Cruza os céus por paixão e quer deixar a sua marca inscrita na história da aviação de acrobacia. Aos 27 anos,
Diana Gomes da Silva mantém vivo o sonho de chegar à Red Bull Air Race. Para trás estão a ficar meses complicados que a obrigaram a fazer duas aterragens de emergência. Situações que a fizeram dar ainda mais valor à família e ao namorado e parceiro nesta aventura, o também piloto
João Bettencourt. Nunca pensou desistir, mas admite deixar Portugal para conseguir atingir os seus objetivos porque, como diz,
"cada um de nós faz o seu próprio destino".
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– Além da beleza e do misticismo, Sintra, e neste caso Monserrate, são locais que apelam ao sonho e ao romantismo. Sentiu isso durante esta sessão fotográfica?
Diana Gomes da Silva – Sim, muito. E a verdade é que, quando entrei em Monserrate disse logo que é aqui me quero casar [risos]. Adorei esta experiência e senti-me uma princesa, também por causa da roupa da dupla Storytailors, de cujo trabalho gosto muito. Esta é uma zona que apela ao sonho e eu sou uma mulher que gosta de perseguir os seus sonhos.
– O casamento é um sonho que quer concretizar?
– O caminho está traçado. A rota está feita, mas ainda faltam algumas autorizações da torre de controlo [risos]. Neste momento ainda não podemos pensar nisso porque é importante estabilizar a vertente profissional. O amor, a amizade e a vontade são essenciais, mas é fundamental que as restantes condições também estejam reunidas. Temos tudo para que a nossa vida em comum corra bem, o casamento é uma questão de tempo…
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– Há cerca de um ano apontou a Red Bull Air Race como um dos seus grandes objetivos. O sonho mantém-se?
– Neste último ano tive alguns percalços, mas os objetivos mantêm-se. Penso que todos nós amadurecemos e crescemos como pessoas e profissionais com as coisas menos boas da vida. As coisas boas estão sempre presentes graças à minha família e ao João e as dificuldades acabaram por me tornar mais forte. Continuo a acreditar nos meus sonhos. Hoje, tenho a minha empresa – Diana Gomes da Silva Air Acrobatics – fiz imensos espetáculos aéreos em diversas partes do mundo e começo a ser reconhecida internacionalmente. Por outro lado, continuo a lamentar a falta de apoios, nomeadamente patrocinadores que me permitissem participar na Reno Air Race e daí candidatar-me à Red Bull Air Race.
– Como se explica essa ausência de apoio, quando em Espanha os seus espetáculos são transmitidos em direto na televisão e têm milhares de pessoas em terra a assistir?
– Em primeiro lugar, não existia a noção de que a acrobacia aérea é um meio fortíssimo, não só de promoção, mas principalmente para transmitir a ideia de que todos os sonhos são possíveis. Devo isso à minha mãe, que sempre me aconselhou a não aceitar que digam que não sou capaz ou que é impossível. A verdade é que a acrobacia, além de transmitir a ideia de sonho, também envolve diversos princípios de vida que são fundamentais. Infelizmente, hoje, em Portugal, idolatramos as pessoas erradas.
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– Caso a situação não se altere, o seu futuro passa por deixar Portugal?
– Passa… Não é um fatalismo, nem a única alternativa, mas é uma possibilidade. As coisas vão ter de acontecer, porque tudo tem o seu tempo e vai chegar o dia em que também vou querer ter uma casa, casar-me e ter filhos. Continuo a perseguir os meus sonhos, mas não posso deixar que isso se transforme numa obsessão ou casmurrice. Voar é a minha paixão, por isso, não é difícil imaginar-me a fazer o que gosto noutro país qualquer. Quero muito ficar em Portugal, mas tenho de admitir outras possibilidades.
– No último ano viveu duas situações muito complicadas: uma enquanto piloto de linha área, ao ter de aterrar de emergência no Funchal, outra enquanto treinava acrobacia aérea, que a obrigou a aterrar na Base Aérea de Sintra. Consegue descrever o que sentiu?
– Enquanto aviadores, todos estamos muito bem preparados para as emergências e outros imprevistos que possam surgir. A grande dúvida é saber como vamos reagir quando essas situações acontecem. No segundo caso, em menos de três minutos tive de tomar um conjunto de decisões e, felizmente, consegui aterrar em Sintra. Para ter uma ideia, foi uma falha grave de motor, num avião que é como uma pedra, construído para voar a grande velocidade e não para planar. Acabei, da pior forma, por perceber que todo o investimento em treinos e mais treinos tinha sido a opção correta. Acredito que cada um de nós faz o seu próprio destino, por isso, não gosto de pensar que tive sorte.
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– Ter vivenciado estas duas situações fez mudar a forma de olhar para a sua vida?
– Sim, muito. Existem momentos na vida em que levamos um abanão forte e isso faz-nos valorizar certos aspetos da vida. No essencial, fiquei, talvez, mais sensível e com a certeza de que todos os momentos que possa dedicar à minha família e ao João são ainda mais importantes.
– No meio dos voos comerciais, dos treinos, dos espetáculos, a Diana consegue ter tempo para si?
– Não tenho férias há um ano e meio. Até as folgas são para tratar do avião, para treinar, para os espetáculos e para toda a logística associada. Tenho feito grandes sacrifícios, porque sou eu e o João que tratamos de tudo. Na verdade, o João sacrifica-se tanto ou mais do que eu porque, no final, não tem o prazer de fazer o mesmo que eu. O João sacrifica-se para me apoiar, o que é notável. Os sacrifícios estendem-se também à família e aos amigos, com os quais tenho muito pouco tempo para estar. Se já é difícil a um piloto conciliar o trabalho com a vida social e familiar, a quem acumula, como eu, a acrobacia aérea, só resta deixar o meu eu um bocadinho de lado [risos].