Basta olhar para as fotografias desta produção para se perceber que
Ana Paula Reis Piedade tem uma família feliz. Há mais de 20 anos, a psicóloga conheceu
Domingos Piedade e apaixonou-se logo pelo administrador do Autódromo do Estoril, que já era pai de
Marc, de 39 anos, e de
Guido, de 37. O amor fê-la mudar de país – foi viver com o marido para a Alemanha – e deu-lhe alento para não desistir de conquistar os filhos de Domingos.
"O Guido é uma pessoa muito emocional, demora algum tempo a ser conquistado. Eu fui deixando andar, mostrando sempre a minha maneira de ser, transmitindo-lhe a ideia de que o que eu queria era reencontrar um equilíbrio que funcionasse para todos. Foi preciso ter coerência e os afetos foram surgindo naturalmente. Aos poucos, o Guido foi vendo que eu não roubei o pai nem a eles nem à mãe. Foi uma conquista gradual, nunca forcei nada," explicou-nos Ana Paula durante esta tarde passada num dos apartamentos da Tote Ser Architecture, no Chiado.
Guido Piedade, empresário no ramo do automobilismo, casado com a italiana
Stefania e pai de
Giulio, de dez anos,
Jason, de sete, e
Luca, de três, reconhece que, no princípio, não foi fácil aceitar a nova família, mas que hoje vê em Ana Paula
"uma amiga":
"Quando um casamento acaba e outro se forma há sempre alguma tristeza… Depois, entendi que foi uma escolha do meu pai e acabei por respeitar essa decisão. A Ana Paula é uma pessoa fantástica. Além de ser a mulher do meu pai, é também minha amiga. Aqui diz-se madrasta, mas eu nunca usaria essa expressão! Ela é uma amiga. Aliás, os meus filhos chamam-lhe tia-avó." E é com um entusiasmo único que a psicóloga fala dos ‘netos emprestados’:
"São crianças maravilhosas, muito bem-educadas e alegres. É muito giro o ambiente que se criou entre todos. Falamos inglês, português, alemão, italiano, tudo misturado. É uma alegria! Quando nos juntamos, há uma sensação de bem-estar e de perfeita harmonia."
É junto de crianças e jovens que Ana Paula se sente mais à vontade. Daí ter criado o NUPE (Núcleo de Psicologia e Educação) e a Academia de Psicologia e Teatro.
Além da sua preparação académica, a psicóloga diz que foi, e é, a sua experiência enquanto mãe de
João, de 21 anos, e de
Manuel, de 19, que a levou ao encontro destas crianças e jovens com quem trabalha:
"O João sempre mostrou uma personalidade diferente das outras crianças. Vi que tinha um quociente de inteligência superior à média, mas era um caso típico de insucesso escolar. Aos quatro anos ele lia, falava português, inglês e alemão. Ao nível das competências sociais, o João tem alguma dificuldade, mas é uma enciclopédia ambulante, tanto que aos 14 anos escreveu o primeiro livro e em junho vai apresentar mais um, Ragnarok
, que encerra a trilogia O Filho de Odin
. O Manel sempre foi o oposto. Queria brincar, jogar à bola… É muito sociável e está sempre a rir. Mas eles sempre foram muito amigos e companheiros. Preocupei-me em cuidar da autoestima deles e a estimular o autoconhecimento das suas qualidades." Além de saber destacar os talentos nos outros e de trabalhar a sua autoestima, Ana Paula, que está a um ano de completar 50, procura também dar mais atenção à mulher que se tornou e àquela que pode ainda vir a ser:
"Quando os meus filhos se tornaram mais autónomos, tive a síndrome de ninho vazio. Senti que estava a começar a ficar muito sozinha. Comecei a dedicar-me mais ao meu trabalho e às causas de solidariedade social. Aí, percebi que me tornei mãe de muitos outros filhos e que não cuidei de mim. E agora quero voltar a ter carinho por mim própria. Preciso de me cuidar mais fisicamente, e estou a fazer isso, tenho mais cuidado com a alimentação… Preciso de me mimar."
Sempre ao seu lado tem estado o marido, Domingos Piedade, que, apesar de viajar muito em trabalho, é o maior apoio da psicóloga:
"Tenho muita sorte com o marido que tenho, sou uma privilegiada. O meu marido não me exige nada e dá. Estamos muito em sintonia e apesar dos nossos 17 anos de diferença, somos muito próximos, seja na mentalidade ou a nível dos afetos. Encaramos a vida da mesma maneira. Ele é uma dádiva."
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.