Há dois anos fez de Amália num filme sobre a fadista e o grande público passou a reconhecer o seu rosto, mas
Sandra Barata Belo – que recentemente assinou um contrato de exclusividade com a SIC – faz questão de se manter um pouco à margem daquilo que a exposição pública costuma trazer. Por isso, a regra é ir pouco a festas ou eventos sociais e mesmo quando manteve uma relação com o também ator
Manuel Sá Pessoa manteve-se firme na resolução de nunca falar sobre a sua vida privada. Aos 30 anos, prefere uma rotina pacata junto da família e daqueles que sempre foram os seus amigos. A CARAS levou a atriz, entretanto nomeada embaixadora do Alentejo, numa viagem à sua infância, passada nas planícies daquela região.
– Esta produção proporcionou-lhe um regresso às suas origens: o Alentejo.
Sandra Barata Belo – Sim. A família da minha mãe é alentejana, e eu, apesar de ter nascido em Lisboa, desde muito pequena que venho para o Alentejo. A minha infância cheira a figos, lareira, enchidos e… bicicletas. [risos] Muitas vezes as pessoas têm a mania de sair do país nas férias e nem conhecem o que de tão bom temos em Portugal, em especial no Alentejo. Existem pousadas lindíssimas, aldeias históricas incríveis, praias, montanhas, barragens, enfim… tanta coisa que vale a pena visitar e conhecer.
– Continua a visitar a região com regularidade ou a sua vida não o permite?
– Regressarei no próximo fim de semana, desta vez porque a minha tia faz anos. E mesmo agora, com 30 anos, penso logo na bicicleta, volto a ser uma miúda de 12 que não tem horas para ir para casa e que de repente ouve a mãe chamar para ir almoçar. Gosto de ir apanhar malmequeres com a minha mãe, de subir a uma figueira e passar uma tarde a comer figos, enfim, não há maior luxo que estes. Depois, é um destino ótimo para uma escapadela romântica, ou para famílias com crianças.
– Este tem sido um período mais calmo em termos de trabalho?
– Digamos que tenho estado mais afastada da televisão, que é onde as pessoas terão mais contacto comigo, mas estive a fazer teatro. Quando acabei o
Perfeito Coração fiz uma peça, a
Casa dos Anjos, com encenação da
Ana Nave e texto do
Luís Mário Lopes. Depois continuei no Teatro Aberto, com uma nova peça, mas magoei-me nos ensaios e tive de sair, porque a lesão exigiu uma operação ao joelho.
– Nunca falou muito sobre isso, mas percebo que foi mesmo complicado…?
– Foi. Na altura não revelei a gravidade da lesão nem por que andava de muletas. Agora já me sinto capaz de falar nisso, porque estou completamente recuperada. Mas foi uma operação complicada e uma recuperação exigente e demorada.
– Vários meses em que não trabalhou de todo?
– Isto aconteceu em setembro e só fiquei totalmente recuperada há muito pouco tempo. Foram quatro, cinco meses em que aproveitei para fazer formação: fiz um curso de guionismo no Algarve. De resto, aproveitei para pesquisar e escrever bastante. De manhã escrevia e à tarde fazia fisioterapia. Consegui terminar uma história, agora vamos ver se dá alguma coisa. Não consigo estar parada, e não digo isto só porque fica bem. Não consigo viver a minha vida sem criar, imaginar coisas ou delinear projetos.
– Faz questão de manter o seu lado pessoal muito reservado. É raro vê-la num evento social ou uma festa, por exemplo…
– Gosto muito de estar em casa, gosto muito dos meus amigos e gosto muito da minha família. Cada vez mais me sinto melhor no meio deles. Prefiro estar em ambientes privados e íntimos. Dispenso confusões e não gosto muito das luzes da ribalta. O que não faz de mim uma pessoa pouco sociável, sou bastante comunicativa e gosto de pessoas.
– Não teme que isso possa fazê-la cair um pouco no esquecimento?
– Não. As pessoas lembram-se de mim pelo meu trabalho e não porque apareci aqui ou fui ali. Fiz um personagem que foi muito marcante, depois a novela, enfim, acredito que as pessoas se lembram de mim como atriz. E quero que seja assim.
– A fama traz-lhe infelicidade ou constrangimento, é isso?
– Não é uma questão de infelicidade, sou indiferente à fama.
– Há pouco tempo teve uma relação amorosa com uma pessoa conhecida. Como lidou com o facto de nessa altura ter sido alvo de maior atenção da imprensa?
– A minha vida privada sempre foi privada, nunca misturei as coisas. O facto de ter estado mais próxima de uma pessoa que também é conhecida, ou até de alguns amigos que tenho que também são atores não me influencia em nada.
– Mas o mediatismo à volta dessa relação não a transtornou?
– Não, porque as pessoas estavam interessadas em saber quem era a miúda que fez de Amália. Felizmente os jornalistas têm muito respeito por mim e nunca vi coisas muito chocantes sobre mim.
– E se eu lhe perguntasse quem é, afinal, a miúda que fez de Amália?
– Não seria capaz de responder… Sou uma pessoa bem disposta, quero sempre ser melhor naquilo que faço e tenho uma ambição profissional muito saudável. Isto em traços gerais.
– É determinada?
– Sim, sou determinada, sou muito fiel a princípios, e tento sempre seguir esse caminho, por muitas tentações que surjam no caminho.
– Sente que mudou depois de se ter tornado conhecida?
– Não mudei nada. Sou a mesma pessoa, com mais anos de vida. E, sinceramente, esqueço-me de que apareço na televisão e as pessoas não me reconhecem na rua. Sou atriz há muitos anos, mas tornei-me mais conhecida numa fase de maior maturidade, perto dos meus 30 anos. E eu não me deixo iludir por expectativas ou grandes coisas. Sempre fui assim. Iludo-me com os meus sonhos, gosto de fantasiar acerca de um mundo melhor, de um bem-estar. Agora fama e essas coisa… não. Quando estou a trabalhar envolvo-me realmente no trabalho e não naquilo que o rodeia.
– Acredita que é mais difícil manter uma relação amorosa quando se é uma figura pública?
– Não posso falar sobre isso porque não tenho grandes experiências disso. Sou conhecida há dois anos. [risos] Não penso nem tenho grande opinião. Até porque sou muito reservada. No meu círculo sabem que não sou assim tão reservada, e faço as maiores palhaçadas quando estou com eles, mas em termos profissionais sou, e não me deixo afetar por nada.
– Fale-me dos seus sonhos…
– Gostava de concretizar ideias e projetos meus. Esta história que escrevi enquanto estive em recuperação, gostava de a transformar numa longa-metragem.
– Pensa muito no futuro?
– Tenho objetivos. Eu corro, gosto muito de correr. O meu máximo foram 14 quilómetros. Se me perguntassem, antes de os ter conseguido fazer, se seria capaz, teria dito que não. Mas depois fui treinando todos os dias e, de repente, fiz os 14 quilómetros. Mas em nenhum momento pude pensar que faltavam sete ou seis, sabia apenas que iria conseguir chegar a essa meta. O segredo é ir correndo e deixarmo-nos levar no percurso. Há que deixar a vida correr. A ansiedade nunca foi amiga de ninguém.
– Sente que este salto para a ribalta aconteceu tarde demais?
– Não, nada. Não teria desempenhado os papéis que me tornaram conhecida se não tivesse passado por turbulências, por conquistas, por momentos bons e outros maus. Não é fácil ser atriz neste país e houve momentos em que estive quase a desistir, mas sempre fui fazendo as minhas coisas. Quando não tinha trabalho, tentava criá-lo eu. Cheguei a andar no Bairro Alto sozinha a colar cartazes.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.