Quando se entra no seu
site oficial lê-se:
"
Luísa Sobral
. Voz, guitarra, papel e caneta." Por outras palavras, podemos dizer que Luísa é uma rapariga de 23 anos que um dia sonhou que queria viver da música. Com apenas 13 começa a conhecer o mundo pela sua guitarra que dá ritmo às histórias de adolescente que vivia então. Dividida entre a paixão da representação e a música, a cantora opta pela segunda e vai para os Estados Unidos, mais concretamente para Boston, estudar. Ao seu lado, nos sonhos e nas saudades, Luísa teve sempre os pais e o irmão,
"a parte mais importante da minha vida", diz.
Já depois de se
"descobrir musicalmente", a cantora parte para Nova Iorque, onde vive a sua versão não do
american dream, mas da
american life. Entre as dificuldades de trabalhar de dia e atuar em restaurantes à noite, Luísa recebe o convite que sempre soube que ia chegar – gravar o seu próprio disco.
The Cherry On My Cake apresenta-se agora como a cereja no topo da vida de uma cantora que continua a sonhar que um dia vai apaixonar-se para sempre, constituir a sua própria família, atuar nos palcos da Europa e viver em Paris.
– Como é que a música entra na sua vida?
Luísa Sobral – A música entra na minha vida desde que nasci, sempre ouvi música na minha casa, mas é aos 13 anos que aprendo guitarra e começo a compor.
– E para compor isola-se do mundo?
– Não sou de ficar só no meu mundo. Faz parte da minha musicalidade dar-me com várias pessoas para depois usar isso na minha música. Eu crio esses momentos só meus mesmo no meio das pessoas.
– Foi essa necessidade de ser do mundo que a levou a ir estudar com apenas 16 anos para os Estados Unidos?
– Primeiro fui fazer um programa de intercâmbio de estudantes e depois estive a estudar música durante quatro anos na Berklee College of Music, em Boston, onde me descobri musicalmente. Aprendi a comunicar com outros músicos e a expressar as minhas ideias musicais. Também conheci pessoas de todo o mundo.
– Como é que geriu as saudades de Portugal e da família?
– Quando estava fora e vinha a Portugal, desligava o telemóvel durante três dias e ficava em casa a ver filmes com a minha família. E só depois é que falava com as outras pessoas. Era da família que tinha mais saudades. Sempre partilhámos tudo. Sei que quando fui para os Estados Unidos foi difícil para a minha mãe, porque fazíamos muitas coisas juntas… Cada vez mais percebo que a família é a parte mais importante da minha vida. A família constrói-nos enquanto pessoas e eu, a minha mãe, o meu pai e o meu irmão damo-nos muito bem.
– Quando foi para Nova Iorque, com 22 anos, sentiu que estava a viver o
american dream?
– O
american dream já tinha começado quando fui para Boston. Nova Iorque é uma cidade muito complicada. Ainda tentei viver da música, mas não conseguia e fui trabalhar para um café. Das 9 da manhã às 6 da tarde estava lá e depois tocava em restaurantes à noite. E se calhar é isso que acontece à maior parte das pessoas que vão à procura do
american dream.
– Lutar pelos sonhos e ultrapassar dificuldades ajudaram-na a crescer mais depressa?
– Acho que sim. Quando estamos num sítio em que não conhecemos ninguém e temos mesmo de nos virar sozinhos isso faz-nos crescer. Tive de ter mais confiança em mim e perceber se era realmente aquilo que queria para mim.
– E se já vivia lá fora, porquê voltar para Portugal e não arriscar logo numa carreira internacional?
– Eu estava lá e cantava em restaurantes, mas surgiu o convite da Universal e não quis recusar. Nos Estados Unidos tocava, mas não eram as minhas músicas e não tinha dinheiro para investir no meu projeto. E já tinha saudades de Portugal. Agora começar pelo nosso país não significa que queira ficar por aqui. Gostava de levar a minha música a outros países.
– As suas músicas contam as suas histórias ou as dos outros?
– Algumas são mais autobiográficas, outras não. As minhas músicas expõem uma parte de mim mais cómica e mostram o meu lado mais romântico, que é algo que não faço habitualmente. Só mostro a minha faceta mais sentimental nas músicas. É a minha maneira de pôr esse lado cá fora.
– Na vida é mais ‘durona’?
– Sim, sou um bocadinho durona. Agora menos, mas continuo a ser. Sou muito racional e não me permito estar triste. Acho que tenho demasiada sorte para estar triste. Racionalizo as emoções, mas na música posso ser mais lamechas.
– E esse seu lado romântico reflete o desejo de casar-se ou de encontrar um amor para toda a vida?
– Sim, acredito nisso. Quero ter filhos, encontrar alguém… Mas ainda tenho 23 anos…
– E namora ou agora a música é a prioridade na sua vida?
– Não sei… Agora não tenho muito tempo para isso. [risos]
– Decidiu, depois de um sonho da sua mãe, dar o título
The Cherry on my Cake ao seu disco. Qual é a cereja no topo da sua vida?
– Agora é mesmo o CD. E é a música no geral. Sou uma pessoa com muita sorte. O meu bolo já é bastante bom, por isso a cereja só vem acrescentar mais coisas boas.
– A sua música de estreia chama-se
Not There Yet. Onde é que quer chegar?
– Faço planos, mas nunca a longo prazo. Quando os fazemos começamos a ficar preguiçosos e não trabalhamos para isso. Tenho sempre objetivos anuais. O ano passado disse que quando fizesse anos, em setembro, queria ter um contrato com uma editora, e tive. Agora digo que em setembro quero ter concertos marcados na Europa. Luto mesmo por isso e assim estou sempre ativa. Nunca aconteceu não cumprir os meus objetivos. Mas se isto não funcionasse adaptar-me-ia a outro plano. Dentro da música há várias coisas que me podem fazer feliz.
– Tem o sonho de ir viver para Paris. Porquê?
– Adoro Paris. Gosto da cidade em si, cheia de arte… Gosto do espírito que Paris tem.
– Hoje arrepende-se de ter participado nos ‘Ídolos’, que é um formato mais
pop?
– Não e até acho piada. Já passou a fase de ter vergonha, porque via as minhas prestações e não gostava. Agora, até já olho com alguma nostalgia. Na altura eu era assim e tenho orgulho do que fiz. Claro que a banda que toca comigo goza, porque há vídeos meus a cantar a
Shakira…
– Considera-se uma pessoa, ou artista, alternativa?
– Não e nem sequer gosto da ideia de música ou artistas alternativos. Todas as pessoas são especiais e únicas, logo alternativas.