Talvez a melhor definição para
Maria de Medeiros seja dizer que é uma apaixonada pelas artes. Atriz, cineasta e mais recentemente cantora, Maria gosta de criar, de emprestar o seu corpo, emoções e voz a histórias que não são suas. Cidadã do mundo, mulher
"de várias pátrias", cedo percebeu que a Europa seria a sua casa. Lisboa, Viena de Áustria e, atualmente, Paris, a artista fez destas cidades o cenário da sua própria história, na qual o cenógrafo espanhol
Agustí Camps e as duas filhas de ambos,
Júlia, de 13 anos, e
Leonor, de sete, fazem
"de cada dia uma dádiva".
– Nesta visita ao ateliê de Gio Rodrigues ficou a conhecer as suas mais recentes coleções, entre elas a de joias. Para si, estas peças são mais do que acessórios?
Maria de Medeiros – Na verdade, não gosto muito de joias que só servem para ostentar riqueza. Gosto das joias que são peças de arte.
– As peças de arte são únicas. Na vida também procura a exclusividade?
– Sim, tenho consciência de que cada dia é uma dádiva. Especialmente quando se tem crianças e se vê como crescem depressa, uma pessoa dá-se conta do privilégio exclusivo que é compartilhar o seu quotidiano.
– É uma pessoa materialista?
– Sou materialista no sentido em que penso que a vida é aqui e agora. Mas creio que não podemos viver sem ideias e o desejo de melhorar, equilibrar e tornar mais justa a nossa sociedade.
– O seu percurso profissional e também de vida fizeram de si uma cidadã do mundo. Este rótulo fá-la, de alguma maneira, afastar-se das suas raízes, ou, pelo contrário, aproxima-a?
– As minhas raízes estão no mundo, assim como defendo a ideia de um Portugal plenamente integrado no mundo e não isolado num orgulho irrisório. Também creio, como
Fernando Pessoa, que
"a minha pátria é minha língua". Nesse sentido tenho várias pátrias, mas a portuguesa é certamente a que transporta mais afetos.
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– Quem é a Maria de Medeiros de todos os dias?
– É uma Maria a fazer as malas, a parte desagradável das viagens, a brincar com as suas meninas durante o dia e a trabalhar no computador até às tantas da manhã. Isto quando não estou a filmar ou no palco, claro.
– Numa entrevista que deu à CARAS a Maria dizia que
"tanto o meu marido como eu somos muito pouco conformistas e gostamos de transgredir normas". Posso deduzir que são um casal que não se acomodou às rotinas?
– Sim, na verdade acho que se pode dizer que não nos acomodamos às rotinas. A nossa vida mudou muitíssimo com o desenvolvimento da minha atividade musical. Somos mais nómadas do que nunca, tivemos de reorganizar muitas coisas no nosso quotidiano. É divertido e surpreendente.
– Falemos de outro papel muito importante na sua vida: é uma mãe-galinha ou é mais a mãe companheira, que é encarada como a amiga?
– Sou uma mãe apaixonada pelas suas filhas. Tento que possam contar com os conhecimentos que adquiri, com a autoridade quando é hora de estabelecer limites e com a minha cumplicidade indefetível. Também lhes digo o quanto aprendo com elas.
– Acredito que o facto de ser mãe de duas meninas cria uma cumplicidade e um mundo muito próprio entre as três…
– Certamente. Ser mãe ou pai é saber-se condenado a muitos erros. Vamos pela vida, uns com mais conhecimento, outros com mais intuição, mas juntos e com alegria.
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– A Maria aventurou-se nos últimos anos na indústria musical. O que é que a sua música pode dizer sobre si?
– A música tem sido efetivamente de há uns anos para cá uma nova aventura. Estou a descobrir e desenvolver muitas coisas em várias direções. Comecei a compor e escrever letras. Talvez daqui a uns anos eu venha a saber qual é realmente a minha música. Em todo o caso, sempre foi um elemento essencial para mim.
– É pessoa de fazer planos, traçar metas, ou vive as oportunidades que a vida lhe dá?
– Sei o quanto pode ser inútil e ingénuo traçar metas. E adoro surpresas. Tento apenas entender o que a vida me oferece.
– Olhando para trás, sente que a sua vida tem sido bem vivida, ou pensa, em algumas situações, que gostaria de ter feito diferente?
– Para responder a essa pergunta, vou-me servir de três poetas:
"Erros meus, má fortuna, amor ardente"…,
"Non, je ne regrette rien"… e
"Tudo vale a pena, se a alma não é pequena"…
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.