Chama-se
Isabel Maria Abecassis Empis, tem 62 anos e três filhos. É licenciada em Psicologia Clínica pela Universidade de Genève (dirigida por
Jean Piaget) e exerce psicanálise e psicoterapia há 33 anos. Destaca-se a sua experiência: 16 anos de docência universitária, seis anos no antigo Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa e 14 anos na equipa de saúde mental do Hospital Miguel Bombarda. São inumeráveis as suas aparições na TV, pelo que muitos lhe reconhecerão a fisionomia. Mal se estreou na escrita, os seus livros revelaram-se um sucesso. O primeiro,
Bem Aventurados os que Ousam!- A Liberdade de Existir em Questão, em Janeiro de 2006; o segundo,
Eu Quero Amar, Amar Perdidamente – Dentro de Nós, Onde está a Criança que se Deslumbrava com o Mundo, de Abril de 2008; e o último, de que vamos conversar hoje, com prefácio de
Carlos Amaral Dias e o nome irresistível de
Cada um Vê o que Quer num Molho de Couves: 18 Travessias Psicoterapêuti-cas, de Maio de 2011. Escreveu ainda
Lições de Vida, em co-autoria com
Salvador Mendes de Almeida (Novembro de 2010). Recebeu-nos na sua casa de Cascais para uma conversa divertida e instrutiva.
– Isabel, os teus livros são destinados ao grande público?
Isabel Empis – Sim. Do qual fazem igualmente parte os meus colegas e outros técnicos de saúde. Não é por um livro não ser considerado um "livro técnico" que não contém importantíssimos preceitos humanos e técnicos que poderão ser de uma utilidade extrema a outros profissionais do ramo.
– Considerá-los-ia, para o bem e para o mal, "manuais de auto-ajuda"?
– Nos chamados livros de auto-ajuda, pretende-se dar ao leitor ferramentas de evolução pessoal; nos meus, proporciono processos de consciência que possam levar a pessoa a encontrar as suas próprias ferramentas interiores para usá-las naquilo em que pretende evoluir, e que, de facto, só ela própria conhece.
– Neste teu livro: é gente real que ali está?
– Sim, com dados, nomes e um ou outro detalhe da sua história suficientemente alterados para não serem reconhecidos.
– Percebe-se pelo sentido, mas queres explicar melhor o que entendes por "travessias psicoterapêuticas"?
– São como um curso prático de "gestão de emoções" para, numa frase muito simples e não intelectualizante, se ser mais dono de si próprio.
– Estas "travessias" que, dantes, podiam levar entre dois anos e uma vida inteira, não tendem, como tudo, a encurtar-se? As consultas particulares constituem um pesado encargo mensal…
– Sim, é uma realidade. Na psicanálise dita ortodoxa, era de certa forma imposto um ritmo de três, quatro ou mesmo cinco consultas semanais. Hoje, há terapias mais breves e com um ritmo de uma a duas sessões. É uma mudança radical nesse aspecto.
– Quem foram os teus mestres?
– Há mestres e professores, ambos importantíssimos, mas diferentes no tipo de aprendizagem que proporcionam. Piaget foi para mim um professor.
João dos Santos, um mestre.
Coimbra de Matos, um professor e um mestre. E, a nível pessoal, tenho entre amigos e familiares alguns mestres e alguns professores, também. Acho que os professores nos transmitem saberes e aqueles que elegemos como mestres (sem querer, sem passar por uma decisão racional), nos põem em contacto com a nossa sabedoria.
– A que tipo de professor não chamarias mestre?
– Há profissionais cheios de certezas e explicações. A dificuldade de se porem em causa e a atitude de que se é "alguém", travando a própria humildade, impede-os de poder receber e continuar a aprender com o outro. E quem não consegue receber também, no fundo, não está a dar.
– Quem te mostrou o graal?
– A vida de
Jesus Cristo e, mais recentemente (!), no início da minha carreira, sem dúvida o Dr. João dos Santos. A
Isabel Arantes Pedroso, artista plástica de profissão, mas que desde há quatro anos trabalha comigo em organização de cursos de formação complementar em psicologia, destinados a toda a gente, é mestra, pela sua grande intuição. O
João Cruz Alves, com quem estive casada 18 anos, pela forma como não julga, nem sequer quem lhe faz mal. E outros seres habitados, para mim, de uma forma de lucidez e tolerância que me fazem ir ao meu próprio potencial de sabedoria.
– Para ‘clinicar’ também tens de ser ‘clinicada’, certo?
-Fiz ao todo 12 anos de psicanálises pessoais. Não é uma formação leve, como vês. Embora não seja obrigatório, são re-comendadas umas actualizações pessoais de auto-reconhecimento. Esta formação permite diminuir o risco de misturar a nossa problemática com a das pessoas que seguimos.
– Confia-nos a tua maior história de sucesso…
– Em 32 anos de clínica houve várias "histórias maiores" de sucesso, felizmente. Mas o que é sempre "maior" é aquele momento em que a pessoa entra em contacto com uma "descoberta": a sua capacidade de transformar vivências que considerou eventualmente "traumatizantes" em oportunidades de crescimento. Um bom exemplo disso é o capítulo deste meu livro
As coisas que eu já nem sabia que sabia.
– E de insucesso?
– Aí é quando não sou capaz de construir uma relação de cumplicidade suficientemente forte que possa levar a pessoa a deitar abaixo os muros entre os quais se esconde, para, com essas mesmas pedras, poder construir pontes com o mundo.
– Já te aconteceu ter medo de um doente?
– Percebo logo, pelo que sinto, se a pessoa é ou não um caso para eu seguir. Discerni-lo é fundamental antes de nos propormos a seguir alguém. Quando isso me sucede, reencaminho a pessoa para algum colega que me pareça indicado para a acompanhar.
– Ensina-nos um truque para desencorajar a violência…
– Se sou procurada por pessoas que precisem de apoio psiquiátrico, com algum risco de passagem ao acto mais violento, remeto de imediato para um colega psiquiatra com quem colaboro assiduamente. Mas se te queres referir a uma outra violência – a agressividade verbal, por exemplo – que é corrente em certos casos ou em certas fases de um percurso terapêutico – penso que há, sim, um certo tipo de atitude que pode acalmar essa emoção. Será tudo o que tenha a ver com aceitação, compreensão e não reactividade por parte do terapeuta. Chama-se empatia.
– Que sentes pelo teu último livro?
– Acredito mesmo no que aqui escrevo, a propósito destas 18 histórias de vida, que são verdade. A evolução destas pessoas é testemunho daquilo que se consegue conquistar. Estas páginas fornecem pistas simples de transformação interna. Pretendo continuar a espalhar pistas de saúde mental que revelem cada vez mais às pessoas as suas capacidades. Não ao "Dr. que sabe tudo", sim à "pessoa que pode muito"! Através da prática clínica, das aparições na comunicação social, das acções de formação para profissionais e, também, com este livro, sinto que poderei ajudar a desenvolver o que se poderá chamar de inteligência emocional. Em Janeiro, vou dar início a um curso inédito de Formação em Psicologia, aberto a todas as pessoas, com a duração de seis meses. Poderá, assim, haver mais gente a "usar o que aprendeu através do que é", ou seja, a viver mais no ser do que no parecer.
Nota: Por vontade da autora, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico.