Fala pausadamente e quando não consegue pronunciar alguma palavra, rapidamente arranja um sinónimo e a conversa prossegue. O discurso é otimista e as gargalhadas são contagiantes.
Ana Maria Lucas, 62 anos, ainda se encontra a recuperar do acidente vascular cerebral (AVC) que sofreu em fevereiro de 2009, mas quem olha para ela não acredita que tenha passado por um dos piores momentos da sua vida. A CARAS esteve com a ex-miss Portugal em Lagos e fez um balanço destes dois anos e meio, onde as palavras ‘felicidade’ e ‘recomeçar’ merecem destaque. Aos filhos,
Francisco Mendes, de 38 anos, e
Miguel Mendes, de 33, não poupa elogios e diz que quando olha para eles tem o sentimento de ‘dever cumprido’ pois têm sido incansáveis e feito de tudo para que Ana Maria Lucas se dedique em exclusivo à sua recuperação.
– É bom saber que pode contar com os seus filhos a 100 por cento?
– Eles são extraordinários, maravilhosos. Até ao meu acidente eu apenas sabia que seria capaz de dar a minha vida pelos meus filhos, agora tenho a certeza de que eles também dariam a deles por mim e isto é uma sensação quase indescritível. É sinal de que a educação que lhes dei, mesmo assaltada por muitas dúvidas em determinadas alturas, serviu para se tornarem homens íntegros e solidários.
– São os seus filhos que a têm ajudado financeiramente também?
– Sim, mantenho a minha vida com a ajuda dos meus dois filhos. A minha reforma são 350 euros, o que não dá para muita coisa. Se não fosse a ajuda dos meus filhos, não conseguiria. Graças a Deus que eles podem dar-me qualidade de vida. Não me falta nada. Mas apesar disso, e de os meus filhos também não quererem, gostava de fazer qualquer coisa que me permitisse ganhar algum dinheiro. Até porque preciso de me sentir ocupada.
– Está farta de ‘não fazer nada’?
– É isso mesmo. Tenho apenas 62 anos e a vida continua. Comecei a trabalhar aos 16 e nunca parei. Fazia imensa coisa ao mesmo tempo e por isso custa-me bastante estar sem ocupação. Quando estava doente, tudo bem, mas agora que já me sinto pronta para voltar a trabalhar.
– O que é que gostaria de fazer? Tem alguma ideia?
– Durante um ano e meio escrevi sobre moda para a revista do
Diário de Notícias e deu-me algum gozo. E escrever é uma das coisas que posso fazer sem limites, porque não preciso de falar, que é o que neste momento me limita. Ser conselheira de moda ou trabalhar numa loja de roupa também está ao meu alcance.
– Sente-se com força para enfrentar tudo e todos?
– Sinto-me muito forte e, sim, estou disposta a enfrentar tudo, como sempre. Aliás, não me canso de dizer que sou uma mulher muito mais feliz agora do que antes do acidente.
– Às vezes é quando passamos por algumas provações que nos damos conta do que realmente vale a pena e o que realmente é importante…
– Nem mais! Vale a pena viver, vale a pena sorrir, vale a pena olhar pelos que mais amo, onde além dos meus filhos incluo a minhas noras, a
Sara e a
Sílvia, e a minha neta
Ana Mar.
– Nos últimos anos não tem tido disponibilidade para amar… Já se sente capaz de o voltar a fazer?
– Não. Já estou muito habituada a estar sozinha, a ter o meu espaço, a gerir os meus horários e, acima de tudo, as minhas vontades.
– E apaixonar-se? Não lhe apetece, pelo menos, ter aquela sensação de ‘friozinho’ na barriga? É que há diferenças entre amor e paixão…
– [risos] Os homens da minha idade são ‘velhos’ e para os mais novos não tenho lata… Portanto, tenho-me deixado apaixonar apenas pela vida!