fórmula 1, em termos de felicidade, não me trouxe nada de bom e não gostei muito de lá estar, porque nunca tive oportunidade de estar integrado numa equipa competitiva, e até lá chegar sempre estive.
![Pedro Lamy e Carla Cabaça Pedro Lamy e Carla Cabaça](/users/0/15/pedro-lamy-e-carla-cabaca-6308.jpg)
– E na Fórmula 1 passou por momentos difíceis…
– Sim, passei por momentos difíceis, sobretudo quando tive o acidente, em 94, que me deixou de fora o resto dessa temporada. Mas foi a realização de um sonho, apesar de não ter conseguido estar numa equipa competitiva. A Fórmula 1 não foi o ponto alto da minha carreira. Só agora é que estou a viver esse momento, na Peugeot Sport.
Carla – No início não foi fácil para mim adaptar-me ao facto do Pedro estar na Fórmula 1, porque não estava habituada a lidar com o mediatismo e preocupava-me muito, porque é um desporto muito perigoso, com muitos riscos. Mas respeito as opções do Pedro e sei que ainda hoje ele corre riscos.
– Quando chega a casa, é fácil deixar a competição nas pistas ou no seu dia-a-dia também quer ser o melhor pai e marido?
Pedro – Não sei, porque só fiz isto na minha vida. Penso que se tivesse outra profissão, a minha maneira de ser seria a mesma, com vontade de vencer e determinação. É esta a minha maneira de estar na vida. É difícil ser o melhor fora das corridas. O que tento é ser correto e bom, o melhor que consigo. Tento ser eu próprio e ser bom naquilo que faço.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.