Não é por acaso que mulheres de todo o mundo suspiram quando ouvem o nome de
Colin Firth. Com 1,91m, o ator representa a imagem da elegância. Dono de uns olhos esverdeados que parecem estar sempre a dar-nos boas-vindas calorosas, é infinitamente educado, inteligente e charmoso. Sim, é um Mr. Darcy, o protagonista do filme
Orgulho e Preconceito, com o qual se tornou mundialmente conhecido. Entretanto, voltou a brilhar no mundo do cinema ao entrar no filme
O Discurso do Rei, no qual desempenha o papel de
Jorge VI, pai de
Isabel II, quando ainda era duque de York e passava por momentos de enorme humilhação quando tinha de discursar em público… e era traído pela sua gaguez. O seu desempenho tem sido amplamente reconhecido: já recebeu um Golden Globe e um SAG Award, e está nomeado para o Óscar…Aos 50 anos, Colin prefere não pensar muito na imagem de
sex symbol. É casado com a realizadora de documentários italiana
Livia Giuggioli, que conheceu na Colômbia em 1995, de quem tem dois filhos,
Luca, de 13 anos, e
Matteo, de sete. O ator tem ainda um filho mais velho,
Will, de 19 anos, fruto da sua relação com a atriz norte-americana
Meg Tilly, e visita-o com frequência em Los Angeles.
Apesar de viver desde os sete anos nos subúrbios de Winchester, em Inglaterra, as suas melhores recordações de infância remontam aos anos que passou na Nigéria, onde o pai deu aulas e onde viveu até aos quatro anos. E embora tenha casa em Londres, chegou a viver alguns anos em Itália, país a que gosta de regressar sempre que pode.
– Que traços de personalidade de Jorge VI lhe despertaram maior interesse?
Colin Firth – Ser simpático. Quer dizer, acho que há duas peças chave: uma delas é o seu carácter. Acho que ele era honesto e extremamente corajoso, embora não se apercebesse disso. Creio que ele se sentia sufocado pelo medo. Depois, era engraçado, tinha sentido de humor, e isso não é o que vem escrito na História. Não me refiro a
stand-up comedy, mas se lermos o seus diários – e nós tivemos acesso a eles – percebe-se que tinha sentido de humor.
– O seu papel neste filme voltou a atrair a atenção dos Óscares. Está entusiasmado ou ansioso com isso?
– Os Óscares são uma experiência irreal que já testemunhei no passado. Não cheguei a passar por aqueles momentos de tensão que se vivem antes da revelação dos vencedores porque se tratava de um filme pequeno –
Um Homem Singular -, pelo que ninguém esperava que ganhasse um Óscar… Desta vez, acredito estar preparado para conseguir gerir as expectativas. E esses momentos são maravilhosos, mas valem o que valem. Penso que é legítimo interiorizar todas essas emoções, desde que tenhamos a perfeita noção de que os filmes não se medem assim. A resposta é: espero ganhar um Óscar, e será dececionante se não acontecer, mas penso que o filme continuará sempre a ser o que é. Neste momento as pessoas estão a gostar de o ver, e é muito gratificante ter feito parte do filme, obviamente.
– Alguns críticos questionam-se por que é que não tem feito mais filmes desta dimensão…
– Provavelmente porque não serei tão ambicioso como deveria ser em relação ao número de filmes que faço ou à quantidade de filmes que gravo em grandes produtoras. Prefiro, honestamente, investir mais no tempo que passo em família, com a minha mulher e os nossos filhos, do que naquele que passo no trabalho. O trabalho não é o mais importante da minha vida, e educar os meus filhos faz-me acreditar ainda mais nisso. Adoro representar, ser ator tem-me proporcionado um estilo de vida muito confortável, e tem sido muito recompensador em termos criativos. Mas há muitas coisas no mundo da representação e da indústria cinematográfica que são extremamente alienantes e destrutivas. Eu não quero passar oito dos doze meses do ano longe da minha família e não conseguir sequer desfrutar de momentos de uma vida dita normal.
– É frequentemente referido com um
sex symbol. Como é que lida com isso?
– [risos] Não é, de todo, uma prioridade na lista das minhas preocupações! Depois do sucesso que foram as minhas personagens em
Orgulho e Preconceito e o
Diário de Bridget Jones, não me apetecia permanecer nesse registo. Não que essa imagem fosse desagradável – afinal, todos os atores querem ser desejados – mas porque isso iria limitar-me em trabalhos futuros. Ter apenas uma boa aparência física e ser alvo de olhares é muito aborrecido, e eu queria mais da minha carreira.
– Mas alguma vez caiu na tentação de se deixar favorecer por esse tipo de atenção?
– [risos] Não é de todo o meu género! Se eu fosse uma estrela de
rock, seria daqueles que deixam uma fila de fãs desapontadas à porta do quarto de hotel. Ainda me surpreende que esse tipo de atenção persista. Suponho que essa atenção me ajude a ganhar alguns papéis, apesar de pensar que é algo que se limita a referências na imprensa. O que me impede de querer ser uma celebridade, para usar este termos, é talvez o facto de odiar a forma como algumas ‘estrelas’ se comportam… Há muita arrogância e indulgência entre os grandes atores e eu detesto a forma como as pessoas que rodeiam essas ‘estrelas’ as tratam. Não gosto de subserviência ou de ser tratado como alguém especial. Os meus pais e muitas outras pessoas que trabalham arduamente em causas humanitárias é que merecem ser louvados pelos seu incrível espírito de sacrifício. Eles é que são os verdadeiros heróis. Por isso, não consigo tolerar noções distorcidas do que é ser-se uma estrela de cinema.
– Mas gosta de ouvir elogios das mulheres?
– Aprecio os sorrisos que recebo de vez em quando, alguns de mulheres lindíssimas, mas o meu coração está reservado para minha querida mulher, Livia. Acredito que, se nos quisermos manter bons atores, temos de construir uma forte ligação familiar ou acabaremos por nos deixar perder. Não é por acaso que muitos colegas que têm a minha profissão lutam contra todo o tipo de tentações. Precisamos da mulher e dos filhos para evitar que a nossa cabeça expluda. Precisamos de nos sentir calmos e estáveis quando estamos longe do nosso trabalho enquanto atores.
– Considera-se um homem romântico?
– Não sou otimista o suficiente para me considerar um romântico incurável, embora por vezes consiga olhar para o mundo sob uma perspetiva mais romântica. A minha maior preocupação, tanto a nível intelectual como espiritual, são as emoções e a forma como se manifestam e ramificam. Sou fascinado pelo comportamento humano e a forma como homens e mulheres interagem a nível emocional. Também sou pessimista no que toca a noções idealizadas de amor e romance… Não sou o tipo de romântico que gosta de chorar ou suspirar nos filmes.
– Como é que a sua mulher o ajuda a manter essa tranquilidade?
– A Livia faz um trabalho notável para me manter calmo e concentrado. Ajuda-me a manter os pés bem firmes no chão e ajuda-me a lidar com os altos e baixos inerentes à profissão, nomeadamente quando não conseguimos ficar com os grandes papéis, as grandes personagens. Apesar de ter feito parte do elenco de alguns filmes de grande sucesso, o facto de não ser tão ‘vendável’ como outros atores significa que também não tenho tantas oportunidades de fazer muitos outros filmes. Por isso, a Livia está ao meu lado quando preciso de desatar a chorar e sentir pena de mim próprio. Ela só me dá um beijo e uma chávena de chá, e o mundo volta a sorrir quando vejo os meus filhos correrem na minha direção para me abraçar.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.