Há pouco mais de três anos,
Michelle Williams recebia em Estocolmo, onde gravava um filme, a notícia de que
Heath Ledger, pai da sua filha,
Matilda, agora com cinco anos, tinha sido encontrado morto em casa. Os dois conheceram-se nas gravações de
Brokeback Mountain e rapidamente se tornaram uma das mais badaladas relações de Hollywood. Estavam separados há seis meses, mas nem por isso Michelle sofreu menos com a morte do ator, provocada por uma mistura de comprimidos.
"Foi um dos piores momentos da minha vida, senti-me completamente desorientada", revela. Desde então, pouco se ouviu falar da atriz, de 30 anos. Sabe-se que manteve um romance com o realizador e produtor
Spike Jonze durante um ano e que mantinha o sonho de materializar um projeto antigo, que agora surge sob o nome de
Blue Valentine – Só Tu e Eu, um filme intenso e de fortes emoções que tem gerado alguma controvérsia por incluir uma cena de sexo oral entre os protagonistas, Michelle e
Ryan Gosling.
"O filme é muito mais do que essa cena e é realmente uma linda e triste história de amor, e tentámos torná-la o mais real e honesta possível", afirma a atriz. Nos EUA o filme recebeu uma classificação que o impediu de ser mostrado em diversas salas, mas acabou por ser tão falado que isso fez o próprio sucesso do filme. E foi também o ‘renascimento’ da carreira de Michelle Williams.
– É-lhe fácil controlar a intensidade emocional que um filme como
Blue Valentine exige de si?
Michelle Williams – A fronteira entre a personagem e nós próprios é muito ténue e houve momentos em que tanto o Ryan como eu já não nos sentíamos nós próprios, mas uma versão criada pelas nossas personagens. Não discutimos ou ensaiámos o que íamos fazer nas cenas de sexo, por isso foi um processo difícil.
– Nesses momentos não é assim tão divertido ser atriz…
– Nunca fico contente quando estou a interpretar uma personagem. Sinto sempre algum transtorno e agonia quando estou a gravar, de tal forma que tenho que me obrigar, física e psicologicamente, a prosseguir o trabalho. Não foram apenas as cenas de sexo que foram difíceis para mim. Tive vários dias de gravações complicados, como as cenas em que tinha de gritar muito ou discutir com o Ryan, e o
Derek [
Cianfrance, o realizador] levou-nos além dos nossos limites e queria que estivéssemos realmente zangados um com o outro, tanto quanto as nossas personagens era suposto estarem.
– Alguma vez esperou que a cena de sexo gerasse tanta controvérsia?
– Enquanto gravávamos, nunca pensámos na classificação que seria dada ao filme. O Ryan, o Derek e eu discutimos o assunto e concordámos que se eu não me sentisse confortável com a cena ou ficasse incomodada com a versão final, seria cortada na edição. Depois, quando a vi pela primeira vez, nunca senti que fosse escandalosa ou ordinária ou até esquisita. Foi apenas um momento na vida daquele casal. Por isso, fiquei chocada com a classificação que tornou o filme interdito em muitas salas de cinema. Felizmente tudo acabou bem e o filme ganhou até alguma atenção devido a toda a discussão, até porque não tem nada que ver com sexo, e espero que ninguém fique com essa impressão.
– Como conseguiu interiorizar a mudança de sentimentos da personagem, que começa por ser muito feliz e depois sofre uma reviravolta completa?
– Tentei analisar o meu próprio período de inocência na juventude e a forma como mudei ao longo do tempo. Passei muito tempo a pensar como iria mostrar uma mudança que acontece em seis anos. Quando olho para fotos minhas de há seis anos, reparo que sou a mesma pessoa, mas agora pareço mais cansada, exausta. E transportei isso para a personagem. Ela deixou de ter tempo para cuidar de si própria. Tudo o que tem ou pode dar é para a filha. É a filha que tem roupas novas, um corte de cabelo fantástico, tudo. Ela torna-se extremamente desleixada consigo própria. E a verdade é que conheço muita gente assim, até eu própria.
– Só há pouco tempo começou a falar do que sentiu ou passou com a morte de Heath Ledger. Consegue descrever ou falar do que passou nessa altura?
– Tive um terrível sentimento de perda, e por toda a atenção que o caso teve, não consegui voltar a viver em Nova Iorque, foi muito difícil encontrar um sentido para tudo o que estava a acontecer… Foi-me difícil pensar em trabalho de novo, porque dei por mim completamente isolada do mundo real. Fazer
Blue Valentine devolveu-me a vontade de representar. Quando gravámos as primeiras cenas, voltei a sentir-me eu própria.
– Mas esteve quase a recusar o papel…
– Sim. Senti-me muito mal quando o Derek me ligou e disse que finalmente tínhamos dinheiro para fazer o filme. Mas tinha prometido a mim própria que iria levar a minha filha à escola todos os dias, o que não poderia acontecer se fosse filmar para a Califórnia, como estava previsto. Por isso disse-lhe que teria de encontrar outra pessoa para o papel, mesmo depois de ter passado tantos anos a trabalhar no projeto. Mas ele arranjou forma de gravar em Nova Iorque e aí não pude recusar.
–
Brokeback Mountain marcou um ponto de viragem na sua carreira e na sua vida. Que significado tem o filme para si hoje?
– Significa tanto para mim… Foi, talvez a primeira vez que senti que tinha conquistado algo especial com o meu trabalho de atriz. Claro que o filme significa muito mais para mim do que fazer parte dele enquanto atriz. Foi ali que conheci o pai da Matilda, num momento muito bonito da minha vida. Tudo isso o torna um momento transcendente na minha vida. Sei que um dia, quando for mais velha, a Matilda vai ver este filme comigo. Vai ser um momento muito difícil, mas também muito especial para nós.
– Começou a representar aos dez anos. Foi algo que sabia estar destinada a fazer?
– Representar é algo que faço desde que me lembro de fazer alguma coisa. Mudei-me para Los Angeles quando tinha 15 anos e fiz uma petição ao tribunal para me emancipar dos meus pais. Era muito despachada [risos].
– Foi um desafio arriscado mudar-se para Los Angeles sozinha…?
– [Risos] Foi um risco ainda maior do que eu imaginava, mas tinha uma tremenda vontade de seguir com a minha vida e não perder tempo. Por isso, foi um ato de coragem e de loucura também. Los Angeles pode ser uma cidade muito solitária e difícil se as coisas não correrem bem. Felizmente demorou apenas alguns meses até conseguir o papel na série
Dawson’s Creek, que provavelmente me salvou. Deu-me liberdade financeira, segurança e a sensação de que conseguiria viver da forma que queria. Foi um dos melhores momentos da minha vida.
– Fez 30 anos em 2010. Foi um momento de reflexão?
– Sinto que consegui seguir de acordo com aquilo que queria ser e fazer. Sempre fui ansiosa e com muita pressa de crescer, de atingir objetivos. Mas aos 25 anos era muito nova para ter um filho e fazer parte de uma relação tão profunda como a que tinha com o Heath. Sinto que agora tudo está mais equilibrado na minha vida e ainda tenho um longo caminho a percorrer.
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*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.