A viver entre Nova Iorque e Lisboa há mais de três anos,
Benedita Pereira está num momento muito especial: casada com
David Quinta desde o final do verão passado, a atriz tem agora o marido a seu lado nos EUA. Benedita, que nunca sonhou com o casamento, diz que este não a mudou como pessoa. E aos 25 anos, deixa para mais tarde os planos de maternidade, adia o regresso a Portugal e promete continuar a lutar por uma carreira internacional.
– Já sentiu vontade de desistir desta aventura e de regressar a Portugal?
Benedita Pereira – Todos os dias [risos]. Não diria todos os dias, mas todas as semanas, sim. É muito difícil e é uma luta que se ganha umas vezes e se perde outras. E estas fazem um pouco mais de mossa. Porque penso que em Portugal podia estar mais tranquila, a trabalhar sempre. Mas depois penso também no que evoluí ao vir para cá, como atriz, como mulher, como ser humano. E acho que esse caminho ainda não acabou…
– Sente que amadureceu mais rapidamente nos últimos anos?
– Às vezes sinto que ainda tenho 15 anos… [risos] A verdade é que sim, penso que houve uma evolução grande, sobretudo se fizer um esforço para olhar para trás e observar o que era e o que sou. Vir para Nova Iorque e ter que lidar com tudo sozinha, mesmo com as coisas mais banais do dia-a-dia, e até com a rejeição, a luta, enfim, foram fatores que não teria conhecido se não tivesse saído de Portugal. Felizmente, tomei essa decisão e tenho que admitir que cresci muito com isso.
– Como lida com esses momentos mais difíceis ou complicados?
– Falo muito com a família. Mas tenho a sorte de ter alguns bons amigos aqui. Tanto portugueses como estrangeiros. Recorro muito a eles quando não estou tão bem. Depois existe o Skype, que me permite falar com os meus pais, família, amigos. O meus pais são muito bons conselheiros e o meu pai é ótimo a desdramatizar as coisas.
– Eles aceitaram bem esta sua mudança?
– Foi aos poucos. Quando vim não contava ficar cá tanto tempo, mas fui-me habituando à ideia, tal como eles. Eles são muito realistas: querem o melhor para mim e para a minha carreira e sabem que o melhor neste momento é estar aqui. Então apoiam-me a cem por cento. Sei que sentem muito a minha falta, mas estão sempre lá quando eu preciso. E vêm visitar-me sempre que podem.
– Em Portugal era facilmente reconhecida na rua, aqui nem por isso. Como foi essa transição?
– Quando cheguei cá fiquei excitadíssima. Estava com a
Daniela [
Ruah] e só fazíamos macacadas no meio da rua, soube bem. Mas esta cidade, mesmo para os atores conhecidos dos EUA, é um sítio mais confortável, porque são mais respeitados. Eu, em Nova Iorque, sou apenas mais uma miúda e gosto muito disso.
– É fácil manter o mesmo nível de vida que teria em Portugal, sobretudo em termos financeiros?
– Não. Em Nova Iorque é tudo muito caro. Felizmente, tenho conseguido manter as minhas contas mais ou menos equilibradas. Tenho trabalhado, como atriz e como modelo, em eventos, enfim, nada certo, mas dá para sobreviver. O pior aqui é mesmo a renda de casa.
– Não tem preconceitos se tiver que fazer trabalhos que sejam fora da sua área…
– Não. Faço coisas que não fazia antes. Nem sempre trabalho como atriz e fico orgulhosa disso. Porque só assim consigo crescer enquanto pessoa. Estava mal habituada, saí do 12.º ano e fui logo trabalhar e tive sempre trabalho como atriz. Foi bom, porque consegui rapidamente a minha independência, mas ficou a faltar algo. E aqui consigo perceber melhor as coisas. Tenho crescido bastante.
– Falou-se no seu casamento, mas nunca quis falar muito sobre o assunto…
– Sim, mas é inegável, está nos registos, que podem ser consultados publicamente, e a imprensa foi lá.
– Foi uma cerimónia íntima?
– Foi uma cerimónia íntima, praticamente só com a família.
– Sentiu alguma diferença quando passou a tratar por marido o seu namorado?
– Não. Quer dizer, é isso mesmo, é mais giro, porque já se pode dizer marido e mulher e as pessoas levam mais a sério. Apesar de não mudar nada no dia-a-dia, é mais giro estar casada.
– Entretanto, o seu marido veio morar consigo para Nova Iorque…
– Sim.
– Isso trouxe-lhe um novo alento?
– Sim. Uma das partes difíceis de vir embora de Portugal era estar longe da pessoa de quem gosto e agora já não tenho esse problema. Voltar do Natal, por exemplo, foi mais fácil.
– Nos dias que correm não é muito normal as pessoas casarem-se com 25 anos…
– Se forem ver entrevistas minhas antigas, ou dizia que nunca iria casar-me ou que não saberia quando o faria. Continuo a não ser muito tradicional, casei-me a uma quarta-feira, fui de lua-de-mel antes, e isso reflete um pouco a minha personalidade. Não sou mesmo nada tradicionalista. Nunca sonhei com isto, como muitas mulheres. Mas fez sentido e quando assim é, ótimo.
– Sentia que podia perder a sua independência com o casamento?
– Não, mas achava que nunca ia conseguir estar com alguém e chegar ao casamento. E o facto é que quando disse aos meus amigos que ia casar-me começaram todos a rir. Mas como me conhecem, também perceberam rapidamente que neste momento da minha vida fez todo o sentido casar-me.
– Dizem que o passo seguinte ao casamento é aumentar a família…
– Não. E é importante perceber que não tem que haver logo esse passo. De facto, acho que sou muito nova e estou ainda numa fase de me divertir, de descobrir, casar-me não me tornou uma mulher mais séria ou diferente. Tenho ainda muito para aproveitar. Não sei se vou ficar em Nova Iorque muito tempo, mas sei que não vou voltar já para Portugal.
– É importante o apoio do seu marido nesta luta que mantém para conseguir um papel, para enfrentar os ‘castings’?
– Claro. Ele conheceu-me já eu estava cá. Por isso… tem que me aturar [risos]. Mas é bom poder viver com uma pessoa que está fora deste meio, que tem uma visão mais isenta e objetiva. A mim faz-me falta esse lado. Ter alguém que me põe um pouco os pés na terra e me acalma nos momentos certos é muito bom.
– E tem projetos profissionais em vista?
– Tenho um projeto meu e de uma amiga, que é uma curta que escrevemos e que queremos produzir em breve. Vou começar a tratar em breve da pré-produção. De resto, vou continuar as minhas aulas, os meus
castings e à espera do famigerado
green card. Em breve, vou também estar num espetáculo ligado ao curso, mas que é bom, porque aqui interessa sermos vistos.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.