No dia em que
Maddie completaria oito anos, o jornal
The Sun lança o livro
Madeleine, escrito por
Kate McCann e no qual a médica anestesista – que entretanto deixou de exercer a profissão – admite que a sua vida desde então tem sido uma tortura.
"De certa maneira, infligir dor física a mim própria parecia-me a única maneira de escapar à minha dor interior", escreve Kate, admitindo que o seu casamento com
Gerry McCann esteve ‘por um fio’.
Apesar de o médico ter sido muito compreensivo e tolerante durante estes últimos quatro anos – durante os quais Kate terá passado por uma profunda depressão, ainda não totalmente ultrapassada – Kate revela que se sentia de tal forma culpada pelo desaparecimento da filha que era incapaz de retirar qualquer tipo de prazer na vida, o que incluía ter relações sexuais com o marido.
"Depois de me terem tirado a Madeleine, o meu desejo sexual caiu para zero", conta Kate, de 43 anos, assegurando que Gerry nunca a fez sentir-se culpada nem a pressionou,
"Por vezes, até me pedia desculpa. Dava-me um grande e reconfortante abraço, dizia que me amava e pedia-me para não me preocupar", revela a médica, que, entretanto, recorreu a um psicólogo para a ajudar a lidar com este bloqueio mental.
Neste livro de 384 páginas, Kate descreve alguns pormenores relacionados com o desaparecimento da filha que nunca tinham sido revelados até agora. Ela admite, por exemplo, que a filha poderá ter querido chamar a atenção da mãe para algo estranho na manhã do dia em que desapareceu. Durante o pequeno-almoço, a criança, então com três anos, perguntou à mãe:
"Porque é que não vieste ter connosco ontem à noite, quando eu e o Sean chorámos?". Olhando para trás, Kate acredita que esta poderia ter sido a sua "
única oportunidade de ter evitado o que acabou por acontecer". E acrescenta: "
Estraguei tudo". Segundo a médica,
"em momento algum pensámos que pudesse haver uma explicação sinistra. Mas agora acredito que alguém esteve ou tentou entrar no quarto dos meninos na véspera do desaparecimento".
Este ponto é, aliás, o que faz com que a grande maioria das pessoas não sinta grande compaixão por Kate e Gerry McCann, mas sim por Maddie. Tivesse ela sido vítima de um rapto ou de uma morte acidental – não há indícios que provem a causa do seu desaparecimento – Maddie foi a grande vítima, uma criança inocente que sofreu por causa de duas pessoas que deveriam ter feito tudo para a proteger: os pais. Se Kate e Gerry não a tivessem deixado sozinha no apartamento da Praia da Luz, a tragédia poderia ter sido evitada. Com as novas revelações de Kate, percebe-se agora que ignoraram um alerta da filha para que não a deixassem a ela e aos irmãos,
Sean e
Amelie, sozinhos no quarto. Os gémeos tinham apenas um ano, Maddie tinha três…
Recorde-se que o desaparecimento de Madeleine McCann ocorreu na noite de 3 de maio de 2007, na Praia da Luz, onde a família passava férias. Tal como acontecera nas noites anteriores, Kate e Gerry deixaram as crianças sozinhas no apartamento ao início da noite, para irem jantar com o seu grupo de nove amigos num restaurante situado a cerca de 50 metros do apartamento. Segundo asseguraram posteriormente à po-lícia, os pais iam-se revezando nas verificações aos filhos, espaçadas em cerca de 45 minutos.
Neste livro da sua autoria, Kate refuta, ainda, as acusações de que o casal estaria alcoolizado nessa noite, assegurando que o consumo de álcool estava longe de ser considerado excessivo, e, apesar de o seu grupo de amigos ser bastante mais barulhento do que os restantes clientes, diz que não estavam numa
"festa louca".
No seu livro, cujas receitas irão reverter para o fundo criado para as buscas de Maddie, Kate revela ainda que a Polícia Judiciária lhe propôs que confessasse ter escondido o corpo da filha, após a
"morte da criança num acidente no apartamento da Praia da Luz". Num capítulo que intitulou
No Reino da Fantasia, Kate defende que a proposta da PJ visava tornar a sentença
"muito mais indulgente", contando que o advogado
Carlos Pinto Abreu, que o casal contratou meses depois do desaparecimento da filha, lhe disse que se ela não aceitasse essa proposta, seria "
acusada de homicídio".
Estas revelações coincidem com uma carta que os pais de Madeleine enviaram ao primeiro-ministro britânico,
David Cameron, pedindo a reabertura da investigação policial do desaparecimento da filha, e na qual solicitam ao chefe do governo britânico a participação das autoridades britânicas e portuguesas nesses procedimentos, que foram suspensos um ano após o desaparecimento de Maddie, por falta de provas. Kate e Gerry alegam não ter havido "
uma revisão formal de toda a informação recolhida pela polícia, como se faz habitualmente na maioria dos crimes não resolvidos", e apelam a uma investigação "
independente, transparente e compreensiva".